A administração do presidente Donald Trump está prestes a implementar restrições significativas no envio de chips de inteligência artificial (IA) de empresas como a Nvidia para a Malásia e a Tailândia. Essa iniciativa visa combater o crescente temor de que esses semicondutores acabem sendo contrabandeados para a China.
De acordo com informações de fontes que preferiram permanecer anônimas, foi proposta uma regra preliminar pelo Departamento de Comércio norte-americano. Essa normativa procura garantir que a China, que já enfrenta proibições rigorosas da venda dos avançados processadores da Nvidia, não possa adquirir esses componentes através de intermediários localizados nesses países do Sudeste Asiático. Vale destacar que esta regra ainda está em fase de discussão e pode ser alterada, conforme declarado por essas fontes.
Além disso, as autoridades norte-americanas pretendem alinhar os controles para a Malásia e a Tailândia com uma revogação formal das restrições globais da chamada regra de difusão de IA, uma decisão que gerou descontentamento entre aliados dos EUA e até mesmo entre empresas de tecnologia, incluindo a Nvidia, que se mostraram críticas. Os Estados Unidos continuam a manter suas restrições sobre semicondutores direcionadas à China, sendo essas medidas reforçadas desde 2022, e que também abrangem mais de 40 outros países, conforme uma nova normativa de 2023 que procura mitigar preocupações sobre contrabando e reforçar a transparência nos mercados.
Este movimento representa o primeiro passo formal na prometida revisão da política de difusão de IA, que o governo Trump busca implementar após o Departamento de Comércio iniciar em maio a substituição da regra anterior por uma “estratégia ousada e inclusiva”. Contudo, a medida atual ainda não resolve questões cruciais sobre a segurança do uso de chips americanos em data centers situados no exterior, um debate especialmente relevante para a região do Oriente Médio. A incerteza ainda persiste quanto à possibilidade de regulamentação adicional para o envio de chips de IA a outros países além da Malásia e da Tailândia.
O Departamento de Comércio não se manifestou sobre as solicitações de comentários. Durante uma audiência no Congresso, o secretário Howard Lutnick notificou os legisladores que os EUA “permitirão que nossos aliados adquiram chips de IA, desde que sejam operados por um data center americano aprovado, e que a nuvem que acessa esse data center também seja operada por uma empresa americana chancelada”.
A Nvidia, a maior fabricante de chips de IA, optou por não comentar a situação. Adicionalmente, autoridades do governo da Tailândia e da Malásia não responderam aos pedidos de informação. O CEO da Nvidia, Jensen Huang, já havia anteriormente afirmou que não há “evidências” de desvio de chips, sem especificar países. A Tailândia, em resposta a questionamentos anteriores sobre riscos de contrabando, ressaltou que aguarda detalhes. Já o Ministério de Investimento, Comércio e Indústria da Malásia defendeu que políticas claras e consistentes são essenciais para o avanço do setor tecnológico.
Funcionários do governo Trump estão intensificando as medidas para coibir o contrabando de chips. A nova regra preliminar exigiria que a venda de chips de IA para a Malásia e a Tailândia recebesse aprovação dos EUA, de acordo com a nova proposta.
Autoridades em Washington têm discutido há anos quais países deveriam ter permissão para importar chips americanos de IA e sob quais condições. De um lado, a demanda global por hardware da Nvidia continua a crescer, com formuladores de políticas dos EUA desejando que o mundo adote a tecnologia americana para desenvolver sistemas de IA, antes que a China consiga estabelecer uma alternativa competitiva. Por outro lado, o receio permanece de que, uma vez que esses semicondutores deixem o território dos Estados Unidos e seus aliados, possam acabar nas mãos da China ou que empresas chinesas de IA consigam acessar remotamente data centers fora do país asiático.
O Sudeste Asiático é um ponto crítico nesse cenário. Empresas como a Oracle têm investido intensamente em data centers na Malásia, e dados comerciais indicam um aumento significativo nos envios de chips para a região. Sob a pressão de Washington, autoridades malasianas prometeram reforçar a supervisão dessas importações, mas a nova regra do Departamento de Comércio evidência que as preocupações dos EUA ainda persistem.
Além disso, as vendas de semicondutores para a Malásia estão envolvidas em um processo judicial em Cingapura, onde três indivíduos estão sendo acusados de fraudar clientes quanto ao destino final de servidores de IA, que foram inicialmente enviados da ilha para a Malásia e que podem conter chips avançados da Nvidia. É importante ressaltar que a Nvidia não é parte dessa investigação e não tem nenhuma alegação contra si.
As restrições de exportação para a Malásia e a Tailândia incluirão várias medidas destinadas a aliviar a pressão sobre as empresas que operam significativamente nesses países. Entre as disposições consideradas, está a possibilidade de que empresas baseadas nos EUA e em um número selecionado de países aliados continuem a enviar chips de IA para ambas as nações, sem a necessidade de licenciamento, por um período após a implementação da nova norma. As regras de licenciamento também manterão certas exceções para assegurar que a cadeia de suprimentos não seja interrompida — uma consideração crítica, já que muitas empresas de semicondutores dependem das instalações do Sudeste Asiático para etapas essenciais da fabricação, como o empacotamento, que é o encapsulamento dos chips destinados a dispositivos.

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