Vladimir Putin está se dirigindo para a cúpula agendada com Donald Trump nesta sexta-feira, confiante de que sua Rússia está em posições vantajosas no campo de batalha, especialmente com o exército avançando na Ucrânia.
A expectativa é de que esse avanço fortaleça a arguição de Putin por concessões territoriais significativas durante o encontro no Alasca, caso um cessar-fogo seja aceito, algo que ele tem relutado em conceder.
Recentemente, as forças russas superaram defesas ucranianas na região de Donetsk, particularmente ao redor de vilarejos que levam à cidade de Dobropillya, conforme relatado pela plataforma de monitoramento Deep State em colaboração com o Ministério da Defesa da Ucrânia. Reportagem de segunda-feira no Telegram destaca que as tropas russas estão consolidando suas posições enquanto buscam fragilidades nas defesas ucranianas.
Na iminência do encontro, enquanto o exército russo avança, ainda não houve um impulso decisivo na campanha de verão, que tem pressionado cada vez mais as defesas ucranianas. O presidente Putin permanece inflexível frente aos apelos de Trump e de líderes europeus para um cessar-fogo que poderia abrir portas para negociações de paz, agora já em seu quarto ano de conflitos.
Segundo Marina Miron, pesquisadora militar do King’s College London, “Putin tem cartas muito mais fortes para jogar do que seus oponentes. O exército russo está em ofensiva e ditando as regras do jogo.”
Embora tenha havido pequenos avanços russos, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy afirmou que a Ucrânia está lutando para retomar o controle da área em volta de Dobropillya, adicionando que a mídia russa quer criar a impressão de vitória antes da cúpula no Alasca.
Apesar das dificuldades nas regiões de Donetsk e Zaporizhzhia, a Ucrânia conseguiu repelir tropas russas em Luhansk e na região de Sumy, onde se estima que até 30 mil soldados experientes da Rússia estejam sendo realocados para uma ofensiva iminente em várias frentes.
Trump expressou descontentamento com a falta de progresso nas negociações após seis ligações telefônicas este ano, e ameaçou implementar tarifas adicionais sobre países que importam petróleo russo, a menos que Moscou concordasse com uma trégua até a passada sexta-feira. No entanto, após uma reunião em Moscou entre Putin e o enviado dos EUA Steve Witkoff, a primeira cúpula desde o retorno de Trump à Casa Branca em janeiro finalmente foi marcada.
Enquanto Zelenskiy se prepara para uma videoconferência com Trump, há preocupações sobre como o presidente americano poderá agir em relação a Putin, especialmente nas concessões que poderiam ser feitas, conforme se discute um cessar-fogo.
Enquanto Trump pressiona pela paz, Putin exige que Kiev retire suas forças das regiões de Donetsk e Luhansk antes de qualquer trégua. Essa retirada seria um ganho significativo para Moscou, que luta para reivindicar o Donbas, uma região que almeja desde o início do conflito em 2014.
Além disso, autoridades dos EUA e da Rússia estão discutindo um possível acordo que terminaria a guerra sem mudanças na linha de fronteira, permitindo que a Rússia mantenha controle sobre partes das regiões ucranianas de Kherson e Zaporizhzhia que atualmente ocupa.
Zelenskiy foi firme em afirmar que a Ucrânia não cederá território à Rússia, reiterando que a segurança do país está entrelaçada à questão territorial, pois, nas mãos dos russos, o Donbas poderia se transformar em uma base para futuras ofensivas.
Trump, por sua vez, sugeriu que poderia haver “mudanças” territoriais em um acordo, afirmando que isso poderia envolver ajustes nas linhas de batalha.
O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, também concordou que a questão territorial deve ser levada em consideração nas negociações, embora a chefe da política externa da União Europeia, Kaja Kallas, enfatizou que não deveriam ser feitas concessões até um cessar-fogo incondicional por parte da Rússia.
A entrega de território poderia significar a perda de posições fortificadas para a Ucrânia em Donetsk e Luhansk, além de permitir que Moscou evite significativas perdas de tropas em combates prolongados.
A situação de escassez de pessoal está pressionando as linhas defensivas da Ucrânia. Rob Lee, pesquisador do Foreign Policy Research Institute, destacou que a falta de soldados e infantaria é um dos problemas mais graves que o país enfrenta. “A questão central é a sustentabilidade da guerra se ela se estender até 2026 e além”, analisou.
Embora a linha de frente esteja resistindo, a pressão russa continua aumentando, especialmente pelo uso de drones em ofensivas, como o programa Rubicon. Michael Kofman, do Carnegie Endowment for International Peace, observa que as forças russas estão se adaptando e a Ucrânia precisará se manter à frente para evitar que a situação piore.
Segundo o Institute for the Study of War, esta ofensiva em direção a Dobropillya pode ser parte de uma estratégia de Putin para moldar a narrativa antes da cúpula com Trump, com o objetivo de pressionar a Ucrânia e o Ocidente a se renderem às exigências do Kremlin.
Por outro lado, a falha em alcançar um acordo no Alasca pode ainda servir aos interesses de Putin, permitindo-lhe tempo para avançar ainda mais enquanto tenta evitar sanções americanas em meio a negociações em andamento.
As forças russas já capturaram cerca de 2.400 quilômetros quadrados da Ucrânia neste ano, totalizando 0,4% do território ucraniano, conforme estimativas da Bloomberg.
Segundo Alex Kokcharov, analista de geoeconomia da Bloomberg, os cinco critérios fundamentais que determinam o curso da guerra, como recursos financeiros, efetivos, poder de fogo, moral e controle territorial, indicam que a Rússia está crescendo em vantagem. “Moscou provavelmente acredita que possui uma vantagem significativa e que o tempo está a seu favor”, concluiu.

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