Em uma votação acirrada, o Senado dos Estados Unidos aprovou o polêmico projeto de corte de impostos e gastos no valor de US$ 3,3 trilhões proposto pelo presidente Donald Trump. A decisão, ocorrida nesta terça-feira, foi impulsionada por uma mobilização intensa dos líderes republicanos, que buscavam garantir uma vitória política crucial para Trump.
O texto saiu vencedor por 51 votos a 50, com três senadores republicanos — Susan Collins (Maine), Thom Tillis (Carolina do Norte) e Rand Paul (Kentucky) — se posicionando contra. O voto decisivo veio do vice-presidente JD Vance, um movimento que agora leva o pacote à Câmara dos Representantes, onde a discussão se acirra. Este projeto, apelidado de “One Big Beautiful Bill”, integra US$ 4,5 trilhões em cortes de impostos com US$ 1,2 trilhão em cortes de gastos.
“Foi um esforço coletivo”, declarou o líder da maioria no Senado, John Thune. E, de fato, foi. A pressão sobre os senadores indecisos foi monumental, refletindo a importância política deste momento. Os republicanos já olham para as próximas eleições de meio de mandato, acreditando que aprovar esse pacote pode ajudar a manter suas maiorias no Congresso.
No entanto, a popularidade do projeto é questionável. De acordo com o Pew Research, 49% dos americanos se opõem à proposta, enquanto apenas 29% demonstram apoio, e 21% permanecem indecisos. Ou seja, o respaldo popular para as políticas de Trump não é tão robusto assim.
A Câmara deve analisar o projeto ainda esta semana, mas a concorrência por votos republicanos pode complicar a aprovação. A unânime oposição dos democratas e as divisões internas entre republicanos — que desejam mais cortes ou se preocupam com a redução de gastos em saúde — podem tornar a votação um verdadeiro campo de batalha.
Aumento na dedução de impostos estaduais e locais de US$ 10 mil para US$ 40 mil por cinco anos é um dos pontos polêmicos que já gerou discórdia, especialmente entre os parlamentares de Nova York. Além disso, as propostas de cortes para hospitais só intensificaram as vozes críticas.
Vale lembrar que qualquer alteração que ocorra na Câmara irá exigir nova votação no Senado, um fator que pode complicar ainda mais os esforços de Trump para sancionar a medida antes do feriado de 4 de julho.
Agenda de Trump em Foco
Os republicanos afirmam que este pacote não só estimulará a economia, mas também ajudará a conter a imigração ilegal e a iniciar cortes em programas como o Medicaid. O projeto adia um aumento de impostos para pessoas físicas a partir de 2026, tornando permanentes algumas reduções fiscais criadas em 2017.
No entanto, especialistas da área econômica alertam que os impactos positivos são limitados e que a medida pode agravar o déficit público, uma preocupação que não é ignorada por todos. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, expressou um alerta fundamental: “A trajetória fiscal dos EUA não é sustentável.”
O projeto inclui incentivos fiscais para gorjetas, financiamento de veículos e horas extras, além de melhorias para idosos e famílias — promessas feitas durante a campanha de Trump. Esses subsídios, no entanto, são financiados por cortes significativos em energias renováveis, evidenciando uma clara preferência pela indústria de combustíveis fósseis – algo que, por exemplo, desagradou Elon Musk, chefe da Tesla, que se manifestou contra sugestões que eliminam créditos para veículos elétricos.
Além disso, centenas de bilhões de dólares serão destinados às Forças Armadas, reiterando a prioridade de Trump em aumentar a defesa em detrimento da assistência externa, também prevendo mais recursos para a fiscalização da imigração.
Estima-se que até US$ 3,3 trilhões em cortes de impostos e novas despesas poderão ser compensados, em parte, por reduções no Medicaid, e programas como o vale-alimentação e empréstimos estudantis federais — um movimento que democratas e críticos classificam como um ataque aos mais pobres, favorecendo os ricos.
Adicionalmente, o Escritório de Orçamento do Congresso prevê que até 11,8 milhões de pessoas podem perder acesso à saúde na próxima década devido a essas medidas drásticas.
O texto também inclui um aumento no teto da dívida em US$ 5 trilhões, momento em que Trump e os republicanos utilizarão a reconciliação orçamentária para elevar o limite sem se envolver em negociações com os democratas, uma jogada que elimina a necessidade de concessões em programas sociais.
Por fim, durante os últimos estágios das negociações, senadores rejeitaram em peso uma proposta que impediria os estados de regulamentar a inteligência artificial, uma clara derrota para gigantes da tecnologia como Microsoft e Meta, que apoiavam essa abordagem.

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