Elon Musk fez um alerta contundente sobre os tempos complicados que a Tesla enfrentará. A montadora, que revolucionou a indústria de sedãs elétricos nos últimos dez anos, agora se vê diante de um dos seus cenários mais desafiadores.
O CEO da Tesla destacou que a empresa passará por um período de transição de pelo menos um ano. Isso ocorre após a perda dos incentivos para veículos elétricos nos Estados Unidos e a necessidade de tempo para o lançamento de seus veículos autônomos.
“É provável que enfrentemos trimestres difíceis”, afirmou Musk. “No entanto, se conseguirmos alcançar a autonomia em escala até a segunda metade do próximo ano, ficarei surpreso se os fundamentos econômicos da Tesla não forem extremamente favoráveis.”
Após o pronunciamento de Musk no pós-mercado, as ações da Tesla caíram vertiginosamente, com uma desvalorização de até 9,5% logo após a abertura do mercado na quinta-feira.
Esses comentários vêm como uma resposta direta ao impacto da nova legislação tributária que foi sancionada pelo presidente Donald Trump, a qual elimina gradualmente o crédito fiscal de US$ 7.500 para a compra de veículos elétricos. Além disso, a nova lei revogou normas de eficiência energética que eram cruciais para a geração de receita da Tesla.
Musk não hesitou em criticar a nova legislação, chamando-a de “aberração nojenta”. Isso marca um nítido afastamento do governo Trump, pouco depois de sua saída de um cargo de destaque na administração anterior.
Recentemente, a Tesla reportou um lucro ajustado de US$ 0,40 por ação, que ficou abaixo das expectativas reduzidas de Wall Street. A receita da empresa caiu 12%, totalizando US$ 22,5 bilhões, com essa queda sendo a mais significativa desde 2012. A empresa ainda registrou uma diminuição nas entregas de veículos e no preço médio dos carros Tesla.
Perspectiva incerta
William Stein, um analista da Truist Securities, caracterizou os resultados como “barulhentos”, ressaltando a presença de desafios claros no curto prazo e a falta de diretrizes formais para o futuro.
Ele disse: “A empresa não ofereceu muitos detalhes sobre fatores críticos”, referindo-se ao modelo acessível e ao robô humanóide, o que implica que “nossa perspectiva depende mais da imaginação do que de metas realistas.”
A Tesla também viu uma redução nas vendas de sua divisão de geração e armazenamento de energia, além de um impacto negativo estimado em US$ 300 milhões devido a tarifas. O CFO, Vaibhav Taneja, indicou que a pressão dessas taxas deve crescer nos próximos trimestres.
A unidade de veículos continua enfrentando dificuldades devido à crescente concorrência e aos efeitos das declarações polêmicas de Musk. Embora, até o momento, investidores tenham ignorado a queda nas vendas, apostando em promessas referentes a inteligência artificial, robôs e direção autônoma, este trimestre trouxe uma nova realidade.
Musk enfatizou as turbulências que dificultam a Tesla de colher frutos desses investimentos no momento. “Estamos passando por um desafio significativo ao transitar de um mundo pré-autonomia para um pós-autonomia”, afirmou.
Durante a teleconferência, os executivos focaram menos no setor de veículos e concentraram-se em planos de expansão para o serviço de robotáxis, na inauguração de um novo restaurante em Los Angeles e na possibilidade de investimento na xAI, a startup de IA de Musk.
“Sem enlouquecer”
Musk também reafirmou sua intenção de aumentar sua participação acionária na Tesla, o que considera crucial para evitar ser destituído por investidores ativistas. Seu pacote de remuneração avaliado em bilhões foi derrubado por um juiz de Delaware no ano passado, levando a Tesla a mudar sua sede para o Texas e recorrer dessa decisão.
“Acredito que meu controle deve ser suficiente para garantir que a Tesla mantenha um curso promissor, mas não tanto a ponto de que eu possa ser removido se eu ficar insano”, declarou.
A polarização da marca Tesla aumentou após o apoio aberto de Musk a Trump. Durante sua breve participação no governo, as suas tentativas de corte de gastos geraram críticas de consumidores geralmente progressistas, enquanto investidores se preocuparam com possíveis distrações nos negócios da empresa.
No segundo trimestre, a receita com créditos regulatórios de emissões — que a Tesla vende a seus concorrentes — caiu para US$ 439 milhões, uma redução de 26% em relação ao primeiro trimestre e de 51% anulados em um ano. Essa fonte de receita está ameaçada devido à nova lei, que exclui penalidades para montadoras que não seguem os padrões federais de eficiência energética. O governo também está planejando revogar a exigência da venda de EVs na Califórnia e os limites para emissões veiculares.
Novo modelo mais barato
Os executivos da Tesla informaram que a produção de um novo modelo elétrico mais acessível teve início em junho, mas o lançamento comercial está programado para ocorrer após o término dos incentivos em setembro. Musk indicou que este modelo será semelhante ao Model Y e é considerado crucial para impulsionar as vendas.
Quanto ao robotáxi, a Tesla planeja expandir esse serviço, que foi lançado neste verão em Austin, para outras regiões. A empresa busca aprovações regulatórias para operar em áreas como a Baía de São Francisco, Nevada, Arizona, Flórida, entre outras, conforme explicado por Musk.
“Esperamos ter serviço de transporte autônomo cobrindo metade da população dos EUA até o final do ano”, garantiu. “Esse é nosso objetivo, dependendo da aprovação dos reguladores.”
Gene Munster, sócio da Deepwater Asset Management, ressaltou que, apesar dos comentários positivos sobre direção autônoma e robotáxis, os investidores anseiam por mais clareza em curto prazo.
“Todos os olhos estão voltados para Austin, e não ouvimos nada concreto”, disse. “Os investidores esperavam por notícias — e não obtiveram nenhuma.”

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