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Macron garante comando do Parlamento com centro e afasta a esquerda na França

Yael Braun-Pivet, do partido Renascença de Macron, conquista presidência da Assembleia Nacional, acentuando a crise política e a divisão entre os partidos.

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Os legisladores franceses fizeram história ao reeleger um candidato centrista, do partido de Emmanuel Macron, para um segundo mandato na liderança da Assembleia Nacional. Esta decisão é um forte indicativo de que a coalizão do presidente pode estar em uma posição mais favorável para estabelecer um novo governo, após a dissolução do Parlamento no mês passado.

Yael Braun-Pivet, representante do partido pró-negócios Renascença, obteve uma vitória apertada na votação para presidente da Assembleia, conquistando apenas 13 votos de diferença. Ela contou com o suporte de parlamentares de centro e centro-direita, não pertencentes à sua aliança. A coalizão de esquerda, Nova Frente Popular, que possui a maioria na Câmara dos Deputados, expressou sua frustração com a derrota.

Após as eleições antecipadas de 7 de julho, a Assembleia Nacional ficou fragmentada em três grupos principais: a Nova Frente Popular, o centrista Juntos (segundo maior grupo) e o Reunião Nacional, de extrema direita, liderado por Marine Le Pen, que ocupa a terceira posição. Nenhum deles possui assentos suficientes para formar um governo autonomamente, lançando a França em um verdadeiro caos político, enquanto os partidos competem pelo direito de liderar o próximo governo.

“Esta assembleia está mais dividida do que nunca”, declarou Braun-Pivet após a votação. “Precisamos encontrar novas maneiras de operar para fomentar mais diálogo e compromisso.”

A conquista de Braun-Pivet, embora não esteja diretamente vinculada à escolha de um novo primeiro-ministro ou à formação de um governo, pode oferecer pistas sobre quais coalizões estão dispostas a se unir em torno de um único candidato.

First session of newly elected French National Assembly in Paris
Yael Braun-Pivet, recém-eleita presidente da Assembleia Nacional da França. 8/07/2024. (Foto: REUTERS/Sarah Meyssonnier)

Macron detém poderes constitucionais para escolher um novo primeiro-ministro e, tradicionalmente, nomeia alguém do maior grupo na Assembleia Nacional. Entretanto, os parlamentares têm a prerrogativa de votar pela derrubada do governo via moção de censura. Isso implica na necessidade de selecionar um premiê que tenha apelo suficiente para se manter no cargo e formar maiorias conforme necessário para aprovar legislações.

A votação realizada na última quinta-feira (18), na qual Braun-Pivet enfrentou cinco concorrentes, fornece alguma clareza sobre como o processo de decisão poderá se desenrolar. Ela não conseguiu assegurar a maioria absoluta em dois turnos, sendo eleita apenas no terceiro turno, onde vence o candidato mais votado.

“Sua vitória é o resultado de um emaranhado de alianças entre grupos que, por ora, não compartilham uma linha política definida”, explicou Melody Mock-Gruet, especialista em questões parlamentares da Sciences Po, durante uma entrevista. “Ela será a líder de uma assembleia fragmentada e sem maioria absoluta.”

Macron fez um chamado a todos os partidos que apoiam a União Europeia e o Estado de Direito para se unirem na formação de um governo, tentando construir uma aliança que exclua tanto a extrema direita quanto a extrema esquerda. Esse movimento permitiria a continuidade do governo de Macron, ainda que em uma forma mais fraca.

As manobras estratégicas de Macron têm gerado descontentamento entre seus oponentes, especialmente a coalizão de esquerda.

“Somos a única força política coerente que reflete as aspirações do povo francês”, afirmou Boris Vallaud, líder dos socialistas na Assembleia Nacional, aos repórteres após a votação, argumentando que Macron deve nomear um primeiro-ministro da Nova Frente Popular. “Sentimos uma mistura de raiva e determinação hoje – raiva porque o povo francês foi despojado de sua voz.”

Forças republicanas

Embora a Nova Frente Popular afirme que tem o direito de escolher o próximo primeiro-ministro, suas disputas internas têm dificultado um consenso sobre um candidato.

Desde sua série de derrotas eleitorais, Macron se afastou dos holofotes domésticos, rompendo seu silêncio apenas para pedir a união de um amplo espectro de “forças republicanas” na formação de uma coalizão de governo.

Essa coligação exclui, até o momento, o partido de Le Pen e também o France Unbowed, que representa a maior facção dentro da Nova Frente Popular.

A aliança de esquerda tem lutado para apresentar um nome concordado para o cargo de primeiro-ministro, enquanto Macron orientou o atual primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, a manter-se à frente de um governo interino com poderes limitados. “O resultado reduzirá a pressão sobre a Nova Frente Popular, que poderia ter exercido mais força se triunfasse nessa disputa”, disse Mock-Gruet.

É essencial destacar que o presidente da Assembleia Nacional, que figura como o terceiro na linha de sucessão após o presidente da República, organiza a agenda parlamentar e concede aos deputados a permissão para se pronunciarem durante os debates. O presidente pode bloquear um projeto de lei se considerar que não atende aos critérios legais e deve ser consultado pelo presidente francês em momentos de crise, além de possuir a atribuição de nomear três dos nove membros do Conselho Constitucional, a mais alta corte da França.

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