A ameaça contundente de Donald Trump em impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros provocou uma queda dramática na moeda nacional, enquanto ele intensificava a disputa contra o Brasil, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva.
Em uma comunicação pelo seu canal social, Trump não hesitou em mencionar Jair Bolsonaro — o ex-presidente de direita que enfrenta um julgamento por supostas tentativas de golpe após sua derrota nas eleições de 2022.
Trump associou suas ações à política, alegando que a mudança era “em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil às Eleições Livres e aos direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”.
As acusações contra Bolsonaro, que durante seu mandato imitou o estilo político de Trump, surgem de uma investigação ligada aos distúrbios pós-eleitorais em Brasília, que têm paralelos com a tentativa de insurreição de 6 de janeiro de 2021 em Washington.
No contexto jurídico, Bolsonaro busca consistentemente auxílio de Trump à medida que suas dificuldades legais se acumulam.
Como resultado do anúncio, o real brasileiro desvalorizar-se quase 3% em relação ao dólar americano e o iShares MSCI Brazil ETF — o maior fundo de ações brasileiras cotado nos EUA — viu uma queda de quase 2% no pregão pós-mercado.
Originalmente, o Brasil já estava programado para enfrentar uma tarifa mínima de 10% sob as tarifas “recíprocas” que Trump anunciou em abril passado.
Esta carta mais recente, uma entre mais de 20 publicadas por Trump em uma sequência de ataques, representa uma revisão significativa em relação às tarifas anteriormente estabelecidas. Embora mantendo a retórica de “reciprocidade”, o Brasil é o primeiro país a receber uma tarifa sem um superávit comercial com os EUA — uma demonstração clara da frustração de Trump.
Os EUA mantêm-se como o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China, e uma tarifa desse calibre pode impactar severamente várias indústrias brasileiras.
“Produtos de aço, transporte (especialmente aeronaves e peças), máquinas especializadas e minerais não metálicos representam uma parcela significativa das exportações brasileiras para os EUA”, afirma Felipe Arslan, CEO da Morada Capital.
Especificamente, as ações da Embraer ADR despencaram até 9% no pregão após o anúncio de Trump.
Além dos efeitos econômicos, a comunidade analítica expressa apreensão sobre as repercussões políticas das tarifas. Historicamente, os EUA e o Brasil conseguiram manter relações comerciais sólidas, independentemente das diferenças ideológicas, mas a postura de Trump ameaça essa dinâmica.
“Não se trata apenas de comércio bilateral”, diz Solange Srour, chefe de macroeconomia do Brasil no UBS Global Wealth Management. “Essas tarifas denotam que nossas relações institucionais estão se deteriorando. Um aumento de 50% pode inviabilizar muitas exportações.”
Após o comunicado, Lula reuniu-se com membros do seu governo — incluindo o ministro da Fazenda Fernando Haddad, o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira e o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também lidera o ministério da indústria e comércio — no Palácio do Planalto, conforme informações de fontes próximas.
A ameaça de Trump surgiu poucos dias depois que ele ameaçou impor tarifas adicionais aos membros do bloco BRICS, acusando-os de “políticas antiamericanas”. Os líderes do BRICS, que estiveram com Lula no Rio de Janeiro recentemente, criticaram tarifas que distorcem o comércio e os ataques militares ao Irã, sinalizando descontentamento com Trump, mas evitando confrontos diretos.
Após um período de silêncio sobre o Brasil, Trump fez questão de defender Bolsonaro, alegando que o país está perseguindo o ex-presidente.
Na carta, Trump reafirma seu requerimento às autoridades para que cessem as acusações contra Bolsonaro por suposta tentativa de golpe, afirmando: “Esse julgamento não deveria acontecer. É uma caça às bruxas que deve acabar imediatamente!”
Lula, por sua vez, desferiu críticas a Trump ao fim da cúpula do BRICS, pedindo que ele cuide de seus próprios assuntos e o rotulando como “irresponsável” por ameaçar tarifas via redes sociais. O presidente brasileiro também instou os líderes globais a encontrarem maneiras de reduzir a dependência do dólar no comércio internacional.
Um porta-voz do Supremo Tribunal Federal, responsável pelo julgamento de Bolsonaro, se absteve de comentar. Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil convocou o principal diplomata dos EUA em Brasília para esclarecer as declarações sobre Bolsonaro.
O Cenário Comercial dos EUA
O caso do Brasil é singular entre os recentes alvos das tarifas de Trump, considerando que o país mantém um déficit comercial com os EUA, enquanto muitos outros na lista de Trump desfrutam de grandes superávits. Em 2024, o Brasil importou aproximadamente US$ 44 bilhões em produtos norte-americanos, enquanto os EUA adquiriram cerca de US$ 42 bilhões do Brasil, conforme dados do Census Bureau.
O Brasil figura entre os 20 maiores parceiros comerciais dos EUA. Dos outros sete países mencionados nos anúncios de Trump, somente as Filipinas, que enviaram US$ 14,1 bilhões em mercadorias aos EUA no ano transato, estão entre os 50 principais.
As importações conjuntas dos outros seis países não ultrapassam US$ 15 bilhões, com o Iraque, um exportador de petróleo bruto, representando cerca da metade desse montante.
Antes de qualquer anúncio, Alckmin havia destacado o superávit comercial como argumento contra o aumento das tarifas, alegando que isso seria injusto e prejudicial à economia americana.
Com a manada de gado nos EUA em seu menor nível desde a década de 1950, os frigoríficos dependem de mais suprimentos de países como o Brasil. Em 2024, aproximadamente US$ 1,4 bilhão em carne bovina foi importado dos EUA, com os números para os primeiros cinco meses de 2025 já superando os do mesmo período anterior.
E, embora Brasil e EUA competem em certos mercados agrícolas, o país sul-americano também é um grande produtor de produtos tropicais como café e cacau, cultivos inexistentes nos EUA continentais.
Os EUA importaram cerca de US$ 2 bilhões em café do Brasil no último ano, conforme o relatório do Departamento de Agricultura dos EUA.

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