A Hermès fez história ao superar a LVMH em valor de mercado nesta terça-feira (15), uma virada notável no competitivo setor de luxo. A fabricante das icônicas bolsas Birkin alcançou a impressionante marca de € 243,65 bilhões (R$ 1,618 trilhão), ficando à frente dos € 243,44 bilhões (R$ 1,616 trilhão) da LVMH, mesmo que temporariamente.
Com essa ascensão, a Hermès não só se firma como a empresa mais valiosa do índice francês CAC 40, mas também se posiciona como a terceira maior da Europa, atrás apenas do gigante de software SAP e da farmacêutica Novo Nordisk.
A mudança de poder ocorre após a LVMH sofrer uma queda de até 8,4% na Bolsa de Paris, em virtude de resultados decepcionantes no primeiro trimestre, com uma desaceleração nas vendas na China e nos EUA, e a crescente preocupação com uma possível guerra comercial.
“Em tempos de incerteza, investidores buscam qualidade e segurança — e nesse cenário, a Hermès é o destaque”, analisa Jelena Sokolova, analista da Morningstar. “A LVMH, por sua vez, se mostra mais sensível às oscilações do mercado do que a Hermès.”
A recente valorização da Hermès comprova a eficácia de sua estratégia de independência. Há mais de uma década, Bernard Arnault, o magnata por trás da LVMH e um dos homens mais ricos da Europa, fez uma investida hostil, adquirindo uma parte significativa da Hermès. Isso levou a família fundadora a se unir para garantir o controle da marca e forçar Arnault a vender sua participação posteriormente.
A LVMH, que detém renomadas marcas como Christian Dior e Tiffany & Co., reportou vendas de € 84,7 bilhões e um lucro operacional de € 19,6 bilhões em 2024. Em contraste, a Hermès registrou € 15,2 bilhões em receita e € 6,2 bilhões de lucro operacional no mesmo período.
Apesar de ter uma receita menor, a Hermès tem se mostrado mais resistente à desaceleração do mercado de luxo, focando em uma clientela ultra-elitista e adotando um modelo de escassez controlada, que intensifica o desejo por itens como as bolsas Birkin e Kelly. Esses produtos podem custar em torno de € 10.000 (R$ 66 mil) em Paris e, em revendas, os preços podem ser ainda mais altos.
Fundada em 1837 como fabricante de arreios, a Hermès possui um sólido poder de precificação e listas de espera para seus produtos. “Ela é percebida como mais resiliente durante períodos incertos — e isso se encaixa perfeitamente no cenário econômico atual”, afirmou Sokolova.
Outro aspecto que pode pesar sobre a LVMH é o chamado “desconto de conglomerado”, já que algumas de suas marcas, como a Sephora, apresentam margens de lucro inferiores às da sua principal marca, a Louis Vuitton.
Na última segunda-feira, a LVMH divulgou resultados abaixo do esperado em seu principal segmento de moda e artigos de couro, enquanto a Hermès está programada para apresentar seus dados trimestrais na quinta-feira.
Embora Bernard Arnault tenha tradicionalmente dominado os rankings de bilionários — atualmente ocupa a quinta posição na lista da Bloomberg —, a família Hermès, sob a liderança do herdeiro de sexta geração Axel Dumas, é considerada a mais rica da Europa, com uma fortuna estimada em impressionantes US$ 171 bilhões em dezembro.
Em fevereiro, o valor de mercado da Hermès chegou a ultrapassar temporariamente os € 300 bilhões, mas as tensões comerciais globais impactaram negativamente o setor de luxo desde então.

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