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Política

Lula e China: A Rota da Mudança Econômica do Brasil Frente a Trump

A relação de Lula com a China pode ser desafiada pela política de Trump. Entenda a disputa.

<p>Lula e Xi Jinping na capital chinesa. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)</p>

No extremo ocidental do Brasil, no Acre, uma nova rodovia brilha como um símbolo das esperanças de transformação econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas há um obstáculo a ser superado: as políticas protecionistas de Donald Trump podem impactar essa trajetória.

A construção de uma ponte e de estradas de acesso em um corredor de 10 quilômetros rumo à fronteira com o Peru pode parecer modesta, mas carrega uma importância monumental. É parte de um extenso plano para modernizar e conectar o Brasil a seus vizinhos sul-americanos e, por fim, ao Oceano Pacífico e à China.

Tradicionalmente, o Brasil voltava seus olhos para o comércio no Atlântico. Agora, sob a liderança de Lula, o país está firmando laços fortes com a Ásia e o Pacífico. Com um novo sistema rodoviário e ferroviário, o tempo de transporte para os portos chineses será reduzido em 10 a 12 dias, o que poderá agregar cerca de US$ 22 bilhões ao PIB brasileiro anualmente, segundo especialistas e documentos do Ministério do Planejamento consultados pela Bloomberg News.

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A expansão da infraestrutura é parte do plano audacioso de Lula para elevar o Brasil na cadeia de valor global, utilizando a China como um aliado crucial. Essa estratégia será ressaltada durante a visita do presidente chinês Xi Jinping à América Latina, onde participará do fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) no Peru, seguido da cúpula do Grupo dos 20 (G-20) no Rio de Janeiro e, por fim, uma visita de Estado a Brasília.

No entanto, esse avanço já causa apreensão nos Estados Unidos, que advertiram o Brasil contra um estreitamento das relações com a China, especialmente a adesão ao programa de infraestrutura Cinturão e Rota, uma das principais iniciativas de Xi. Com os pedidos de Trump para tarifas de até 60% sobre importações da China, o cenário se torna ainda mais tenso.

Lula permanece firme em sua visão. O Brasil tem objetivos geopolíticos em alinhamento com a China, amparados pela participação no grupo BRICS e pela proposta conjunta para acabar com o conflito da Rússia na Ucrânia. Dilma Rousseff, ex-presidente e sucessora de Lula, agora lidera o Novo Banco de Desenvolvimento em Xangai.

Ao enfrentar obstáculos comerciais com os EUA e países europeus, Lula enxerga uma oportunidade estratégica para o Brasil, de acordo com fontes do governo que pediram anonimato por questões de segurança. Ele busca envolvimento com a iniciativa Cinturão e Rota, sem se comprometer totalmente, explorando participação chinesa em infraestrutura, integração regional, energia limpa e modernização industrial. O Brasil visa expandir a relação com a China, além da mera exportação de commodities como minério de ferro e produtos agrícolas.

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Desde 2009, as exportações do Brasil para a China superaram as destinadas aos EUA, e o mesmo ocorreu com as importações após. Em uma entrevista incisiva, Lula afirmou que os interesses do Brasil não podem ser ignorados. “Não vamos fechar os olhos. Vamos perguntar: ‘O que temos a ganhar com isso?’”

Recentemente, uma delegação do ministério das Relações Exteriores da China visitou o Brasil para preparar a recepção de Xi, o que evidencia o estado positivo das relações bilaterais e a disposição da China de intensificar seus investimentos, abrangendo segmentos como agricultura e veículos elétricos.

President Lula Holds Press Conference
Celso Amorim, principal conselheiro de política externa de Lula. Fotógrafo: Arthur Menescal/Bloomberg

Celso Amorim, conselheiro de Lula, destacou que as iniciativas bilaterais visam uma parceria estratégica mais moderna. Se a China incluir o Cinturão e Rota, não haverá objeções da parte brasileira.

