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Macron em apuros: aliados divididos e receios nas eleições legislativas

A decisão de Macron causa revolta entre aliados, gerando pessimismo quanto às eleições. O futuro do partido está em jogo!

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Emmanuel Macron votando no Parlamento Europeu em Le Touquet, em 9 de junho (Hannah McKay/AFP/Getty Images)

A escolha surpreendente de Emmanuel Macron em se lançar numa campanha eleitoral com seu partido desorganizado e enfrentando a rejeição do povo francês gerou um clima de consternação entre os próprios aliados que ele necessita para triunfar.

Parlamentares e líderes do partido Renascimento, sob a direção do presidente de 46 anos, estão lutando para aceitar essa estratégia. Enquanto alguns expressam raiva, outros tentam entender a lógica política por trás da decisão, muitos se mostram pessimistas quanto ao futuro próximo.

De acordo com uma fonte próxima aos eventos, o primeiro-ministro Gabriel Attal e a presidente da Assembleia Nacional, Yael Braun-Pivet, manifestaram objeções à decisão de Macron.

“Sentimos um profundo choque e indignação entre nossas fileiras após o anúncio de Macron”, declarou Christophe Marion, deputado do Renascimento. “Parecia que estávamos sendo empurrados para uma luta quase perdida”.

Macron, na tentativa de recuperar sua influência política após derrotas nas mãos do Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen nas recentes eleições europeias, convocou uma votação parlamentar.

Entretanto, muitos dentro do governo argumentam que essa estratégia de risco elevado pode consolidar ainda mais as derrotas do partido e comprometer as chances de avanço em sua agenda econômica. Há também o receio de que o resultado da votação conceda o controle da Assembleia Nacional ao grupo de Le Pen.

A incerteza provocou tumulto nos mercados de títulos franceses nesta terça-feira, após rumores de que o presidente considerava a possibilidade de renunciar, dependendo do desfecho eleitoral. Embora Macron tenha afirmado à Figaro Magazine que o resultado não afetará sua posição, a aversão ao risco nos títulos alemães disparou para seu nível mais alto desde os primeiros dias da pandemia, em março de 2020.

O partido de Le Pen é o favorito para o primeiro turno, com 35% segundo pesquisa do IFOP, enquanto a legenda de Macron amarga uma desvantagem de 17 pontos, refletindo os resultados miseráveis da UE. As eleições legislativas na França seguem um cenário caótico, onde as negociações entre o primeiro e o segundo turno ocorrem em 577 distritos eleitorais distintos.

Isso tudo mina a moral dos parlamentares que Macron necessita para reverter a sua sorte na campanha. Eles se sentem abandonados e acreditam que o partido não está minimamente preparado a menos de três semanas do primeiro turno.

Um porta-voz de Macron afirmou que as pesquisas realizadas desde o último domingo demonstram que a maioria dos franceses apoia a decisão do presidente, que vê isso como um sinal de confiança.

Estava prevista uma coletiva de imprensa na tarde de terça-feira para o lançamento da campanha de Macron, mas o evento foi postergado por um dia. O presidente estará fora do país por quase uma semana.

Macron viajará à Itália para a cúpula do G7 a partir de quinta-feira (13), e em seguida irá para a Suíça para discutir o futuro da Ucrânia e participar de um jantar com líderes da UE em Bruxelas, na segunda-feira (17). As eleições legislativas acontecerão em dois turnos nos dias 30 de junho e 7 de julho.

No último domingo, Macron alertou sobre a gravidade da ameaça representada pelo partido de Le Pen e justificou a necessidade de medidas drásticas para mudar o rumo da situação: “Não posso ignorar a realidade”, afirmou. “A ascensão de nacionalistas e demagogos é um risco não apenas para nossa nação, mas para a Europa e para a posição da França no mundo.”

Um parlamentar do partido de Macron expressou seu descontentamento com a possibilidade de muitos de seus colegas perderem seus postos e teme falar abertamente devido à possibilidade de serem vistos como traidores.

Um alto funcionário que já atuou em diversos ministérios sob Macron ressaltou que a estratégia do presidente compromete algumas prioridades internacionais da França, como a luta contra as mudanças climáticas. Um diplomata observou que o país está correndo contra o tempo para assegurar quantos mais acordos puder com a UE neste mês.

Funcionários públicos em grupos de mensagens discutem as possíveis implicações constitucionais que um primeiro-ministro do Reagrupamento Nacional traria, especialmente se Macron continuaria a representar a França nas cúpulas da UE.

Na terça-feira, Attal buscou encorajar seus colegas durante uma reunião, reconhecendo que a decisão de Macron foi “brutal” e que seus assessores teriam muito a batalhar durante a campanha. Ele os incitou a não encarar os resultados como uma verdade imutável.

Contudo, figuras-chave dentro do movimento de Macron já expressam publicamente dúvidas sobre essa escolha. Braun-Pivet, indicada por Macron para a liderança da Assembleia Nacional, afirmou à France 2 que acredita que “outro caminho” poderia ter sido mais adequado.

Attal, com 35 anos, foi nomeado primeiro-ministro em janeiro, durante uma tentativa de renovação do governo. Sua escolha foi em parte uma resposta ao crescente apelo do líder do partido de Le Pen, Jordan Bardella, de 28 anos, entre os jovens. Apesar disso, a derrota de Macron foi severa.

Macron poderia ter estabelecido até 40 dias entre a dissolução do parlamento e o primeiro turno da votação, mas decidiu um intervalo de apenas 20 dias, intensificando a pressão sobre seus adversários – e, crucialmente, sobre seus próprios aliados. Vários parlamentares de seu partido escolheram não se candidatar novamente.

Após sete anos de governo, cresce a preocupação entre os mais próximos a Macron de que estão próximos do “fim do jogo”.

“Precisamos de uma maioria clara ou enfrentaremos uma crise de governabilidade”, alertou o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, à BFM TV nesta terça. “O que está em jogo nas próximas semanas é o futuro da nação francesa.”

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