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Economia

Desaceleração global se torna evidente apesar das tarifas de Trump

Sinais de desestabilização no comércio mundial surgem após a pausa de Trump nas tarifas, mas a incerteza persiste.

Donald Trump em evento
<p>Donald Trump Fotógrafo: Chris Kleponis/CNP/Bloomberg</p>

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou uma pausa parcial em sua agressiva estratégia tarifária. Entretanto, as consequências dessa política se revelam com os primeiros sinais de desaceleração no comércio global. Enquanto empresas ao redor do mundo suspendem pedidos, a guerra comercial entre EUA e China continua a se intensificar.

Na quarta-feira, Trump anunciou um aumento drástico nas tarifas sobre produtos chineses, elevando-as para 125%, ao mesmo tempo em que decidiu dar um respiro de 90 dias nas tarifas para outras economias – que enfrentarão uma alíquota fixa de 10%. Em resposta, a China impôs novas tarifas, aumentando a alíquota para 84%. Este cenário leva as maiores potências econômicas do mundo a um estado de desacoplamento, com tarifas elevadas que muitos economistas consideram proibitivas para o comércio bilaterial.

Apesar da pausa ter animado os mercados financeiros, a realidade é que as tarifas de Trump já estão desarticulando a economia global. O clima de incerteza que paira sobre empresas e consumidores é palpável e se agrava com a política tarifária do presidente. Economistas, como Rana Sajedi, Maeva Cousin e Tom Orlik, da Bloomberg Economics, afirmam que a intensidade das tarifas só intensifica a insegurança que permeia o comércio internacional.

Vale notar que mesmo com essa trégua temporária, a tarifa média dos EUA subiu para 24%, um aumento de quase 22 pontos percentuais desde o início do segundo mandato de Trump. As repercussões no crescimento e na inflação são evidentes e se desenrolarão nos próximos dois a três anos.

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A Amazon já começou a cancelar pedidos da China e de outras regiões da Ásia, segundo a Bloomberg. A Haas Automation, maior fabricante de máquinas-ferramenta do Ocidente, está reduzindo a produção e cortando horas extras de 1.700 colaboradores em sua fábrica na Califórnia, citando uma queda acentuada na demanda tanto interna quanto externa.

Essas ações refletem uma pausa mais ampla nos pedidos, que já afeta as cadeias de suprimento globais com a implementação das tarifas. Dados da Vizion Inc., empresa de análise de cadeia de suprimentos, mostram que as reservas globais de contêineres caíram 49% entre 1º e 8 de abril, enquanto as importações dos EUA recuaram 64% comparadas à semana anterior. As reservas na China também diminuíram 36%, resultando em um retrocesso global de 48% em uma semana.

“A abordagem de ‘esperar para ver’ está se disseminando por milhões de embarques agendados todos os meses”, declarou Kyle Henderson, CEO da Vizion.

Jake Colvin, presidente do National Foreign Trade Council, ressaltou que, embora a pausa de Trump seja um alívio temporário, as tarifas sobre a China continuarão a pressionar a dinâmica comercial. “Esse intervalo pode minimizar a dor imediata, mas não elimina a incerteza que está travando decisões de comércio e investimento das empresas”, observou.

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David Warrick, ex-responsável pela cadeia global de suprimentos da Microsoft, que hoje está na Overhaul, aconselha que a melhor estratégia para muitas empresas é “correr para esperar”.

“Decidir sobre uma estratégia agora parece arriscado, visto que tudo muda rapidamente”, afirmou Warrick.

Expectativas são de uma significativa queda nos embarques entre os EUA e a China nas próximas semanas. Isso ocorre após um aumento recente na demanda por transporte aéreo para antecipar a aplicação das tarifas. Além disso, no cenário médio, os custos mais elevados devem impactar a demanda americana por produtos chineses e vice-versa, resultando em uma desaceleração nas remessas pela rota transpacífica.

