A United Airlines tomou uma decisão ousada: fornecer não uma, mas duas estimativas distintas de lucros, refletindo sua indecisão sobre a economia americana. Enquanto a projeção otimista para 2025 é de lucros de até US$ 13,50 por ação, a companhia não hesita em informar que uma recessão poderia reduzir este número pela metade.
Recentemente, a empresa anunciou que espera um lucro ajustado que varia de US$ 11,50 a US$ 13,50 por ação, caso o panorama econômico continue inalterado. No entanto, em um cenário de recessão, os ganhos podem despencar para apenas US$ 7 por ação.
A notícia reverberou nas bolsas: as ações da United dispararam 5,2% após o fechamento do pregão, sinalizando um alívio, pois a companhia se declara otimista mesmo diante de uma possível recessão econômica. Para se ter uma ideia, as ações da United já caíram aproximadamente 32% este ano, uma queda que supera em três vezes a do S&P 500 no mesmo período. Companhias como American Airlines e Delta Air Lines também registraram altas no mesmo dia.
O analista George Ferguson, da Bloomberg Intelligence, comentou: “Mesmo em seu cenário pessimista, eles falam sobre US$ 2,6 bilhões em lucros. Isso não parece um ambiente terrível para mim.” É notável que essa abordagem de múltiplos cenários é rara no mercado; Ferguson afirma nunca ter visto uma empresa adotar tal estratégia.
No entanto, o bom desempenho esperado da indústria aérea está sob pressão, especialmente com as tensões da guerra comercial liderada pelo presidente Donald Trump, que impactam a confiança de consumidores e empresas. Recentemente, a Delta retirou sua previsão financeira para 2025 devido a essa incerteza, o que leva a um crescimento de receita que evidencia sinais de estagnação. Na mesma linha, a controladora da Frontier Airlines também revisou suas expectativas de lucro devido ao clima econômico instável.
A instabilidade das políticas comerciais, que frequentemente mudam da imposição de tarifas ao relaxamento das mesmas, tem dificultado para as empresas preverem a demanda. A própria United reconhece a dificuldade em prever o ambiente macroeconômico, descrevendo-o como “impossível de antecipar com qualquer grau de certeza”.
A decisão da United de oferecer duas projeções de lucro ressalta a importância de diversificar abordagens no planejamento, conforme destacou Mohamed El-Erian, presidente do Queens’ College, Cambridge, em um post nas redes sociais.
Apesar das preocupações, a United reporta reservas estáveis, com um aumento de 17% nas vendas em cabines premium nas últimas semanas e um crescimento de 5% nas vendas internacionais em relação ao ano anterior. O lucro ajustado no primeiro trimestre foi de 91 centavos por ação, superando as expectativas de Wall Street, que eram de 74 centavos.
A companhia também revelou que espera um lucro ajustado para o segundo trimestre entre US$ 3,25 e US$ 4,25 por ação, em comparação com uma média de US$ 3,97 das projeções de analistas.
No entanto, a administração Trump, com seus cortes de emprego e alterações nas políticas de fronteira, já deixou suas marcas nas reservas para viagens nacionais. A United anunciou que reduzirá seus voos em quatro pontos percentuais a partir do próximo trimestre e continuará ajustando operações em dias de baixa demanda. Na verdade, a companhia já havia mencionado que anteciparia a aposentadoria de 21 aeronaves.
O futuro das companhias aéreas americanas agora depende de um elemento crucial: a efetividade das tarifas para mitigar as ansiedades do mercado e evitar uma desaceleração em seus lucrativos voos internacionais e de longa distância.

You must be logged in to post a comment Login