O governo de Donald Trump está em negociações audaciosas para tomar uma participação de 10% na Intel, uma das maiores fabricantes de chips do mundo, segundo informações de fontes da Casa Branca e outras pessoas a par do assunto. Esta estratégia poderia posicionar os EUA como o maior acionista da empresa que enfrenta sérios desafios financeiros e tecnológicos.
Fontes anônimas revelaram que a administração está considerando a conversão de parte ou até mesmo a totalidade dos subsídios concedidos à Intel por meio da lei Chips and Science Act em participação acionária. A Intel está projetada para receber US$ 10,9 bilhões em subsídios, voltados para a produção tanto comercial quanto militar.
Essa quantia está bastante próxima do que é necessário para assegurar a fatia proposta. Atualmente, uma participação de 10% na Intel é avaliada em cerca de US$ 10,5 bilhões. No entanto, o tamanho exato da participação e o avanço do plano ainda permanecem incertos, como apontam as fontes.
Kush Desai, porta-voz da Casa Branca, optou por não comentar, apenas ressaltando que “nenhum acordo é oficial até que seja anunciado”. O Departamento de Comércio também se manteve em silêncio, assim como a Intel não respondeu a solicitações de posicionamento.
Além disso, o governo está considerando a possibilidade de transformar outros subsídios do Chips Act em participações acionárias. Contudo, a aceitação dessa ideia ainda está em análise dentro da administração e não se sabe se houve diálogo com outras empresas.
Intel em crise
A questão crucial a ser debatida é se essa ajuda governamental pode realmente reverter a crise da Intel. A companhia enfrenta vendas estagnadas, prejuízos recorrentes e uma luta dura para retomar sua liderança tecnológica. O novo CEO, Lip-Bu Tan, está implementando uma reestruturação voltada para cortes de custos e demissões.
A notícia sobre um potencial investimento do governo fez as ações da Intel dispararem, registrando a maior alta semanal desde fevereiro. Entretanto, após a Bloomberg divulgar as negociações, as ações sofreram queda de 3% na segunda-feira.
É importante destacar que, caso este plano avance, a Intel talvez não receba um valor superior ao que já estava previsto, mas em um ritmo acelerado. Assim como outros beneficiários do Chips Act, a empresa deve receber os recursos gradualmente, condicionados ao cumprimento de metas. Até janeiro, já havia recebido US$ 2,2 bilhões.
Ainda não está claro se essa quantia será parte da eventual conversão em ações, ou se houve novos repasses desde que Trump assumiu. Vale lembrar que a maioria dos subsídios da lei aprovada em 2022 foi liberada sob a administração Biden.
Recentemente, Tan se encontrou com Trump na Casa Branca, o que possibilitou as discussões. Antes crítico por seus vínculos com a China, o presidente agora elogiou o CEO, reconhecendo sua “história incrível”. Fontes asseguram que Tan permanecerá no cargo.
O futuro da Intel tem sido uma preocupação constante em Washington. A empresa, que foi pioneira, perdeu espaço para a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), a líder mundial na fabricação de semicondutores. Essa situação complica os esforços para trazer de volta a produção de chips para os EUA, que foi transferida para a Ásia nas últimas décadas.
Embora TSMC e a sul-coreana Samsung Electronics expandam suas operações no território americano, o governo considera fundamental que a Intel produza chips de ponta dentro do país. Durante a administração Biden, chegaram a ser discutidas fusões improváveis, como com a GlobalFoundries. Por sua vez, a equipe de Trump avaliou se a TSMC poderia operar fábricas da Intel, proposta que não avançou. Além disso, a possibilidade de atrair investimentos dos Emirados Árabes Unidos também foi considerada.
Caso confirmada, a aquisição de participação acionária na Intel se juntará a uma tendência crescente de maior intervenção do governo em setores estratégicos. A administração de Trump já garantiu 15% da receita de algumas vendas de chips destinadas à China e assumiu uma “ação dourada” na US Steel como condição para autorizar sua venda a um grupo japonês.
Outro movimento sem precedentes ocorreu no mês passado, quando o Departamento de Defesa anunciou a compra de US$ 400 milhões em ações preferenciais da MP Materials Corp., produtora americana de terras raras, tornando-se seu maior acionista, com cerca de 15% da companhia.
©️2025 Bloomberg L.P.

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