Connect with us

Economia

Desânimo na elite russa: Putin e o futuro sombrio da guerra

A elite russa expressa crescente frustração com a guerra na Ucrânia. A possibilidade de um conflito ‘congelado’ parece ser a única saída aceita.

on

Os ânimos estão em baixa entre os membros da elite russa, que agora observam com ceticismo as perspectivas da guerra do presidente Vladimir Putin na Ucrânia. Mesmo aqueles que eram otimistas consideram que um estado de conflito “congelado” é o melhor resultado que o Kremlin consegue vislumbrar neste momento.

Fontes próximas à elite política e empresarial relatam o cansaço generalizado em relação à guerra, mas a maioria hesita em questionar a determinação de Putin em continuar os combates. Com isso, a confiança na liderança do presidente, que já foi um pilar sólido, está claramente abalada. Como observou Kirill Rogov, ex-assessor do governo russo, agora é alarmante como a ideia de que Putin pode não vencer este conflito se disseminou entre os grupos de poder.

Essencialmente, a possibilidade de negociações futuras que resultem em um impasse parece ser o melhor cenário, permitindo que Putin anuncie uma vitória de Pirro aos seus compatriotas ao manter partes do território ucraniano já ocupadas.

O crescente desânimo pode intensificar um jogo de culpas entre os diversos setores da elite russa, especialmente enquanto sofrimentos e divisões internas ganham notoriedade. O Kremlin, enfrentando uma contra-ofensiva ucraniana robusta, apoiada por bilhões de dólares em ajuda militar ocidental, vê suas chances de avanço real se dissiparem, após um inverno marcado por estagnação no front.

Os eventos recentes, como a ruptura significativa de uma barragem na Ucrânia, atribuída ao governo de Kiev em função da Rússia, apenas acrescentam complexidade ao cenário. A responsabilidade foi negada pelo Kremlin, mas o impacto nas áreas afetadas é inegável.

A insegurança também aumenta, com ataques aéreos intensificados dentro da própria Rússia, destacando a vulnerabilidade de Putin como protetor da segurança nacional. A crise revelou fissuras, mesmo entre aqueles que antes estavam alinhados com o regime, com nacionalistas se manifestando contra as falhas militares e clamando por mobilizações em larga escala.

Reconhecendo os erros estratégicos, Sergei Markov, um consultor próximo ao Kremlin, observa que a expectativa de que a Rússia dominaria a Ucrânia rapidamente não se materializou, deixando um rastro de desilusão.

Ainda assim, Putin e seus principais conselheiros insistem que a derrota não é uma opção. Essa convicção, contudo, traz à tona questões sobre o significado real da vitória, especialmente após falhas militares significativas.

A elite, alguns ainda temerosos da repressão estatal, continua a trabalhar sob a crença de que as suas vozes nada valem. Menos dispostos a arriscar, muitos continuam a viver sob os rígidos controles do governo, que promove uma narrativa de guerra justa contra inimigos externos.

A repressão se intensificou sob o pretexto de proteger a Rússia, com a dissidência severamente punida. A classe média, que anteriormente servia de base para a oposição, agora reflete o temor e, em muitos casos, opta pela emigração.

Por outro lado, mesmo com a apoio da população permanecendo relativamente alto, as preocupações sobre o recrutamento militar e suas consequências para a vida familiar estão em ascensão. Uma pesquisa recente mostrou um aumento significativo na ansiedade da população sobre o impacto da guerra em suas vidas.

Yevgeny Prigozhin, líder do grupo Wagner, tem alertado sobre as dificuldades que ainda estão por vir, enfatizando a necessidade de ações mais decisivas e mobilização total da sociedade.

O partido Rússia Unida, em meio a essa tensão, começou investigações após um legislador descontentar-se com a execução da guerra, expressando que não foram atingidos os objetivos iniciais, o que revela um racha potencial na narrativa oficial.

Muitos dentro do espectro da elite política, que deveriam ser os pilares do apoio a Putin, começam a levantar a questão de um cessar-fogo diante da realidade imposta pelo conflito, apesar de um fervoroso apoio à ideia de continuar a luta.

Cabe ressaltar que a Rússia ainda deve enfrentar restrições internacionais, consequência de seu próprio comportamento agressivo. A pressão aumentada sobre a economia e as sanções ocidentais não dão sinais de arrefecimento, dificultando ainda mais o futuro econômico do país.

O diagnóstico é claro: um futuro sombrio aguarda a elite russa que se vê presa em um ciclo de derrota e desilusão. Como salienta a consultora Alexandra Prokopenko, “Ninguém vê luz no fim do túnel – o sentimento dominante é de pessimismo. O melhor cenário que podem antecipar é uma saída sem humilhação.”

© 2023 Bloomberg L.P.

You must be logged in to post a comment Login

Leave a Reply