Em um marco impressionante de 172 anos, a cervejaria Lang-Bräu, localizada no norte da Baviera, resistiu a guerras e crises, mas agora está prestes a fechar suas portas em 2024 devido à necessidade de um investimento de €12 milhões (aproximadamente R$ 72 milhões) em modernização. Essa realidade é um sinal claro dos tempos que mudaram.
“Cervejarias são incrivelmente resilientes”, comentou Richard Hopf, que administrava o negócio familiar e agora se vê forçado a encerrar suas atividades. “Mas com vendas caindo e custos subindo, a visão de longo prazo se torna impossível.”
A situação da Lang-Bräu ilustra uma tendência preocupante que se espalha por cerca de 1.500 cervejarias na Alemanha. A tradicional cultura cervejeira do país está diante de uma transformação estrutural: os jovens estão bebendo menos.
A Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) não só consome álcool com menos frequência como frequentemente opta por versões sem álcool. Em números, o consumo médio de cerveja por alemão caiu para 88 litros por ano, em comparação com 126 litros em 2000. E para piorar, a produção nacional de cerveja teve uma queda recorde de 6,3% no primeiro semestre de 2025, conforme dados do instituto oficial de estatísticas.
Holger Eichele, presidente da associação de cervejeiros da Alemanha, demonstrou preocupação ao afirmar: “Até mesmo negócios seculares estão sob ameaça.”
Essa não é uma questão que diz respeito apenas à Alemanha. Jovens em toda a Europa e nos Estados Unidos estão seguindo o mesmo caminho, com razões que incluem menor renda disponível, um foco crescente em saúde e bem-estar, e uma consciência ampliada acerca dos riscos associados ao álcool.
“Todo mundo sabe que álcool faz mal”, disse Carla Schüßler, uma estudante de 22 anos.
“É difícil manter a forma bebendo”, concordou Luke Heiler, um profissional de laboratório químico que treina regularmente.
A ascensão das cervejas sem álcool
Em resposta a essa mudança, o setor cervejeiro está expandindo drasticamente a oferta de cervejas sem álcool, que quase dobrou na última década. Atualmente, há mais de 800 rótulos disponíveis na Alemanha. Apesar de que 9 em cada 10 cervejas vendidas ainda contenham álcool, o mercado de baixo teor alcoólico (até 0,5%) é o único segmento em crescimento.
“Nosso principal produto alcoólico não parece ter grande potencial de crescimento nas próximas décadas”, admitiu Peter Lemm, porta-voz da Krombacher, uma das maiores cervejarias da Alemanha. “O crescimento está claramente no setor de cervejas com baixo ou nenhum teor alcoólico.”
Além de diversificar os portfólios, as empresas têm investido em novos formatos, como radlers (cerveja misturada com refrigerantes) e bebidas mistas com sucos gaseificados. As campanhas publicitárias em estações de trem e na televisão promovem o conceito de “divertido sem álcool” — uma ideia impensável em um país que valoriza festivais como o Oktoberfest e ainda obedece a uma lei de pureza da cerveja com mais de 500 anos.
Tecnologia: um desafio no caminho
Criar uma cerveja sem álcool que mantenha um sabor autêntico exige tecnologia avançada. A técnica mais eficaz envolve a remoção do álcool após a fermentação, mas isso pode demandar investimentos de até €1 milhão, conforme explica Thomas Becker, professor especializado em produção de cerveja em Munique.
Cervejarias menores, como a Lang-Bräu, costumam optar por interromper a fermentação precocemente para evitar a formação de álcool, o que resulta em um sabor doce e distante do perfil das cervejas tradicionais.
“As pequenas não têm recursos para competir nesse mercado já saturado”, frisou Becker.
Além disso, grandes empresas lançam novos produtos com agilidade, têm acesso a marcas consolidadas e dominam a distribuição — criando uma barreira quase intransponível para os pequenos produtores.
A Lang-Bräu, por exemplo, nunca tentou entrar no mercado de cervejas sem álcool. Hopf acredita que, mesmo se houvesse tentativas, isso não mudaria o destino da cervejaria.

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