O presidente argentino, Javier Milei, fez uma declaração ousada: ele está preparado para abandonar o Mercosul se isso for necessário para firmar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Contudo, ele deixou claro que sua esperança é conseguir este acordo sem precisar tomar uma medida tão drástica.
Durante uma entrevista com o editor-chefe da Bloomberg News, John Micklethwait, quando questionado sobre a possibilidade de sair do bloco econômico sul-americano, Milei hesitou momentaneamente antes de afirmar que sim, se for realmente necessário.
“Existem mecanismos internos que podem ser utilizados sem a necessidade de abandonar o Mercosul”, destacou ele, refletindo sobre o potencial de negociação durante o Fórum Econômico Mundial em Davos.
O líder libertário também mencionou sua intenção de acessar os mercados de capitais após a remoção das restrições cambiais que limitam o país, embora ainda não tenha definido um cronograma específico. Milei reafirmou o compromisso de alcançar o déficit zero, especialmente quando pressionado sobre o retorno da Argentina aos mercados internacionais de títulos.
O ministro da Economia, Luis Caputo, havia revelado anteriormente a investidores em Nova York que o objetivo é acessar gestores de dinheiro até 2026, coincidentemente quando se espera também eliminar os controles de capital.
No que diz respeito ao comércio, Milei evitou confirmar se havia discutido um eventual acordo com Donald Trump ou membros de sua administração durante sua recente visita a Washington, mas afirmou que seu governo está “trabalhando arduamente” para firmar um acordo com os EUA.
O Mercosul, que se formou inicialmente por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, representa um obstáculo significativo para a realização desse acordo comercial. Historicamente, o bloco opôs-se à negociação de acordos individuais entre seus membros, como demonstrou ao rejeitar a tentativa do Uruguai de aderir a um dos maiores pactos comerciais da Ásia em 2022.
Milei tem sido um crítico ferrenho do Mercosul, descrevendo-o como uma “prisão” protecionista. Contudo, até o momento, ele não efetivou suas ameaças de campanha de retirar a Argentina do bloco e, no ano passado, até se juntou aos pedidos para rápidos avanços em um significativo acordo comercial com a União Europeia que foi assinado em dezembro.
É importante notar que há resistência: o presidente do Paraguai, Santiago Peña, expressou suas reservas a um possível acordo bilateral Argentina-EUA em uma recente entrevista, mesmo reconhecendo que o Mercosul precisa de reformas.
Abandonar o Mercosul não será tarefa fácil para a Argentina, dado seu forte entrelaçamento econômico com o Brasil, seu principal parceiro comercial.

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