Por outro lado, os EUA estão atentos ao que acontece. Katherine Tai, representante de Comércio dos EUA, alertou: “Nossos amigos no Brasil devem olhar para os riscos de estreitar laços com a China.” O presidente Biden também se reunirá com Xi na APEC, antes de participar da cúpula do G-20 no Brasil.

O comércio com a China é vital para o Brasil, sendo mais do que o dobro do comércio com os EUA. Assim, enquanto os EUA recebem principalmente produtos manufaturados, mais de três quartos das exportações brasileiras para a China são commodities. O investimento direto estrangeiro dos EUA no Brasil é significativamente maior do que o da China, mas este último cresce a passos largos.

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Os investimentos da China estão se expanindo pela América Latina, focando em áreas estratégicas. Desde 2005, a China injetou cerca de US$ 96 bilhões no Mercosul, prevendo um aumento para US$ 250 bilhões até 2025.

Um eixo crucial para tais investimentos será o porto de Chancay, no Peru, que, quando finalizado, se tornará uma porta para navios de contêiner que conectarão diretamente a Ásia e a América do Sul. A nova infraestrutura brasileira acabará por beneficiar esse porto, que deve ser inaugurado por Xi durante sua visita.

Construction At The Chinese-Financed Chancay Deepwater Port In Peru
O local de construção do Porto de Chancay no Peru. Fotógrafo: Paul Gambin/Bloomberg

Este “megaporto” de US$ 1,3 bilhão, operado pela Cosco Shipping, levantou preocupação nos EUA quanto à crescente influência chinesa na região, sendo considerado uma possível ameaça à segurança nacional americana.

Um artigo do Global Times minimizou essas preocupações, enquanto a administração do porto garantiu que não haverá risco militar, focando no potencial comercial do projeto.

“Com uma ferrovia do Brasil para o Peru, a América do Sul poderá se transformar em uma potência global”, afirmou o gerente de Chancay.

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Os planos brasileiros para ter um papel central nos projetos do Cinturão e Rota dependem de formalizar um Memorando de Entendimento com a China, conforme analisou Wang Yiwei, professor de relações internacionais da Universidade Renmin, que também acredita na visão alinhada do governo brasileiro e da China.

Esse é um desafio que a nova administração de Trump não pode ignorar, especialmente sob a influência de Elon Musk, um conhecido defensor das ideias de seu predecessor.

Os investimentos chineses estão se concretizando no Brasil, onde a BYD se estabelece como a maior fabricante de veículos elétricos fora da Ásia, e colaborações com empresas de tecnologia estão surgindo. Desde o início do governo Trump, o Brasil se tornou o maior fornecedor de alimentos para a China, em resposta às tarifas impostas pelo antigo presidente.

Agricultural Expansion In Brazil’s Amazon
Um trabalhador carrega um caminhão com grãos em uma instalação de processamento de milho e soja perto de Rio Branco, Acre, Brasil. Fotógrafo: Victor Moriyama/Bloomberg

A dinâmica atual reflete a crescente pressão entre China, EUA e Europa, enquanto Trump fala em tarifas que impactariam as exportações brasileiras. No entanto, ao mesmo tempo, as tensões entre as potências comerciais podem beneficiar o Brasil, se Brasília souber navegar por esse novo cenário.

O governo de Lula está em busca de fortalecer a conectividade no continente através do seu projeto “Rotas de Integração Sul-Americana”, com muitas obras previstas. O investimento necessário para essa integração precisa ainda de parcerias internacionais, e a China se mostra como um ator crucial neste processo.

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Embora Washington tenha interesses específicos, a necessária cooperação regional ainda não foi formada. O movimento de Lula para melhorar as relações com o Oriente se intensifica, considerando que o Brasil é capaz de fornecer alimentos em um mundo que demanda cada vez mais.

“Com ferrovias, o comércio se fará de forma mais eficiente e acessível”, conclui a ministra do planejamento, Simone Tebet.

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