A guerra comercial desencadeada por Donald Trump teve um impacto paradoxal nos mercados globais. Enquanto os preços das commodities caíram, o Porto do Açu, um dos maiores terminais do Brasil, prosperou com o aumento das exportações. Localizado no Rio de Janeiro, este porto é um crucial ponto de embarque de petróleo e já havia planejado uma ampliação na sua capacidade para melhorar o escoamento de produtos agrícolas e minerais. Agora, o cenário de distorções comerciais, fruto das tarifas impostas, acentuou ainda mais a demanda, como ressalta a administração do terminal.
“Quando começaram as ameaças, a demanda subiu”, declarou João Braz, diretor de logística do Porto do Açu. “Estamos numa posição muito favorável aqui.” O crescimento do porto evidencia como algumas nações conseguem conquistar espaço na arena internacional em meio a disputas comerciais entre as potências. Recentemente, a China anunciou uma retali ação à tarifa de 34% imposta por Trump, o que poderá abrir novas oportunidades para os exportadores brasileiros.
O Brasil, sendo o maior parceiro comercial da China, está em uma disputa acirrada com os Estados Unidos pelo domínio nas exportações agrícolas globais. Além disso, o país é o principal produtor de petróleo da América Latina e um dos maiores exportadores mundiais de minério de ferro, insumo fundamental na fabricação de aço.
No início de 2018, Trump implementou uma tarifa de 25% sobre importações de aço e alumínio, o que resultou em um crescimento significativo na demanda por ferro-gusa — matéria-prima vital para siderúrgicas americanas. Segundo Braz, as exportações desse produto no primeiro trimestre deste ano superaram em 50% o volume embarcado durante todo o ano de 2024.
O Brasil também está bem posicionado para conquistar uma maior fatia do mercado de soja norte-americana. Com uma estimativa de colheita recorde de 171,3 milhões de toneladas em 2025, a produção é impulsionada pelo clima favorável e pela ampliação da área plantada, conforme a consultoria Agroconsult.
Encaminhando-se para o futuro, novos dados revelam que diversos setores estão se beneficiando desse cenário. Em março, as exportações de carne de frango brasileira — tanto in natura quanto processada — atingiram 476 mil toneladas, um aumento de 19% em relação ao ano anterior, com as vendas para a China apresentando crescimento similar. As vendas de carne bovina também subiram 20%.
Entretanto, é importante destacar que a produção de soja está crescendo em um ritmo que supera a capacidade da infraestrutura logística. “Há um grande congestionamento nos dois extremos”, comentou Eugenio Figueiredo, CEO do Porto do Açu.
O terminal T-Mult, que é dedicado a cargas diversas, está se preparando para dobrar sua capacidade anual para 5 milhões de toneladas nos próximos anos. Além disso, está em execução o aprofundamento do canal adjacente ao terminal para possibilitar a atracação simultânea de dois navios do tipo Panamax.
Atualmente, o porto observa que seus clientes estão estocando soja em armazéns, visando atender à demanda da China, que é o principal destino da carga.
A escassez de contêineres também está contribuindo para que negócios sejam desviados para o Porto do Açu. Atividades hostis no Mar Vermelho por forças houthis, apoiadas pelo Irã, diminuíram a disponibilidade desses contêineres para os exportadores de café, levando muitos a optarem por utilizar bags gigantes para o embarque, evitando assim atrasos em outras instalações.
Iniciando suas operações de embarque de café em bags apenas em 2024, o Açu espera um crescimento substancial no volume neste ano, além de planos para começarem a movimentar açúcar.

You must be logged in to post a comment Login