Choque negativo

Robert Koopman, ex-economista-chefe da OMC, prevê que o comércio global vá enfrentar uma desaceleração nos próximos meses em virtude das tarifas. ‘Os primeiros meses do ano foram positivos devido à antecipação de exportações, mas espero uma desaceleração significativa nos próximos meses’, disse ele. O maior impacto negativo, segundo Koopman, ocorrerá nas relações entre os EUA e a China, pois as tarifas tornarão o comércio inviável, exceto para produtos que não tenham alternativas no mercado.

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Koopman também aponta que esperanças para estabilizar o comércio global podem vir de estímulos na China e na Alemanha, além de uma ofensiva industrial robusta da União Europeia, que podem mitigar os efeitos das tarifas americanas e assegurar o fluxo comercial fora da dinâmica EUA-China. Uma paralisação completa entre os dois países afetaria ambas as economias, embora as trocas bilaterais do ano passado, que totalizaram quase US$ 700 bilhões, representem menos de 3% do comércio global.

A OMC planeja anunciar novas projeções em breve, mas já alertou que o aumento das tarifas poderá induzir uma contração de aproximadamente 1% no volume do comércio global de bens neste ano – uma revisão de quatro pontos percentuais em relação à previsão anterior.

Economistas do Citigroup, em um relatório intitulado “Pausa de 90 dias nas tarifas não é tão útil quanto parece”, evidenciam que a tarifa média efetiva dos EUA está cerca de 21 pontos percentuais acima do nível de janeiro. Robert Sockin, economista sênior do Citigroup, enfatiza: ‘Com o aumento de 60% já anunciado na campanha, uma parte significativa do comércio entre EUA e China já se tornava antieconômica – e isso é ainda mais verdade com tarifas que dobram a alíquota.’

Impacto em pequenos negócios

As tarifas são uma questão crítica para muitas pequenas importadoras nos EUA, podendo mesmo determinar a sobrevivência dessas empresas. Ben Knepler, proprietário da True Places na Pensilvânia, que fabrica cadeiras de lazer vendidas por até US$ 150, solicitou aos fornecedores no Camboja que interrompessem os envios até que haja clareza sobre as tarifas. ‘Não faz sentido finalizar a produção se não conseguirmos importar o produto’, lamentou. ‘A incerteza ainda é muito grande.’

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Enquanto Knepler espera retomar a produção, sua decisão é carregada de dúvidas, como a questão de saber se Trump vai impor, após os 90 dias, a tarifa de 49% proposta em 2 de abril sobre produtos do Camboja ou se manterá a taxação base de 10% na pausa.

“Essa nova rodada de tarifas é crucial para nossa sobrevivência”, afirmou Knepler.

Empresas que buscam se adaptar às tarifas têm adotado diversas estratégias, incluindo o uso de inteligência artificial. Fred Laluyaux, CEO e cofundador da Aera Technology – que atende marcas como Unilever, Dell e Kraft Heinz –, comenta que uma das principais respostas aos custos mais altos é o uso de IA para otimizar despesas com compras. No entanto, limitando-se a empresas que não estavam preparadas para uma crise anunciada, essa solução tem suas restrições.

“Se você participou de conferências sobre cadeia de suprimentos nos últimos 15 anos, já ouviu a recomendação de diversificar, não depender de um único fornecedor. A IA pode ajudar a ajustar rotas, mas se a tarifa for de 100%, a situação se complica”, disse Laluyaux.

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Para empresas dependentes do comércio EUA-China, a melhor esperança pode ser um acordo entre as potências. Trump expressou otimismo sobre a possibilidade de um entendimento com Pequim, afirmando: ‘Acredito que faremos um acordo muito benéfico para ambos os lados. O presidente Xi é uma das mentes mais brilhantes do mundo.’

No entanto, atualmente, não há uma saída imediata para a guerra comercial, segundo Wendong Zhang, economista da Universidade Cornell. ‘Mesmo cientes dos custos econômicos que enfrentarão, a China provavelmente manterá firme sua posição por razões estratégicas e geopolíticas’, concluiu Zhang.

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