Consumo
Google e Samsung lançam headset de realidade mista para competir com Apple e Meta
Tecnologia em ascensão! Google e Samsung unem forças para desafiar Apple e Meta no mercado de realidade mista.
A Alphabet, através da sua subsidiária Google, juntou forças com a Samsung para revolucionar o setor de realidade mista. Ambas as empresas anunciaram uma nova parceria que traz um sistema operacional inédito e um headset projetado para competir diretamente com os inovadores dispositivos da Apple e da Meta.
Denominada como uma colaboração “de equipe”, as duas gigantes apresentaram uma versão adaptada do Android que atende ao universo XR — a sigla que abrange as tecnologias de realidade estendida, englobando tanto a realidade virtual quanto a aumentada. O headset em questão, batizado de Project Moohan pela Samsung, tem sua origem na palavra coreana que significa “infinito”.
Com essa iniciativa, as duas empresas visam impulsionar um mercado que até agora tem enfrentado desafios para decolar. O Vision Pro da Apple, que foi lançado por US$ 3.499, ainda se limita a um nicho, devido ao seu custo elevado e peso. Enquanto isso, a Meta tem alcançado sucesso moderado com produtos de VR mais acessíveis, mas carece de dispositivos de realidade mista de alta performance.
O novo Android proporcionará a diversos fabricantes a capacidade de criar dispositivos XR — ainda se podendo optar por headsets ou óculos mais leves — utilizando os avanços mais recentes em inteligência artificial. A expectativa é que a Google repita o fenômeno que assistiu com o sistema Android, amplamente utilizado por smartphones. De acordo com a Google, empresas como Sony Group Corp., Xreal Inc. e Lynx Mixed Reality estão comprometidas com o desenvolvimento dos novos dispositivos.
“O momento para XR é agora”, afirmou Sameer Samat, executivo da Google responsável pela supervisão do ecossistema Android. Ele não hesitou em mencionar que a Google já tem uma história no espaço da realidade aumentada, lembrando do Google Glass, que não conseguiu ter a aceitação esperada há uma década. “Naquela época, a tecnologia ainda não estava pronta, mas nunca deixamos de acreditar na visão do futuro que o XR poderia oferecer.”
Os dispositivos de realidade mista oferecem uma combinação entre as entradas do mundo real e as imersões da realidade virtual, proporcionando uma experiência que tem sido muito associada ao universo dos games. A realidade aumentada permite sobrepor dados e gráficos ao que os usuários estão observando ao seu redor.
De acordo com Samat, a Google vem desenvolvendo o Android XR há vários anos, mas teve uma pausa estratégica para reconstruir o software com foco em inteligência artificial. Agora, as funcionalidades de IA são essenciais para este novo sistema operacional. Por exemplo, óculos baseados no Android XR poderão utilizar câmeras externas para analisar móveis recém-adquiridos e oferecer instruções detalhadas para montagem. Em um headset, será possível planejar viagens no Google Maps de forma inteligente.
As empresas estão apresentando o Android XR a potenciais parceiros em um evento voltado para desenvolvedores que acontece na quinta-feira, em Nova York. O headset da Samsung será o primeiro produto Android XR a chegar ao mercado, com previsão de lançamento para o próximo ano.
Contrastando com a abordagem da Google, a Apple não possui intenções de liberar o software do Vision Pro — o visionOS — para outros fabricantes de dispositivos. Em contrapartida, a Meta informou que está desenvolvendo uma versão do seu sistema operacional Horizon para ser utilizada em headsets de terceiros, incluindo aqueles da Asustek Computer Inc. e Lenovo Group Ltd. A Meta também apresentou um novo par de óculos AR chamados Orion, um campo em que a Apple ainda não tomou posição oficialmente.
“O Apple Vision Pro é um dispositivo impressionante, mas é único”, declarou Samat. “Nós enxergamos uma variedade de dispositivos que atenderão a diferentes necessidades dentro do ecossistema.”
Samat acredita que o Android poderia viabilizar headsets especializados para diversas finalidades, desde jogos a assistências em cirurgias e esportes radicais. “Nossa expectativa é que o Android XR ofereça soluções para tudo isso”, concluiu o executivo.
Durante uma série de demonstrações nas instalações da Google em Mountain View, Califórnia, a Samsung e a Google revelaram as capacidades do novo headset, além de exibir protótipos de óculos desenvolvidos pela própria Google.
O dispositivo da Samsung possui um design similar ao Apple Vision Pro, apesar de apresentar uma frente curva, alto-falantes embutidos e telas de alta definição. Ele também consegue alternar entre os modos VR e AR e conta com um pacote de bateria externo conectado por cabo.
Esteticamente, o produto é revestido em plástico cinza com almofadas que oferecem conforto, permitindo seu uso com ou sem um componente que bloqueia a luz externa, importante para a experiência de uso. Além disso, o pacote de bateria é intercambiável e possui conexão via USB-C. A Samsung indica que diversas opções de pacotes de baterias estarão disponíveis, com diferentes durações.
