A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que começou com um andamento mais lento do que muitos previam, atingiu um novo patamar. Recentemente, o presidente Donald Trump tomou uma série de medidas contra a China, e uma nova onda de ações está prevista para o próximo mês.
Ainda que a reação de Pequim tenha sido até agora contida, é fundamental entender que o presidente Xi Jinping possui várias estratégias na manga para retaliar, caso as novas ameaças de tarifas se concretizem. Contudo, é importante ressaltar que essas ações podem acarretar riscos significativos, não apenas para a economia chinesa, mas também para o mercado global.
Vamos analisar potenciais respostas de Xi às tarifas impostas por Trump, assim como os impactos que essas ações podem gerar.
1. Desvalorização do Yuan
Uma estratégia comum seria desvalorizar o yuan, o que tornaria as exportações chinesas bastante competitivas, minimizando o efeito das tarifas. Durante a primeira fase da guerra comercial, entre 2018 e 2019, o yuan perdeu 11,5% de seu valor em relação ao dólar, o que compensou boa parte do impacto das tarifas, conforme análise de economistas do Morgan Stanley.
De fato, muitos economistas acreditam que uma nova desvalorização pode ocorrer, embora as previsões sobre o grau dessa medida variem amplamente. Apesar do Banco do Povo da China manter um câmbio nominal estável, o yuan tem perdido valor real devido à deflação no país.
Risco:
Um yuan mais fraco poderia aumentar o superávit comercial da China, irritando seus parceiros comerciais e potencialmente resultando em novas tarifas. Além disso, isso poderia desencadear fuga de capitais e diminuir a atratividade do investimento estrangeiro.
2. Limitação de Exportações Estratégicas
Recentemente, em resposta às tarifas dos EUA, a China limitou as exportações de tungstênio e outros metais essenciais para indústrias cruciais, como a eletrônica e a automotiva. Pequim já havia tomado medidas mais rigorosas em relação a minerais críticos e bens de uso duplo, buscando igualar o jogo comercial às táticas americanas.
A situação é crítica, já que a China é um jogador dominante na produção global de várias matérias-primas essenciais, o que lhe confere… várias opções de retaliação.
Risco:
Restringir as exportações pode desacelerar a confiança dos parceiros comerciais na China, acelerando a diversificação de suas cadeias de suprimento e diminuindo a dependência do país.
3. Atingir Empresas dos EUA
A China já possui um histórico de implementar leis que permitem à sua administração banir ou restringir a atividade de empresas estrangeiras que não ajam nos interesses do país. Firmas como Apple, Tesla e Microsoft, que dependem fortemente do mercado chinês, estão vulneráveis a ações regulatórias.
Recentemente, a China tomou decisões drásticas, como a inclusão de empresas americanas na lista negra e a investigação de gigantes como o Google, intensificando a rivalidade no setor tecnológico.
Risco:
Retaliações contra empresas americanas poderiam desencadear ações semelhantes por parte dos EUA, além de boicotes pelos consumidores chineses que podem ser difíceis de controlar.
4. Reforçar Parcerias com Outros Países
A China busca solidificar suas relações com países aliados dos EUA como uma estratégia para mitigar os danos resultantes da deterioração nas relações com Washington, estabelecendo parcerias mais robustas com nações como Japão e Índia.
Risco:
Os aliados podem optar por se beneficiar da rivalidade entre EUA e China sem necessariamente declarar sua aliança.
5. Alienar Títulos do Tesouro dos EUA
A China possui uma quantidade significativa de títulos da dívida americana, totalizando US$ 759 bilhões. Vender esses títulos seria uma ação significativa que poderia provocar um aumento nas taxas de juros dos EUA e agitação nos mercados financeiros globais.
A redução de reservas chinesas em Treasuries já é uma tendência crescente e, com os recentes eventos globais, a aceleração dessa trajetória pode ser uma resposta viável de Pequim.
Risco:
Desvalorizar grandes quantidades de Treasuries não só desvalorizaria os ativos da China mas também poderia enfraquecer o dólar, favorecendo as exportações americanas.
Desequilíbrio de Forças
É crucial notar que a China não pode aplicar tarifas da mesma magnitude que os EUA, dado que exporta bem mais do que importa. Este superávit comercial, um dos alvos prioritários de Trump, limita as retaliações possíveis de Pequim.
Contudo, as tarifas americanas também impactariam diretamente os consumidores dos EUA, pressionando os preços para cima. Um estudo recente do Federal Reserve revela que os efeitos reais podem ser mais severos do que inicialmente previsto, dado que as importações chinesas são mais relevantes do que os dados sugerem.

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