A Suzano, um titã brasileiro do setor de celulose e papel, está se lançando em uma jornada de globalização. Seu maior comprador é a China, mas as maiores oportunidades estão nos Estados Unidos e na Europa. A empresa está consciente das tensões comerciais que marcam a geopolítica atual, especialmente sob a administração de Donald Trump.
Com suas plantações de eucalipto, a Suzano não apenas produz tudo, de livros a papel higiênico, mas também tem um impacto direto na vida de 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo. Executivos da empresa afirmam ter um plano sólido para enfrentar essas tempestades comerciais, que pode servir de modelo para outras companhias.
A estratégia da Suzano é clara: expandir sua presença em múltiplas fronteiras. Nos Estados Unidos, a empresa realizou aquisições modestas após uma tentativa frustrada de adquirir a International Paper por US$ 15 bilhões no ano anterior. Na China, a mudança para Xangai visa estabelecer novas relações com fornecedores locais, além de ter emitido títulos em yuan. Recentemente, a Suzano também fez um movimento ousado ao adquirir uma participação no negócio global de papel tissue da Kimberly-Clark em um negócio de US$ 3,4 bilhões, aumentando assim sua presença na Europa.
“A nossa estratégia não considera limites geográficos”, disse o CEO, João Alberto Abreu. “Estamos sempre avaliando novas oportunidades.”


Abreu admitiu que as tarifas impostas pelo governo Trump podem representar um desafio ao crescimento global. Contudo, essa perspectiva é compartilhada por empresários que, como ele, buscam maneiras de capitalizar sobre as especificidades do mercado brasileiro, conhecido por sua rica oferta de commodities.
O Brasil, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, se posiciona em um ponto estratégico, evitando tomar partido na luta comercial entre EUA e China. Essa abordagem é respaldada por David Feffer, presidente da Suzano, que acredita na necessidade de profissionalização da gestão em uma era de volatilidade comercial.
Os investidores da Suzano, embora inicialmente preocupados com a tendência de baixa nos preços globais da celulose, mostraram reações positivas após o anúncio do acordo com a Kimberly-Clark, impulsionando suas ações em mais de 6% e atenuando suas perdas anuais para 14%.
Embora haja uma pressão crescente para aumentar os preços nos EUA, a Suzano não conseguiu acompanhar a expectativa do mercado. Os preços da celulose na China, seu mercado principal, também caíram, conforme relatórios do BTG Pactual. Isso causou um impacto negativo no desempenho das ações da empresa em relação ao índice Ibovespa.
Entretanto, analistas, como Lucas Laghi da XP Inc., apontam que o verdadeiro potencial da Suzano não foi refletido em seu preço atual de ações. “Ainda vemos a Suzano como uma das melhores oportunidades no setor de commodities,” afirmou.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização da Suzano deve superar 23,8 bilhões de reais (US$ 4,2 bilhões) em 2024, sinalizando um crescimento de mais de 30% em comparação ao ano anterior. Mesmo com a pressão sobre os preços, as previsões apontam para um crescimento de 4% em 2024 e 16% até 2026.
Dentre os analistas acompanhados pela Bloomberg, 17 dos 18 recomendam a compra das ações da Suzano, prevendo um retorno de 41% nos próximos 12 meses, posicionando-a entre as melhores ações do Brasil.
Luisa Vilhena, da S&P Global Ratings, observa que “a estratégia da Suzano permanece inalterada, o que é positivo diante de suas capacidades de geração de caixa, mesmo em tempos difíceis.”
A Suzano não conseguiu concretizar a aquisição da International Paper por não estar disposta a pagar um valor excessivo. Desde então, a empresa concentra esforços na defesa de seu mercado interno e na procura de oportunidades menores, mantendo sua filosofia de crescer de forma estruturada.
Para Feffer, a estratégia é clara: descentralizar, internacionalizar e verticalizar, tanto na China quanto nos EUA.
Os laços comerciais com a China permanecem robustos, e a Suzano está comprometida em manter suas relações com clientes chineses para garantir sua competitividade, mesmo enquanto concorrentes como a chilena Celulosa Arauco y Constitución planejam expansão.
Abreu também alertou: “Novas fábricas estão surgindo no Brasil”. A meta é manter uma participação de 30% do mercado, destacando-se pela eficiência de produção de celulose.
Nos EUA, compradores representam cerca de 20% das vendas de celulose da Suzano. Após a perda da International Paper, a empresa procurou alternativas, explorando acordos com a Clearwater Paper Corp. e analisando a aquisição de ativos da Rand-Whitney Group, mas acabou adquirindo uma fábrica no Arkansas e uma unidade de extrusão na Carolina do Norte da Pactiv Evergreen.
Diversificação é essencial no setor, visto que as flutuações demográficas e econômicas impactam a demanda na China. O analista Andres Padilla do Rabobank destaca que “abrir canais com todos é crucial para não se tornar dependente de um único bloco.” A Suzano tem uma oportunidade ímpar de solidificar suas relações comerciais existentes.
A Suzano também visa mudar sua cadeia de suprimentos, persuadindo empresas de papel da América do Norte e Europa a adquirirem celulose de madeira dura de baixo custo produzida no Brasil, uma tarefa desafiadora, já que muitos competidores geram sua própria celulose.
Entretanto, a Suzano possui algumas das operações mais eficientes do mundo, permitindo que mantenha rentabilidade mesmo em cenários de preços baixos. A fibra de madeira macia do Hemisfério Norte está se tornando mais cara, o que atrai alguns produtores a considerar a madeira dura, especialmente no mercado de papel tissue.
Se a guerra comercial entre EUA e China continuar, pode surgir uma vantagem para a Suzano. Com possíveis tarifas impostas a produtores americanos, o espaço de mercado estará mais acessível para a Suzano. Além disso, se as tensões dificultarem a competitividade do papel de embalagem chinês com os produtos americanos, sua nova fábrica nos EUA se tornará uma jogada estratégica.
A aquisição dos ativos da Kimberly-Clark suspenderá temporariamente os esforços de aquisição nos EUA, pois a Suzano se concentra em otimizar seus investimentos por um período de dois a três anos.
Em relação ao futuro na América do Norte, o CEO Abreu colocou: “Possuímos uma operação lá que ainda precisa de expansão, mas não temos pressa para isso.”

You must be logged in to post a comment Login