Uma medida tributária polêmica no megapacote fiscal do presidente Donald Trump pode resultar em uma drástica queda de 5% no valor do dólar. O alerta foi feito por Ludovic Subran, diretor de investimentos da Allianz, que destacou que essa mudança poderia provocar uma forte reação negativa nos mercados se vier a se concretizar.
A referida provisão, que faz parte da legislação aprovada pela Câmara dos Deputados dos EUA em maio e é conhecida como Seção 899, é “exatamente aquilo que muitos não se detêm a analisar profundamente”, afirmou Subran em uma entrevista à Bloomberg TV nesta terça-feira (3). Essa alíquota tributária aumentaria as taxas para indivíduos e empresas oriundos de países que seus critérios considerem fiscalmente “discriminatórios”.
Se essa medida fosse aplicada, seria um verdadeiro “momento assustador” para os mercados financeiros, segundo Subran, que prevê uma possível queda de até 10% nas ações, bem como um aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA em meio ponto percentual.
A importância desse tema é sublinhada pelo fato de investidores estrangeiros detêm cerca de US$ 31 trilhões em títulos de longo prazo e outros ativos nos EUA. “Atualmente, não vejo os mercados refletindo a total implementação do Artigo 899, então, caso isso aconteça, poderá gerar um susto real nos ânimos do mercado”, acrescentou.
Na opinião do especialista, a proposta representa uma forma de “controle de capital”, o que levanta preocupações quanto à confiança dos investidores estrangeiros em relação a ativos como os títulos do Tesouro. A avaliação predominante em Wall Street é que essa medida pode desencorajar ainda mais os investidores internacionais, especialmente num cenário onde a confiança neles já foi abalada pelas políticas comerciais volúveis de Trump e pelo aumento das preocupações com as contas fiscais do país.
O risco de uma fuga de capital estrangeiro foi destacado pelo Comitê Conjunto de Tributação do Congresso, um órgão independente responsável por oferecer previsões financeiras. O JCT prevê que a nova alíquota poderá arrecadar US$ 116,3 bilhões em receita nos próximos dez anos, mas também reduziria a receita tributária anual em US$ 12,9 bilhões nos anos de 2033 e 2034.
Embora os republicanos do Senado estejam analisando as consequências dessa proposta antes de sua aprovação, o líder da maioria, John Thune, declarou que são necessárias cautelas antes de qualquer decisão final. Ao mesmo tempo, um influente negociador tributário republicano da Câmara manifestou esperanças de que essa medida nunca seja efetivamente aplicada.
Conforme ressaltou o porta-voz do Comitê de Meios e Recursos da Câmara, JP Freire, a proposta não incluiria juros de portfólio, como os dos títulos do Tesouro, revelando assim incerteza em relação ao seu escopo geral.
Saídas de capital nesse contexto iriam na contramão das medidas de Trump visando estimular investimentos de longo prazo nos EUA, aumentando as chances de que essa proposta seja eventualmente retirada. Isso pode explicar por que os mercados mostraram relutância em considerar o risco real dessa medida até o momento, segundo Subran.
Em suma, o impacto dessa abordagem pode “aniquilar completamente o que ele pretende realizar em sua agenda política”, finalizou.
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