Zuckerberg revela que Meta vê TikTok como ameaça urgente

Mark Zuckerberg, a primeira testemunha no julgamento da Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC), que visa desmantelar seu império nas redes sociais, compartilhou uma visão rara sobre suas estratégias empresariais: é uma luta pela sobrevivência, mesmo quando sua empresa parece estar à frente.

Durante um intenso processo de três dias de depoimentos, o cofundador e CEO da Meta Platforms expôs claramente como o mercado de redes sociais evoluiu rapidamente — uma evolução que, se o juiz concordar, pode tornar difícil para a FTC provar que a Meta domina o setor.

Zuckerberg demonstrou calma, mas foi ocasionalmente evasivo ao ser questionado sobre e-mails antigos e outras mensagens privadas que indicavam um esforço coordenado para eliminar concorrentes. Essas comunicações, coletadas antes do julgamento, revelaram um executivo cauteloso em relação aos rivais e com a disposição de comprar concorrentes sempre que possível.

A FTC está pressionando para forçar a Meta a se desfazer do Instagram e do WhatsApp, alegando que essas aquisições proporcionaram a Meta um monopólio ilegal em partes do setor de redes sociais. Documentos e e-mails apresentados no julgamento mostraram que a Meta, na época conhecida como Facebook, teve dificuldades para competir durante a ascensão dos aplicativos móveis no início dos anos 2010, adquirindo concorrentes bem-sucedidos. A FTC alega que as aquisições serviram para eliminar ameaças competitivas diretas.

Concorrência Diversificada

Os advogados de Zuckerberg e da Meta, por outro lado, argumentaram que a empresa enfrenta diversos concorrentes para a atenção dos usuários, como o TikTok da ByteDance, YouTube do Google, iMessage da Apple e LinkedIn da Microsoft. Na quarta-feira, Zuckerberg salientou que o TikTok, em especial, representou uma ameaça competitiva “extremamente urgente” quando surgiu em 2018.

“Observamos uma desaceleração dramática em nosso crescimento à medida que o TikTok se tornava popular”, afirmou Zuckerberg. “Isso se tornou uma prioridade máxima para a empresa por vários anos.” Em resposta, a Meta lançou um concorrente direto, chamado Reels, que atualmente gera um tráfego significativo de vídeo para a empresa.

Durante os três dias de depoimento, Zuckerberg foi, por vezes, vago e contestou frequentemente as interpretações da FTC sobre suas mensagens anteriores. Como líder, sua comunicação com a equipe é frequentemente direta e incisiva, e ele dedicou tempo no tribunal para tentar esclarecer o que escreveu anteriormente. Em um momento, teve um embate com o advogado principal da FTC, Daniel Matheson, que questionou a falta de respostas diretas às suas perguntas.

O impacto das mensagens antigas permanece incerto, enquanto o juiz do distrito dos EUA, James Boasberg, se prepara para tomar sua decisão. A Meta sustentou que a intenção por trás das aquisições não é o que importa, mas sim se essas transações causaram danos aos consumidores, o que a empresa contesta.

Boasberg reconheceu que a FTC enfrenta desafios. Embora tenha permitido que grande parte do caso prosseguisse desde novembro passado, o juiz se mostrou cético em relação às chances da FTC. “Vencer aqui, no entanto, não atenua o fato de que a Comissão enfrenta questões difíceis sobre a sustentação de suas alegações no tribunal”, observou o juiz. “Na verdade, em alguns momentos, suas posições esticam os precedentes antitruste deste país até seus limites.”

Boasberg também ressaltou, antes do julgamento, que a FTC deve provar que a Meta está atualmente prejudicando a concorrência.

Sheryl Sandberg, ex-diretora de operações da empresa, seguiu Zuckerber no tribunal, enfrentando questionamentos contundentes da advogada da FTC, Susan Musser.

Caso a FTC prevaleça, desmantelar o Instagram e o WhatsApp abalaria anos de integração entre esses aplicativos, prejudicando dois dos produtos digitais mais populares do mundo e possivelmente destroçando centenas de bilhões de dólares em valor de mercado da Meta. Isso também levantaria sérias questões sobre como o governo avalia e aprova negócios, especialmente porque permitiu que essas transações ocorressem anteriormente.

“Efeitos de Rede”

Uma parte crucial do caso da FTC envolve o conceito técnico de “efeitos de rede”, que implica que quanto mais usuários uma empresa tem, mais provável é que mantenha uma posição dominante, uma vez que as pessoas tendem a evitar plataformas com menos usuários.

O juiz Boasberg se manteve em grande parte em silêncio durante o depoimento, mas interveio durante o interrogatório de Zuckerberg para questionar a relevância dos efeitos de rede. “Como isso é importante se seus amigos estão em uma plataforma específica, sendo que você pode compartilhar conteúdo fora dessa plataforma? Por que isso é relevante?”, questionou o juiz.

Zuckerberg respondeu que a relevância é diminuída. “Esses aplicativos agora atuam principalmente como motores de descoberta”, enfatizou. “As pessoas podem atravessar esse conteúdo para motores de mensagens.”

Apoio de uma Empresa Maior

Quando questionado pelo advogado da Meta, Mark Hansen, Zuckerberg negou o argumento da FTC de que a Meta adquiriu o Instagram para eliminar um concorrente. Ele argumentou que o Instagram é um serviço muito mais dinâmico devido ao apoio que recebeu. “O Instagram tornou-se uma plataforma significativamente mais vibrante como resultado do acordo”, declarou Zuckerberg.

Levar uma pequena plataforma online a um bilhão de usuários e mais é improvável que ocorra sem o suporte de uma empresa maior, observou. “Toda empresa que atingiu este nível de escala é de propriedade de uma empresa maior”, ele disse, citando o TikTok e o YouTube como exemplos.

Mais cedo no julgamento, descobriu-se que Evan Spiegel, da Snap Inc., rejeitou uma oferta de aquisição de US$ 6 bilhões do Facebook em 2013 para seu aplicativo Snapchat. Zuckerberg afirmou que o aplicativo teria prosperado mais rápido se tivesse se juntado à sua empresa.

Ele procurou esclarecer algumas declarações feitas em comunicações internas anteriores, reconhecendo que enviou um e-mail em 2013 mencionando que o Facebook havia bloqueado anúncios para aplicativos de mensagens como WeChat, Kakao e Line, alegando que esses serviços estavam “tentando construir redes sociais para nos substituir.” No entanto, durante seu depoimento, ele admite que “é difícil caracterizar exatamente qual era a intenção deles.”

Matheson, o advogado da FTC, também tentou mostrar que a Meta estava ciente de seus riscos antitruste anos atrás, inclusive a possibilidade de uma separação. Ele apresentou um e-mail de 2018 onde Zuckerberg sugeria considerar desmembrar o Instagram em uma empresa independente. “Com o crescimento das demandas para desmembrar grandes empresas de tecnologia, existe uma chance não trivial de sermos forçados a separar o Instagram e talvez o WhatsApp nos próximos 5 a 10 anos”, escreveu ele.

Em um determinado momento, Zuckerberg foi questionado sobre como avaliava a ameaça competitiva do Instagram e de outros na época do negócio. Ele citou uma frase famosa do ex-CEO da Intel, Andy Grove: “Somente os paranoicos sobrevivem.”