Donald Trump, figura polêmica no universo das criptomoedas, está se posicionando como um proponente da desregulamentação que pode liberar uma indústria reprimida por anos. Enquanto isso, seu memecoin ajudou a criar bilhões de dólares em riquezas instantâneas, mas não sem enfrentar críticas severas, até mesmo de setores que poderiam ser beneficiados com sua presidência.
Os executivos financeiros que se reúnem em Davos nesta semana estão optando por focar em projetos mais substanciais do que nas especulações geradas pelo memecoin. A crença deles é que Trump poderá facilitar a criação de legislações que incentivem a entrada de grandes empresas no universo dos criptoativos, algo que grandes instituições, como JPMorgan Chase e BlackRock, já começaram a trilhar.
Jenny Johnson, CEO da Franklin Templeton Investments, se mostrou otimista em entrevista à Bloomberg Television, afirmando que a convergência entre as finanças tradicionais e as criptomoedas é indispensável: “Acho que começaremos a ver uma fusão entre o TradFi e o cripto, o que é algo absolutamente necessário.”
No entanto, o crescimento explosivo do memecoin de Trump arrisca complicar sua agenda como defensor das criptomoedas.
Após um lançamento que resultou em um valor de mercado de 15 bilhões de dólares, o token caiu quase 50%. Jaret Seiberg, analista da TD Cowen, alertou que esse fenômeno pode energizar a oposição democrata e dificultar a aprovação de legislação favorável a ativos digitais no Congresso.
Segundo Seiberg, “qualquer obstáculo à aprovação de um projeto de lei bipartidário é prejudicial para o setor de cripto.”
A flutuação no preço do Bitcoin, a principal criptomoeda, destaca o que está em jogo no segundo mandato de Trump. O esperado apoio ao cripto não foi evidente nas ordens executivas iniciais que ele emitiu após assumir o cargo, gerando incerteza no mercado.
Uma nova abordagem
Tradicionalmente, instituições financeiras mostraram-se relutantes em entrar no mundo das criptomoedas, preferindo explorar a tecnologia de blockchain de forma mais cautelosa e com resultados limitados. Grandes bancos consideravam o setor uma sinônimo de fraudes e se viam confrontados por uma regulamentação que inviabilizava a manutenção de ativos digitais.
No entanto, o cenário começou a mudar com a introdução de fundos negociados em bolsa que investem diretamente em Bitcoin, os quais tiveram sucesso imediato, acumulando 121 bilhões de dólares, liderados pelo ETF iShares Bitcoin Trust da BlackRock.
Duas iniciativas fundamentais contribuíram para isso. Primeiro, a União Europeia implantou regulamentações que promovem um ambiente mais claro para a interação com os criptoativos. Em segundo lugar, a aprovada postura de Trump para desregulamentar a indústria chamou a atenção e injetou 135 milhões de dólares em campanhas políticas favoráveis ao setor.
Alinhamento político favorável
Após sua vitória eleitoral, Trump demonstrou suas intenções ao nomear defensores das criptomoedas para cargos estratégicos, como Howard Lutnick, CEO da Cantor Fitzgerald, como secretário de comércio. Para os executivos em Davos, a expectativa gira em torno de um quadro regulatório que esclareça questões relativas à custódia dos ativos digitais.
“As instituições financeiras estão questionando sua capacidade de custódia das criptomoedas”, comentou Ron O’Hanley, CEO da State Street. “Até agora, isso foi um desafio devido às regras contábeis atuais. No entanto, se essa situação mudar, a custódia de criptoativos com certeza será de nosso interesse.”
A moeda de Trump, muitas vezes vista como um meme e caracterizada por sua volatilidade, pode se transformar em uma distração política. Críticos já a rotularam como uma violação das normas éticas e um potencial campo fértil para conflitos de interesse, abrangendo até relações com governos estrangeiros. Segundo Seiberg, isso pode gerar impasses políticos em Washington.
Os democratas exigirão esclarecimentos sobre as intenções e os investimentos relacionados à moeda, enquanto os republicanos provavelmente se posicionarão contra essas investigações, aumentando as tensões partidárias e dificultando um consenso sobre a regulamentação do mercado cripto.
Embora alguns líderes em Davos tentem se distanciar da controvérsia em torno da moeda de Trump, ressaltando suas abordagens cautelosas ao setor, a relação entre inovação e segurança continua a ser a maior preocupação dos executivos. O CEO da ABN Amro, Robert Swaak, pontuou que as criptomoedas merecem atenção, mas a confiança na segurança delas é essencial para sua adoção ampla. Ele até mesmo expressou seu ceticismo quanto à maturidade do memecoin de Trump, bem como uma perspectiva de evolução necessária nessa área.
Ele terminou sua declaração entre risadas, reforçando a incerteza associada a este novo ativo.

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