Em um cenário global onde medidas econômicas já foram abusadas, a recente proposta de Donald Trump envolvendo a Nvidia (BDR: NVDC34) e a AMD (A1MD34) gera alarmes entre especialistas em comércio internacional.
As gigantes da tecnologia concordaram em repassar 15% de sua receita ao governo dos EUA por vendas de chips específicos destinados à China. Estes chips, o H20 AI Accelerator da Nvidia e o MI308 da AMD, estavam anteriormente proibidos e requerem licenças para exportação.
“Chamar isso de incomum ou sem precedentes seria um eufemismo chocante”, afirmou Stephen Olson, ex-negociador comercial dos EUA e membro do ISEAS – Yusof Ishak Institute. “Estamos presenciando a monetização da política comercial americana. Se as empresas dos EUA precisam pagar ao governo para exportar, então entramos em um mundo novo e perigoso.”
Esse acordo é uma das várias intervenções controversas desde que Trump voltou ao cargo. Sua administração não apenas impôs tarifas caóticas, mas também utilizou suas redes sociais para controlar os CEOs e comentar sobre campanhas publicitárias corporativas.
A abordagem transacional já era evidente quando Trump apoiou a venda da United States Steel Corp. para a Nippon Steel Corp., um acordo de US$ 14,1 bilhões que exigia condições rigorosas. Países como Japão e Coreia do Sul prometeram investir bilhões em troca de tarifas limitadas, enquanto a Apple se isentou de tarifas comprometendo-se a investir enormes quantias nos EUA.
De acordo com Deborah Elms, da Hinrich Foundation, o acordo com a Nvidia e AMD pode inspirar a Casa Branca a mirar em outros setores. “O céu é o limite”, alertou. “Imagine o quanto mais pode ser cobrado diretamente.”
Embora a Nvidia e a AMD tenham aceitado os termos, a legalidade do arranjo é questionável, similar a um imposto sobre exportação, o que é inconstitucional nos EUA.
Além disso, Trump já enfrenta um processo por utilizar a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional para impor tarifas “recíprocas”. Na última sexta-feira, advertiu sobre uma “GRANDE DEPRESSÃO” caso suas tarifas sejam consideradas ilegais.
Os chips estão no epicentro da colisão entre EUA e China, especialmente em setores de alta tecnologia. O governo Biden havia restringido chips avançados para a China, levando a Nvidia a desenvolver o H20. Contudo, as barreiras foram endurecidas pelos representantes de Trump.
Mês passado, porém, a Casa Branca permitiu que Nvidia e AMD retomassem vendas de chips destinados ao mercado chinês, de um tipo menos avançado. O secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse que a estratégia era fazer com que os desenvolvedores chineses dependessem da tecnologia americana.
Embora isso tenha causado reações negativas na China, especialmente após os EUA implementarem rastreadores de tecnologia, a demanda chinesa pelos chips americanos continua alta. Isso pode resultar em lucros para Nvidia e AMD, além de gerar mais receitas para o governo dos EUA.
A trégua comercial de 90 dias entre EUA e China, que termina em 12 de agosto, ainda não foi estendida. Lutnick reconheceu que a pausa “provavelmente” se manterá enquanto as negociações proseguem, com possibilidades de Trump e Xi Jinping se encontrarem ainda este ano.
“A postura do governo em relação à segurança nacional parece estar mudando à medida que avançamos nas negociações”, analisou Drew DeLong, da consultoria Kearney.
Embora os EUA tenham intervenções em empresas privadas antes, um acordo como o firmado com Nvidia e AMD é difícil de se recordar e, sem supervisão, pode criar um “capitalismo de compadrio”, advertiu Scott Kennedy, do Center for Strategic and International Studies.
“Isso representa uma enorme mudança na economia americana”, ressaltou Kennedy. “Isso não agradará a ninguém, exceto talvez aos chineses, que receberão seus chips enquanto o sistema político americano se debate em meio a suas tensões internas.”
©️2025 Bloomberg L.P.

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