Um diferencial em relação ao Apple Vision Pro é que o dispositivo da Samsung é percebido como mais leve e confortável para longos períodos de uso. Ele inclui ainda uma grande almofada na parte posterior da cabeça do usuário, complementada por um ajuste plástico que se adapta ao formato da cabeça. O campo de visão do headset Samsung é maior que o do Vision Pro, permitindo visualizar mais conteúdo simultaneamente.
“Fizemos estudos aprofundados”, disse Won-Joon Choi, chefe de pesquisa e desenvolvimento da divisão móvel da Samsung. “As primeiras impressões são fundamentais”, afirmou, sublinhando a relevância do conforto na experiência de uso de dispositivos vestíveis.
Com o novo headset, os usuários podem realizar um toque duplo na lateral para alternar entre os modos AR e VR. Isso permite que eles se movam entre a percepção do mundo real e ambientes mais imersivos, como montanhas ou outros cenários em VR. O Vision Pro, por sua vez, oferece um mecanismo semelhante, onde os usuários definem seu nível de imersão girando uma coroa como em um relógio.
A interface do Android XR é bastante parecida com o visionOS, permitindo ao usuário organizar seu espaço virtual com várias janelas que podem ser redimensionadas e movidas livremente. O sistema já inclui muitos dos aplicativos populares do Android e serviços da Google, como Maps, YouTube, Google TV, Photos, Docs e Chrome, funcionando também como um computador convencional controlado por mouse e teclado.
Adicionalmente, o dispositivo da Samsung pode ser controlado por meio de gestos das mãos e dos olhos. A diferença é que, pelo menos no protótipo apresentado, os usuários precisam levantar as mãos para interagir com certos elementos visuais, enquanto no Vision Pro, os usuários podem manter as mãos no colo.
No geral, a operação da interface mostrou-se fluida e apresentou características que se esperam de headsets de realidade virtual, como reprodução de vídeo imersiva. Além disso, semelhante ao visionOS, o software conta com um recurso que transforma fotos em memórias em 3D. Entretanto, um ponto vital é que essa função também será disponível para vídeos já gravados, algo que é uma vantagem em relação ao dispositivo da Apple.
No que diz respeito ao fornecimento de conteúdo para o dispositivo, a Google planeja oferecer uma vasta gama de vídeos estereoscópicos já disponíveis no YouTube. Enquanto isso, a Apple investe na produção de seus próprios conteúdos em VR para o Vision Pro, com lançamento gradual de mais material. Assim como a Apple, a Google oferecerá um kit de desenvolvimento de software para que desenvolvedores externos possam criar aplicativos, além de garantir que aplicativos já existentes para dispositivos Android sejam compatíveis e acessíveis através da Google Play Store.
Ainda não foi divulgado o preço do headset da Samsung nem a data específica de lançamento no próximo ano, mas a empresa sinalizou que a expectativa é que o valor fique abaixo dos US$ 3.499 do Vision Pro.
“Estamos analisando criteriosamente qual deveria ser a faixa de preço atrativa para os consumidores”, explicou Choi. Um representante da Samsung reforçou que a empresa tem plena consciência de que preços elevados anteriormente barraram a adoção mais ampla dessa tecnologia.
O headset conta com o chip XR2 Gen 2 da Qualcomm Inc., essencial para experiências em realidade mista. Representantes da Samsung afirmaram que a empresa decidiu iniciar com um headset, já que oferece a experiência “mais rica”, mas os óculos também estão em pauta futuros lançamentos.
A Google tem uma equipe de engenharia de hardware que produz dispositivos como os smartphones Pixel e smartwatches, mas atualmente não possui planos de lançar outros headsets de VR. O Daydream, um dispositivo de VR lançado pela Google em 2016, foi descontinuado em 2019.
A Samsung, que utiliza o sistema operacional Tizen em TVs, relógios e alguns smartphones, pretende continuar com o Android XR para o futuro. “Não vemos o benefício em desenvolver uma plataforma alternativa”, afirmou Choi.
Os primeiros protótipos de óculos mostrados pela Google estão integrados à sua iniciativa Project Astra. Esses óculos com Android XR utilizarão a inteligência artificial para executar tarefas e também proporcionarão recursos como direções passo a passo para pedestres.
Os protótipos utilizam tecnologia microLED, adquirida pela Raxium, uma empresa comprada pela Google para avançar no desenvolvimento de óculos de realidade aumentada. Essa abordagem garante imagens vibrantes sem exigir grande consumo de energia. Os óculos poderão coletar dados através de câmeras externas e se conectar a smartphones.
A Google ainda não anunciou quando os primeiros óculos com Android XR estarão prontos. A empresa está fornecendo protótipos para testes e “trará produtos ao mercado quando o momento for adequado”, completou Samat.
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