Tradicionalmente, os títulos do Tesouro americano (treasuries) são considerados a âncora da estabilidade financeira. Porém, a realidade recente mostra que as oscilações nos preços desses títulos estão superando a volatilidade das ações, rompendo uma norma que perdurou por quase duas décadas.
Um recente indicador de volatilidade revelou que, pela primeira vez desde 2005, o principal ETF de treasuries do mundo alcançou níveis de volatilidade superiores ao do maior fundo de ações, o que é um sinal claro de mudança no mercado, já que historicamente os treasuries eram mais estáveis.
No último mês, a volatilidade implícita de três meses do ETF iShares 20+ Year Treasury Bond (TLT), com gestão de US$ 39 bilhões, superou em mais de 4 pontos percentuais o do SPDR S&P 500 ETF (SPY) de US$ 397 bilhões. Isso é um sinal perturbador, pois normalmente os títulos são vistos como um porto seguro, mas agora estão apresentando oscilações significativas.
Os treasuries são fundamentais nas carteiras de investimentos devido à sua reputação como ativos seguros, que garantem um fluxo constante de renda e funcionam como um amortecedor contra os riscos do mercado acionário.
No entanto, a política de aperto monetário agressiva do Federal Reserve (Fed) e o aumento na emissão de treasuries para financiar déficits crescentes estão causando perdas históricas nos títulos de longo prazo. Além disso, as tensões no Oriente Médio estão alimentando ainda mais as incertezas no mercado.
“A volatilidade está fora de controle”, afirma Ben Emons, gestor sênior de portfólio da NewEdge Wealth. “As pessoas estão tratando os títulos como se fossem ações.”
Essa situação de alta volatilidade tornou-se evidente nesta semana, quando, após dados de inflação e um leilão de títulos fraco, os rendimentos dos treasuries de 30 anos dispararam 16 pontos-base na quinta-feira (12), a maior alta desde os distúrbios no mercado no início da pandemia, em março de 2020.
Na sexta-feira (13), os rendimentos se recuperaram parcialmente, pois os investidores se preparavam para possíveis ações militares de Israel na Faixa de Gaza.
Além disso, as perdas nos títulos estão superando drasticamente as das ações. Nos últimos dois anos, o ETF TLT sofreu uma queda de 37%, enquanto o SPY teve um ganho modesto de 3%. Apesar dessas perdas, os investidores continuam a apostar no TLT, acreditando em uma recuperação quando os rendimentos começarem a declinar.
Por outro lado, a volatilidade relativamente baixa das ações sugere que os investidores esperam que a economia dos EUA permaneça resiliente frente ao aumento das taxas de juros. Contudo, o risco persiste: um novo aumento nos rendimentos dos títulos pode apertar as condições financeiras o suficiente para comprometer o crescimento econômico e os lucros das empresas.
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