Richard Teng: o novo nome à frente da Binance em meio a crises regulatórias

Se você é um seguidor do tumultuado mercado de criptomoedas, prepare-se para ouvir muito sobre Richard Teng. Ele surge como o principal candidato para substituir Changpeng “CZ” Zhao, o fundador e CEO da Binance, que pode estar prestes a deixar o comando da maior exchange de ativos digitais do mundo.

Informações de fontes bem posicionadas sugerem que Teng está à frente na corrida para ocupar o cargo de CEO, especialmente à luz da possibilidade de renúncia de Zhao.

A pressão sobre a Binance aumentou consideravelmente, com os reguladores dos EUA intensificando a vigilância sobre a exchange nos últimos meses. A Commodity Futures Trading Commission (CFTC) moveu um processo contra a Binance e Zhao, acusando-os de supostas violações das normas de derivativos.

Por sua vez, a Securities and Exchange Commission (SEC) também entrou com uma ação contra a Binance, alegando uma série de infrações, incluindo a venda de títulos não registrados e a deturpação dos controles de negociação.

A Binance se absteve de comentar sobre a potencial sucessão. Zhao, no entanto, contestou veementemente várias das alegações levantadas pela CFTC.

Desafios à vista

Apesar de continuar com volumes de negociação superiores a todos os concorrentes juntos, a posição da Binance está em perigo. Pelo menos quatro agências federais dos EUA estão investigando ou já processaram a empresa, e a pressão se estende a reguladores no Canadá e na Austrália, que estão focando atentamente as operações da exchange. Até Dubai, onde Zhao reside e é visto como um hub cripto, aumentou a fiscalização sobre empresas em busca de licenças, incluindo a Binance.

Recentemente, a Binance Australia enfrentou a retirada do suporte do provedor de pagamentos Cuscal aos depósitos em dólares australianos, e um parceiro bancário no Reino Unido deixou de oferecer suporte para transações em libras esterlinas.

É neste cenário desolador que Richard Teng, um experiente profissional de Cingapura, entra em cena. Com apenas dois anos na Binance, seu nome foi lançado ao cargo de diretor de todos os mercados fora dos EUA, atuando como uma entidade à parte sob a liderança de Zhao.

A escolha de Teng não é à toa. Seu currículo inclui passagens de destaque pelo banco central de Cingapura e pela Zona de Livre Comércio Internacional de Abu Dhabi, o que o posiciona como o candidato ideal em um momento de turbulência regulatória.

Campbell Harvey, professor de finanças da Duke University, comenta: “A nomeação de Teng é um forte sinal de que a Binance deseja cooperar com os reguladores”.

Campo minado regulatório

As ações da CFTC e da SEC representam um desafio iminente, mas não são os únicos. O Departamento de Justiça dos EUA está investigando se a Binance permitiu, de forma ilegal, que cidadãos russos burlassem sanções financeiros e movimentassem dinheiro, conforme reportado pela Bloomberg.

Além disso, a Binance anunciou planos de deixar o Canadá, após sua afiliada local tentar, sem sucesso, obter registro conforme os novos regulamentos que a tornaram “insustentável”. A empresa se vê agora envolvida em um embate com a Comissão de Valores Mobiliários de Ontário.

O histórico de Teng revela uma sólida experiência, com 13 anos no banco central de Cingapura e cargos de destaque como diretor regulador da bolsa de valores local e responsável por grandes operações no Abu Dhabi Global Market. Ele se juntou à Binance em agosto de 2021, designado rapidamente como CEO de Cingapura, uma contratação que foi ágil até mesmo para os padrões do acelerado setor cripto.

Zhao recorda que se conheceram através de um contato do banco central e rapidamente chegaram a um acordo: “Em duas semanas, fechamos o contrato”.

Desafios em Cingapura

Uma das primeiras missões de Teng na Binance foi tentar obter uma licença em Cingapura, um dos objetivos mais cobiçados no setor. Embora o esforço tenha falhado, Zhao elogiou o desempenho de Teng durante o processo, que não avançou devido ao não cumprimento das normas de combate à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo segundo noticiário da Bloomberg.

No entanto, esse revés não manchou sua trajetória. Em dezembro de 2021, Teng foi promovido a líder da região do Oriente Médio e Norte da África e, em um curto período, assumiu a supervisão da Europa e da Ásia, estabelecendo residência em Dubai, onde a Binance conta com mais de 500 colaboradores.

Do “criptonativo” ao banqueiro de elite

Em contraste com Zhao, que tem um perfil considerado mais rebelde, Teng se apresenta como um profissional com quase vinte anos de experiência em instituições governamentais. Ele chefiou um grupo na bolsa de valores de Cingapura que impunha regras em áreas essenciais, colaborando estreitamente com o banco central.

Zhao, por sua vez, viveu um estilo errante ao fundar a Binance na China em 2017, e, mais recentemente, se estabeleceu em Dubai após enfrentar uma série de investigações regulatórias que começaram nos EUA e se espalharam para outros países.

As diferenças entre os dois se refletem também na maneira como se comunicam. Enquanto Zhao se vale do Twitter para expressar suas opiniões de forma provocativa, Teng opta por um discurso mais formal, focado nas mensagens institucionais da Binance.

A velocidade da ascensão de Teng o colocou entre os mais próximos conselheiros de Zhao, incluindo He Yi, cofundadora da Binance. Em uma recente entrevista, He destacou as habilidades de Teng, dizendo: “Ele é um gestor experiente e profissional, e sua liderança tem se expandido continuamente”.

Preparando-se para a tempestade regulatória

A promoção de Teng à liderança não só evidencia a necessidade de uma nova abordagem, como também reflete um esforço mais amplo da Binance para lidar com o crescente escrutínio regulatório, particularmente após o colapso da FTX, que era vista como uma rival direta.

Neste contexto, Zhao rapidamente decidiu vender o token da FTX, o que desencadeou uma série de eventos que culminaram na falência da exchange.

Adicionalmente, a Binance este ano contratou Noah Perlman, ex-diretor de operações da Gemini Trust e ex-chefe de combate a crimes financeiros do Morgan Stanley, a fim de reforçar suas operações de compliance, que agora conta com uma equipe de mais de 750 profissionais, segundo declaração do diretor de estratégia Patrick Hillmann, em fevereiro.