Desde sua criação, o BRICS, que une Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, enfrentou dificuldades em alinhar um propósito coletivo. O que era um entrave, parece ganhar uma nova perspectiva com as recentes tarifas impostas pelo presidente Donald Trump.
No último fim de semana, os líderes do BRICS se encontraram no Rio de Janeiro para uma cúpula liderada por Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa é que assinem uma declaração conjunta condenando “a ascensão de medidas protecionistas unilaterais injustificadas” e o “aumento indiscriminado” das tarifas. Este foi um consenso alcançado anteriormente pelos ministros das Relações Exteriores e, segundo relatos, essa mensagem estará presente no comunicado final da cúpula.
Embora as menções diretas aos EUA possam ser evitadas, o grupo claramente está se posicionando contra a administração Trump, especialmente com o prazo para o início das tarifas se aproximando. O embaixador sul-africano Xolisa Mabhongo declarou que “essas tarifas não são produtivas”, ressaltando que “não são benéficas para a economia mundial nem para o desenvolvimento”.
Enquanto Trump aliena seus aliados tradicionais e promove sua política “América em Primeiro Lugar”, o BRICS tenta se afirmar como um espaço vazio deixado por EUA. O bloco agora se apresenta como defensor do livre comércio e do multilateralismo, em vez de um opositor.
Além disso, a China se comprometeu a colaborar com os membros para reforçar a parceria estratégica no BRICS e proteger o multilateralismo. No entanto, mesmo com esta nova fonte de unidade propiciada pela pressão externa, o grupo ainda enfrenta limitações na influência global que tanto almeja.
Vale notar que a cúpula não contará com a presença dos líderes da China e da Rússia. Xi Jinping e Vladimir Putin decidiram não comparecer para evitar constrangimentos ao governo brasileiro, que enfrenta dilemas diplomáticos complexos.
O BRICS, fundado em 2009, ainda carece de valores compartilhados entre seus membros, que possuem pouco em comum além do desejo de uma voz mais ativa nos assuntos globais. Apesar da expansão para incluir novos países como Egito, Etiópia e Irã, as divergências internas podem se acirrar. A divisão entre antigos e novos membros é evidente, especialmente em temas como a liderança no Conselho de Segurança da ONU.
A elevação do comércio entre os cinco países fundadores do BRICS destaca uma crescente interdependência. Com um aumento de 40% entre 2021 e 2024, atingindo impressionantes US$ 740 bilhões, a pressão dos EUA parece estar incentivando novos diálogos e parcerias.
Por outro lado, Trump também criou um dilema intrigante ao ameaçar tarifas de 100% sobre o comércio com o BRICS. Esta tensão não apenas força o bloco a buscar novas estratégias comerciais como também levanta discussões sobre sistemas de pagamento que minimizem a dependência do dólar.
Os líderes esperam que essa cúpula resulte em propostas concretas, especialmente na questão climática, que foi deixada em segundo plano pela saída dos EUA do acordo de Paris. A China continua a se aproximar de outras nações do BRICS nesse assunto, buscando consolidar sua imagem como um parceiro confiável.
Um foco importante da cúpula será o financiamento climático, uma primeira proposta em um momento delicado, onde os membros debatem também a natureza da declaração conjunta. A Índia acredita que não haverá grandes dificuldades para chegar a um consenso.
Em um cenário onde o BRICS busca provar seu valor e unidade, as ausências significativas de líderes como Xi Jinping podem prejudicar essa narrativa.

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