A Diageo está passando por uma revisão crítica de seu portfólio, que inclui a icônica Guinness e uma joint venture com a LVMH, enquanto a CEO Debra Crew tenta reviver o crescimento da gigante de bebidas britânica.
Fontes próximas à empresa indicam que a Diageo está considerando diversas possibilidades, incluindo uma potencial cisão ou venda da Guinness, com um valor estimado superior a US$ 10 bilhões. Essas deliberativas poderiam abrir uma via dupla — listagem da marca ou busca por um comprador — dependendo do que os diretores decidiram.
Além disso, a participação de 34% da Diageo na divisão de bebidas da LVMH, Moet Hennessy, também está sob a lupa. As decisões ainda são preliminares e podem ou não resultar em um acordo.
Após esse anúncio, as ações da Diageo viram um salto significativo, subindo até 6,8% na sexta-feira em Londres, o maior aumento intradiário em quatro anos. Essa reação positiva seguiu um período de estagnação nas bolsas, desde que Crew assumiu a liderança.
Debra Crew enfrenta uma pressão crescente para reverter o que tem sido um desempenho medíocre da Diageo, com vendas em declínio nos EUA e na China, além de um inesperado alerta sobre lucros devido ao excesso de estoque em mercados como México e Brasil.
Com a expectativa de resultados financeiros sendo revelados no próximo mês, pode haver um ajuste nas metas de crescimento, redefinindo expectativas para níveis mais realistas. Analistas estimam que mudanças maiores podem ser pertinentes, já que o novo CFO, Nik Jhangiani, investiga a estrutura diversificada da empresa.
Se a Diageo decidir reforçar sua posição na joint venture, isso provavelmente exigirá uma oferta de direitos ou uma venda do negócio de cerveja, alertou o analista Trevor Stirling. O ex-CEO, Ivan Menezes, já havia declarado o interesse da Diageo em adquirir a Moet Hennessy, caso a oportunidade surgisse.
Embora a Diageo tenha sempre negado qualquer plano de vender sua linha de cervejas, Stirling sugere que as circunstâncias atuais podem levar a reconsiderações. A empresa ainda não forneceu comentários sobre suas estratégias, assim como a LVMH.
A Diageo já está em busca de um comprador para sua vodka Ciroc e pode se desfazer de outras marcas que não estão performando bem.
Independentemente de uma reestruturação mais ampla, Crew — a primeira mulher a liderar a Diageo, que entrou no cargo após o falecimento de Menezes — enfrenta um cenário desafiador. O aumento dos preços e taxas de juros está impactando as escolhas dos consumidores, que continuam optando por alternativas mais baratas.
A queda nas vendas anuais reportadas em julho passado marcou a primeira desde a pandemia, mas a orientação de crescimento a longo prazo, de 5% a 7%, apresentada por Menezes em 2021, permanece inalterada, uma situação que analistas esperam que seja revisada.
“As decisões imprudentes de 2021 podem estar nos custando caro agora”, comentou Roseanna Ivory, co-gerente do abdrn Global Equity Fund, acionista da Diageo.
Recentemente, o investidor Terry Smith liquidou sua participação na empresa, apontando preocupações com a gestão e a crescente concorrência de bebidas alternativas.
O cirurgião geral dos EUA também elevou preocupações ao sugerir que bebidas alcoólicas deveriam ter avisos sobre os riscos à saúde. Isso incrementa um movimento crescente de pessoas abandonando ou reduzindo o consumo de álcool, conforme apontou Kai Lehmann, analista da Flossbach von Storch.
Assim como a Diageo, outras destilarias, como Pernod Ricard e Remy Cointreau, também estão enfrentando dificuldades devido ao arrefecimento da demanda no pós-pandemia.
No entanto, a Diageo pode estar em uma posição mais forte para se recuperar, com dados da Nielsen mostrando um desempenho superior devido a marcas como Don Julio e Crown Royal.
Após um recente acúmulo de estoque na América Latina, Crew fez mudanças na liderança. A recuperação na região, no entanto, tem sido lenta, com quedas significativas nas vendas.
A dívida da Diageo cresceu para US$ 21,5 bilhões, o que suscita maiores preocupações em relação à gestão financeira, e novas asignações esperadas de Jhangiani prometem trazer disciplina aos custos e ênfase no crescimento e lucros.
À medida que novos desafios se desenrolam, Crew, Jhangiani e o próximo presidente, John Manzoni, terão que avaliar até onde ir na busca de soluções, sejam elas mais sustanciais ou apenas melhorias incrementais, enquanto a próxima divulgação de resultados se aproxima, gerando expectativa sobre a performance contínua da Don Julio e da Guinness, bem como a capacidade de administração da dívida.
“Precisamos ver ações claras na redução da dívida, que tem corroído os lucros”, afirmou Lehmann.

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