Mercados
Eleições na Argentina: Massa à frente e preços em alta com movimento pró-mercado
A candidatura de Sergio Massa marca uma mudança no cenário político argentino, enquanto sinais de um governo pró-mercado impactam a economia e desbancam Cristina Kirchner.
A corrida presidencial na Argentina avança em direção a um governo pró-mercado, com a candidatura do ministro da Economia, Sergio Massa, que foi escolhido pelo bloco peronista. Essa mudança já se reflete nos mercados financeiros.
Nesta segunda-feira (26), os títulos argentinos no exterior registraram sua maior alta desde março, impulsionados pela escolha de Massa como representante da coalizão governista nas eleições de outubro.
O câmbio paralelo também presenciou um aumento de 6% antes de estabilizar suas altas, evidenciando a expectativa do investidor. A candidatura de Massa sinaliza um possível declínio da influência da vice-presidente Cristina Fernandez de Kirchner, uma figura que defende muitas das políticas que contribuíram para a crise financeira do país. “Esta é Cristina perdendo poder”, afirmou Mariel Fornoni, diretora da Management & Fit. “Agora, as opções parecem muito mais voltadas ao mercado.”
Os investidores têm esperanças de que as eleições possam finalmente pôr fim a anos de administração econômica desastrosa, marcada por uma inflação de três dígitos, enormes perdas cambiais, uma economia em retração e um crescente descontentamento social.
Os analistas, atentos a uma possível mudança para a direita, ficaram entusiasmados ao observar que Eduardo de Pedro, um aliado próximo de Kirchner, desistiu de sua candidatura em favor de Massa.
Essa mudança política poderia romper com a tendência esquerdista que dominou a América Latina recentemente.
Enquanto a desigualdade e o descontentamento social aumentaram durante a pandemia de Covid, países como Colômbia, Chile, Peru e Brasil viram eleitores optarem por líderes que priorizam questões sociais. No entanto, na Argentina, a confiança no governo populista desmoronou desde que as políticas implementadas se mostraram insuficientes para resolver a crise econômica que começou em 2018.
Com Massa como favorito nas primárias de 13 de agosto, o cenário se revela fragmentado entre candidatos pró-mercado. Patricia Bullrich e Horacio Rodriguez Larreta, o prefeito de Buenos Aires, se enfrentam em suas próprias primárias, enquanto Javier Milei, um economista libertário, emerge como outro competidor significativo.
“Se a oposição se polarizar, um grande espaço ficará aberto que o bloco peronista tentará ocupar estrategicamente”, comentou Juan Cruz Diaz, da Cefeidas Group. O novo presidente da Argentina enfrentará a dura tarefa de reverter uma economia em declínio, com uma inflação anual superior a 110% e quase 40% da população vivendo na pobreza.
Além disso, a Argentina encontra-se sem muitas reservas em dólares, lidando com uma seca severa e em vias de iniciar o pagamento de um empréstimo de US$ 44 bilhões ao FMI.
Ministro e candidato: as responsabilidades de Massa
As dificuldades econômicas que a Argentina enfrenta também recaem sobre Massa, que ao longo de seu mandato como chefe da política econômica, teve que lidar com um contexto desfavorável. Os títulos soberanos do país foram oferecidos a menos de 30 centavos de dólar durante grande parte de seu mandato de 10 meses, o que sugere a expectativa de uma reestruturação dolorosa por parte dos investidores. Massa ampliou os controles de preços, reforçou as restrições de importação e implementou diversas taxas de câmbio.
“Os problemas fundamentais da Argentina ainda persistem”, adverte Alberto Rojas, economista sênior do Credit Suisse. Contudo, nesta segunda-feira, os títulos em dólares com vencimento em 2030 apresentaram uma leve alta, subindo 1,6 centavo para 31,6 centavos de dólar.
Com pagamentos ao FMI programados até junho, a equipe econômica de Massa se apressa para fechar um acordo que possa prolongar o prazo de pagamento. Como candidato e ministro, Massa pode exercer uma influência maior nas negociações com o FMI, promovendo uma política monetária mais responsável. “Sua posição como candidato presidencial pode levar a um apoio adicional do governo Biden, aumentando sua influência nas negociações com o FMI”, afirmou Hector Torres, ex-diretor do FMI.
Investidores não devem esperar uma mudança abrupta nas políticas de Massa para uma abordagem mais pró-mercado, mas seu status como líder peronista certamente aumenta sua capacidade de negociação com o FMI e aliados significativos, como sindicatos e setores econômicos. “Não é o mesmo negociar com um ministro que pode perder seu cargo em breve do que com um que pode se tornar presidente”, enfatizou Martin Rapetti, da consultoria Equilibra. “A capacidade de Massa de coordenar e negociar como ministro se fortaleceu significantemente.”
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