O mercado farmacêutico dos EUA está testemunhando uma verdadeira guerra de preços em torno dos medicamentos para obesidade.
Após críticas intensas sobre os altos custos de seus tratamentos, as gigantes Eli Lilly e Novo Nordisk (N1VO34) estão na corrida para negociá-los com gestoras de benefícios farmacêuticos (PBMs) e plataformas de telemedicina. A pressão dos investidores sobre o custo dessas injeções está cada vez mais palpável.
Essa dinâmica não é novidade no complicado universo econômico dos medicamentos, onde os preços de tabela frequentemente não refletem o que o consumidor realmente paga ou o lucro do fabricante.
A concorrente Novo Nordisk inicia seu preço mais elevado, com Wegovy a US$ 1.349 por mês, em comparação ao Zepbound da Lilly, que custava US$ 1.086. Surpreendentemente, um preço mais elevado pode permitir que a Novo ofereça descontos mais atrativos. Esses descontos, conhecidos como “rebates”, são pagamentos feitos aos PBMs para garantir cobertura expandida — ou até exclusiva — nos planos de saúde.
Na última quinta-feira (1), a CVS Health retirou o Zepbound da Lilly de sua lista de medicamentos preferenciais em troca de concessões de preço da Novo para o Wegovy, que promete aumentar sua disponibilidade. Essa manobra tem como objetivo auxiliar a Novo, que enfrenta a perda de participação de mercado. No entanto, o real impacto financeiro dos rebates ainda é incerto.
A analista da Bernstein, Courtney Breen, expressou preocupação aos executivos da Lilly durante a teleconferência de resultados na manhã de quinta-feira, uma preocupação refletida nas oscilações de ações: enquanto as ações da Lilly caíram 12%, as da Novo subiram 2,1% na Dinamarca.
Essas movimentações demonstram a influência dos PBMs, como o Caremark da CVS, na definição do futuro de medicamentos em setores competitivos, garantindo condições financeiras favoráveis. Esse cenário é alarmante para investidores que observam a exclusividade das ofertas.
“Há uma preocupação clara entre os investidores sobre a atuação dos PBMs no setor de obesidade, especialmente pelo que já testemunhamos em outras áreas”, afirmou o analista da Goldman Sachs, Asad Haider, na chamada da Lilly.
Rebates em Queda
A direção da Lilly declarou que está buscando modificação em sua abordagem de preços, visando evitar tabelas altas junto a rebates exorbitantes. A proposta é implementar preços que se aproximem do que os planos de saúde estão dispostos a pagar inicialmente.
“O cenário anterior consistia em buscar preços de tabela elevados e descontos profundos para garantir acolhimento pelos PBMs. Temos defendido uma reavaliação nessa estratégia,” enfatizou o CEO da Lilly, David Ricks, durante a teleconferência.
Os PBMs, no início, tinham suas operações limitadas quanto a medicamentos para perda de peso, pois as escassez davam às empresas a condição de vender a totalidade da produção a preços premium. Contudo, à medida que a oferta cresce, o Zepbound da Lilly começou a superar o Wegovy da Novo, conforme demonstram os dados da Symphony Health.
O novo acordo com a CVS visa potencializar a presença da Novo no mercado, impactando até 26 milhões de indivíduos, segundo análises do JPMorgan.
“A Novo precisa disso com urgência,” observou Jeff Jonas, gerente de portfólio da Gabelli Funds, que investe nas duas farmacêuticas. “Estão cientes de sua crescente insignificância no mercado e adotaram métodos mais agressivos,” concluiu.
A extensão dos rebates que a CVS obterá com a Novo é um mistério, já que nenhuma das partes divulgou detalhes. É razoável supor, porém, que os preços podem cair ainda mais conforme cresce a disputa por pacientes.
Rival Redux
A Lilly e a Novo são concorrentes históricas no setor de diabetes, com uma longa trajetória de disputa em relação aos preços da insulina. Durante anos, ambas inflacionaram seus preços de tabela para poder oferecer descontos robustos a PBMs como a CVS, garantindo acordos de distribuição mais amplos. Contudo, essa tática se torna insustentável, pois pacientes com cobertura deficiente enfrentam altas charges.
Infelizmente, isso não abalou a CVS. Agora que as empresas corrigiram suas falhas de estoque, o Caremark está promovendo uma válida competição entre os produtos similares para negociar preços mais acessíveis.
“A Caremark colocou em prática sua expertise ao oferecer opções clinicamente parecidas, escolhendo a que oferece o menor custo líquido,” declarou o CEO da CVS, David Joyner, em entrevista à Bloomberg News. “Sinto-me satisfeito que conseguimos ser pioneiros em uma solução que favorece a acessibilidade.”
O alto custo dos medicamentos destinados à perda de peso é, sem dúvida, uma questão crítica para organizações que financiam prescrições, conforme apontou.
Com a carência de remédios de marca, plataformas de telemedicina começaram a comercializar opções mais baratas, utilizando uma previsão legal. Com a normalização da oferta, as agências norte-americanas endureceram o controle sobre essa prática, dificultando o acesso a versões compostas.
A Lilly e a Novo, aproveitando a abordagem de telemedicina, estão redirecionando suas estratégias de venda.
Na última semana, a Novo selou um acordo com a Hims & Hers Health Inc., além de outros dois provedores, para disponibilizar um fornecimento mensal de Wegovy a partir de US$ 499, sem tarifas adicionais. Já a Lilly expandiu sua parceria com o WeightWatchers em 29 de abril, focando em atingir consumidores em busca de tratamentos a preços mais acessíveis.
Taxa Fixa
Aos consumidores que desejam adquirir o medicamento diretamente em farmácias, a CVS oferece um preço fixo de US$ 499 pelo Wegovy, permitindo acesso para aqueles que pagam em dinheiro. Isso sinaliza que os gestores de benefícios podem ter aprendido com experiências anteriores sobre a necessidade de criar opções que favoreçam os desassistidos.
Historicamente, a CVS inova ao usar acordos de exclusividade de distribuição de medicamentos, buscando descontos substanciais das farmacêuticas, conforme relatou Troyen Brennan, que foi diretor médico da CVS até 2022. A insulina foi uma das primeiras substâncias a se submeter a esses arranjos de exclusividade, inicialmente controversos, mas que se provaram eficazes com o tempo, permitindo a redução de gastos dos pacientes.
“Esse movimento impactou muitos pacientes e foi bem-sucedido,” ressaltou Brennan. “A razão era garantir rebates mais altos, que posteriormente se refletiam no custo para os consumidores.”
Ainda assim, as farmacêuticas frequentemente alegam que os preços inflacionados dos medicamentos decorrem de intermediários como a CVS, que alimentam a dinâmica de preços elevados. Até mesmo o presidente dos EUA se manifestou sobre isso em seu recente encontro no Casa Branca com Ricks da Lilly, onde destacou a importância de abordar as iniquidades de preços.
“Sempre que discutimos preços, fico impressionado com seu entendimento,” afirmou o presidente Donald Trump, referindo-se a Ricks. “Ele menciona os intermediários e, ao final do diálogo, penso: isso é um negócio vantajoso para nós.”

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