Mariano “Tute” Di Tella, um mecânico de 45 anos, embarcou em uma missão especial. Ele desceu de seu apartamento em Buenos Aires, pegou o metrô com seu filho Milo, e dirigiram-se ao coração da cidade. Carregando uma bolsa, eles estavam prestes a fazer uma entrega inesquecível.
Dentro daquela bolsa, estava uma motoserra personalizada, feita de alumínio e bronze, que o presidente argentino Javier Milei entregaria a ninguém menos que Elon Musk. E adivinha? O combustível não estava incluso na encomenda.
Quando Musk recebeu o presente, no palco da Conferência de Ação Política Conservadora, ele afirmou que a motoserra era “o símbolo de toda a burocracia”. Essa declaração ressoou em todos os cantos do mundo.
Ninguém estava mais animado que Di Tella. Os itens personalizados que agora dominam seu apartamento pequeno se tornaram a face da mudança radical pela qual Milei é conhecido globalmente.
“A motoserra é uma ferramenta de poder que eu criei para que ele possa implementar mudanças significativas,” comentou Di Tella, referindo-se ao presidente argentino.
Agora, em sua mesa de jantar de vidro, Di Tella está se preparando para seu próximo projeto: uma motoserra para Donald Trump. O porta-voz de Milei, Manuel Adorni, solicitou que ele construísse uma para o ex-presidente americano, que normalmente leva seis semanas para ficar pronta. No entanto, ele montou a de Musk em impressionantes 20 dias, gravando “Viva La Libertad Carajo!” no alumínio da serra utilizando um laser.
Embora Di Tella seja um apoiador de Milei e suas reformas econômicas corajosas após décadas de declínio, ele se recusa a se rotular como libertário ou peronista. Para ele, isso é uma questão de ser um cidadão cansado das promessas não cumpridas.
“Eu sou um artista, não um político. Sou um cidadão que ficou farto e exausto com a situação atual”, afirmou ele. “Durante a campanha de Milei, vi um homem eufórico, genuinamente cansado, e isso me refletiu. Eu me identifiquei com isso.”
Embora a motoserra de Di Tella esteja em exibição no escritório de Milei, o artista admite que nunca se encontrou com o presidente nem pediu uma audiência em troca de suas criações.

Após o evento em Washington, Adorni enviou uma mensagem a Di Tella sobre outro pedido para Trump. Di Tella aponta que é poético que Milei ainda não tenha conhecido seu trabalho pessoalmente.
“É fantástico porque o que nos une são as máquinas”, diz Di Tella. “Sou grato a Milei pelo emblema que ele dá à minha criação pela missão que está realizando.”
Contudo, Di Tella também está enfrentando os desafios da estratégia de cortes de Milei, uma realidade que afeta a sociedade argentina como um todo. Ele menciona que o condomínio onde mora agora custa 140 mil pesos (US$ 132) por mês, um salto significativo de 30 mil pesos, consequência dos cortes de subsídios aos serviços básicos que antes eram considerados insustentáveis.
Como pai solteiro, Di Tella não possui carro e se desloca de ônibus para seu trabalho consertando mini-tratores e cortadores de grama. Além disso, ele atua como “embaixador de marca” para uma companhia argentina de motosserras.
É importante ressaltar que Di Tella não recebe nenhuma compensação por suas motosserras personalizadas; ele mesmo arca com os custos de produção, cerca de US$ 500 cada. “O dinheiro não tem poder sobre minha arte”, afirma com firmeza.
Apesar de apoiar as tentativas de Milei, Di Tella expressa suas preocupações de que sua criação possa ser vista como responsável pela perda de emprego de muitos argentinos, uma situação delicada devido ao corte de mais de 40 mil vagas estatais pelo governo.
“Eu gostaria que ele fosse um pouco mais prudente”, confessa Di Tella. “Não quero que a motoserra cause dificuldades às pessoas. Meu desejo é que as mudanças realmente consertem o que está errado no país.”
Di Tella conhece bem os desafios. Ele, que nunca se casou, se demitiu em fevereiro de 2020 de seu emprego em uma loja de conserto de pianos, bem antes de o governo anterior impor lockdowns severos. Sem emprego, Ele se inscreveu no programa de auxílio emergencial, mas nunca recebeu ajuda. Sua mãe, que mora nas proximidades, frequentemente o ajuda a pagar as contas.
Sua paixão por máquinas começou aos 13 anos, enquanto cortava árvores em cidades litorâneas argentinas, ricas em pinheiros. Além disso, cita filmes como O Massacre da Serra Elétrica, que despertaram seu interesse. Ele admite que mantém uma figura do vilão Leatherface em seu apartamento, mas ressalta que sua fascinação não está ligada à violência, mas sim à beleza e utilidade das motosserras.
“Quando vi aquele filme, não me atraía pela violência, mas pela motoserra em si — impressionante, magnífica”, relembra Di Tella, assegurando que nunca se feriu ao operar uma. “A motoserra representa a mudança. E eu a criei com essa intenção — mostrar que precisamos de transformação, que algo precisa ser corrigido.”

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