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Ucrânia utiliza mísseis dos EUA em ataque inédito no território russo
A Ucrânia fez seu primeiro ataque com mísseis dos EUA, enquanto Putin atualiza a doutrina nuclear. A guerra se intensifica com novos desafios no campo de batalha.
As forças ucranianas realizaram um ataque significativo em território russo, utilizando pela primeira vez os mísseis ATACMS fornecidos pelo Ocidente. O alvo foi uma instalação militar na região ocidental de Briansk e a notícia foi confirmada pelo Ministério da Defesa da Rússia, conforme reportado pela agência de notícias Interfax. Este evento marca um ponto crítico após a decisão da administração Biden de autorizar o uso restrito dos mísseis por Kiev para atacar alvos dentro da Rússia, um desenvolvimento importante a apenas dois meses da posse de Donald Trump, que promete um fim rápido para a guerra.
O Estado-Maior da Ucrânia também anunciou um ataque a um armazém na cidade de Karachev, resultando na explosão de munições armazenadas, a cerca de 115 quilômetros da fronteira ucraniana. Apesar disso, tanto o Estado-Maior quanto o Ministério da Defesa da Ucrânia optaram por não divulgar quais mísseis foram usados, alegando sigilo. Por sua vez, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que suas defesas derrubaram cinco mísseis e não houve relatos de feridos.
Enquanto isso, Putin tomou uma medida drástica ao assinar um novo decreto que permite o uso de armas nucleares em resposta a ataques convencionais que ameacem a soberania da Rússia. Isso inclui ataques por drones, e o documento também estabelece que qualquer agressão contra a Rússia ou aliados por um estado não nuclear, com suporte de uma potência nuclear, será considerada um ataque em conjunto. Esta atualização foi uma promessa cumprida por Putin após a revisão de sua doutrina em setembro.
O mercado reagiu com nervosismo, com os títulos e moedas tradicionais de refúgio, como o iene japonês e o franco suíço, apresentando uma forte alta, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA caíam significativamente. O iene valorizou-se em 0,8% em relação ao dólar e o franco atingiu seus níveis mais altos em relação ao euro desde agosto.
Agora, com a guerra se aproximando de seu milésimo dia e sem que nenhum dos lados consiga uma vitória decisiva, cresce a percepção entre os aliados de Kiev de que o presidente Zelensky deverá fazer concessões para encerrar os combates. Embora Trump ainda não tenha delineado seus planos para a guerra, seu possível retorno à presidência levanta preocupações sobre um corte no apoio dos EUA, levando ambos os lados a buscarem fortalecer suas posições para potenciais negociações.
O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, destacou que a Rússia considerará um ataque ucraniano com mísseis ocidentais como uma ação conjunta de um estado não nuclear apoiado por uma potência nuclear. “A Federação Russa se reserva o direito de utilizar armas nucleares em caso de agressão com armas convencionais, que constitua uma ameaça crítica à nossa soberania ou integridade territorial”, afirmou Peskov, conforme reportado pela agência de notícias estatal Tass.
Putin também advertiu os EUA e aliados europeus sobre as consequências de permitir que a Ucrânia execute ataques profundos no território russo, utilizando armamento de alta precisão fornecido pelo Ocidente, o que poderia levar a um confronto direto.
“Aguardando um milagre”
A Ucrânia tem utilizado drones caseiros para atacar alvos na Rússia há meses, mas o uso de mísseis dos EUA representa um salto qualitativo na capacidade de ataque. Em junho, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador dos EUA, alegando que os mísseis ATACMS ucranianos haviam atacado Sevastopol, cidade da Crimeia anexada pela Rússia em 2014.
Autoridades ucranianas reiteraram a necessidade de poder atacar as bases aéreas e aeronaves russas, que são cruciais para os bombardeios. No final de semana, a Rússia lançou um de seus maiores ataques com mísseis e drones desde o início da guerra, resultando em danos significativos ao fornecimento de energia e água.
O presidente Zelensky, em seu discurso ao parlamento, pediu unidade nacional e reafirmou a posição de que a Ucrânia não abrirá mão de seus direitos territoriais. “Enquanto o mundo aguarda um milagre de Trump, você e eu devemos trabalhar duro”, afirmou ele aos legisladores na assembleia em Kiev, sem mencionar os ataques recentes ou o uso de mísseis dos EUA.
O ataque à região de Briansk ocorre em um momento em que líderes do Grupo dos 20 se reúnem no Brasil, com a ausência tanto de Zelensky quanto de Putin.
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