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Petrobras: Títulos resistem a tempestade política, mas ações despencam
Títulos da Petrobras permanecem estáveis, enquanto ações caem. Especialistas afirmam que empresa pode aguentar pressões governamentais por anos.
A decisão da Petrobras (PETR4) de suspender dividendos extraordinários, pressionada politicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), provocou uma venda massiva de ações, resultando na perda de bilhões em valor de mercado da estatal. Porém, o cenário para os investidores dos bonds é bem mais positivo.
Os títulos com vencimento em 2033 mantiveram sua estabilidade desde o anúncio de cortes nos dividendos, em março, apresentando apenas uma leve elevação nos spreads em relação aos títulos públicos equivalentes. Em contrapartida, as ações preferenciais sofreram um tombo de 11%, resultando em uma desvalorização de R$ 59 bilhões.
Roger Horn, estrategista sênior da Mariva Capital Markets, explica: “Pagar menos dividendos resulta em maiores lucros retidos, o que é positivo. Apesar da sinalização de intervenção política, não há expectativa de um prejuízo significativo para o crédito da Petrobras.”
A dívida líquida da Petrobras atingiu US$ 44,7 bilhões no fim de 2023, um aumento de 7,7% em relação ao ano anterior, mas ainda assim, é um valor muito abaixo dos níveis históricos. A relação entre essa dívida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização está inferior a 1, uma melhoria significativa em comparação com 4,77 vezes no fim de 2014, ano marcado por um escândalo de corrupção.
Adriana Eraso, analista da Fitch Ratings, aponta que a empresa continua sendo a mais sólida tomadora de empréstimos na indústria petrolífera da América Latina, mesmo em meio a preocupações sobre possíveis interferências políticas.
“Para cada barril de petróleo vendido, cerca de US$ 2 vão para o pagamento de juros da dívida, enquanto a Ecopetrol paga cerca de US$ 2,50. A Petroleos Mexicanos, por outro lado, destina cerca de US$ 9 por barril, o que demonstra a solidez da Petrobras”, observou Eraso.
Ela acrescenta que “não há sinais de restrições de caixa que possam afetar o pagamento dos títulos”, enfatizando que a Petrobras está bem posicionada para lidar com a volatilidade causada por intervenções governamentais nos próximos anos. “Isso é uma questão que impacta mais os acionistas.”
A Petrobras não comentou a respeito do pedido da Bloomberg.
Prêmio de Risco
De acordo com o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria SA, o rendimento adicional que os investidores esperam para manter a dívida da Petrobras em comparação com títulos soberanos brasileiros não é suficiente para compensar os riscos de intervenções estatais, segundo o analista William Snead.
O spread de rendimento entre os títulos da Petrobras com vencimento em 2033 e os soberanos da mesma data caiu de cerca de 50 pontos-base para menos de 30 pontos-base desde fevereiro.
A Petrobras está atenta ao seu objetivo de se tornar uma referência em energia renovável, alinhando-se aos principais objetivos políticos do governo Lula, ao contrário de governos anteriores que priorizavam atividades mais lucrativas como a exploração de petróleo em águas profundas. O presidente da República está em busca de itens de investimento nas áreas de energia eólica e solar no Brasil.
“A utilização do dinheiro adicional pela empresa ainda não é clara”, afirma Liz Bakarich, gestora de portfólio da AllianceBerstein em Nova York, cuja posição na dívida de petroleiras é pequena. “A inadimplência não é uma preocupação, e a empresa possui uma alavancagem muito reduzida“, completa.
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