Um detalhe pouco discutido sobre a recuperação econômica da Venezuela após seu colapso histórico é a atuação da Chevron (CHVX34), a gigante petrolífera americana situada a 3.500 quilômetros de distância. Sua influência é inegável.
Com sede em Houston e uma licença especial dos EUA para operar em solo venezuelano, a Chevron tem impulsionado a produção de petróleo bruto da Venezuela para mais de 1 milhão de barris diários—um marco significativo para um país que depende do petróleo como oxigênio.
Agora, Donald Trump visa utilizar essa presença da Chevron como moeda de troca em suas negociações com o regime de Maduro.
Com a licença de 2022, a Chevron elevou as exportações venezuelanas a seus níveis mais altos em sete anos, tornando-se uma ferramenta essencial para Trump em sua busca por uma agenda em Caracas. Opondo-se à crescente migração irregular para os EUA, uma suspensão dessa licença cortaria o oxigênio financeiro para uma economia que, embora em recuperação, ainda carece de estabilidade — e devolveria o controle do petróleo ao regime de Maduro.
A Chevron está presente na Venezuela há mais de um século, mas sua influência recente é incomparável. À medida que a estatal PDVSA se deteriora em meio à falta crônica de investimentos, a Chevron – com sua expertise técnica e capacidade de gerar receitas – tem sido a única responsável pelo crescimento na produção de petróleo.
Além disso, após anos de políticas desastrosas sob Maduro, a produção da Chevron representa uma porção considerável de uma economia já encolhida. Com a colaboração da Petróleos de Venezuela SA (PDVSA), a Chevron contribuiu com aproximadamente US$ 4 bilhões em impostos nos últimos dois anos, o que representa cerca de um quarto da receita do regime, de acordo com a consultoria Ecoanalítica.
“A atividade da Chevron é fundamental para a estabilidade macroeconômica da Venezuela”, afirmou Asdrúbal Oliveros, diretor da Ecoanalítica. “Ela criou empregos, novos contratos e uma injeção de dólares no mercado local.”
A receita em dólares gerada pela Chevron e reinvestida na economia local, por meio de bancos privados, está alimentando uma recuperação que tem trazido à tona lojas de luxo e redes de varejo em algumas regiões, mesmo diante do empobrecimento generalizado da população.
Entretanto, essa recuperação não inclui eleições livres e justas, um objetivo que o ex-presidente Joe Biden acreditou que poderia promover ao amolecer as sanções de Trump.
No entanto, Trump adotou uma nova abordagem em relação a Maduro. Após o envio de um assessor especial para Caracas, seis prisioneiros americanos foram liberados, e os voos de deportação foram retomados.
Embora não esteja claro se a Chevron foi tema nas conversas com Maduro, o fato é que sua licença foi automaticamente renovada por mais seis meses, garantindo a continuidade das operações no dia 1º de cada mês.
“A licença é uma alavanca poderosa”, avaliou David Goldwyn, do Atlantic Council. “Chevron não apenas ajuda a economia da Venezuela a não colapsar, mas também minimiza o retorno de migrantes.”
Trump, em um pronunciamento recente, manteve suas opções abertas para o futuro da Chevron, referindo-se às operações da petrolífera como ainda sob revisão, afirmando: “Talvez não.”
A Venezuela atingiu a marca de 1 milhão de barris por dia, um feito notável, considerando que sua produção na metade da década de 1990 era de 3,2 milhões. Estima-se que o setor petrolífero cresça 17% até 2025, com a Chevron como principal motor desse crescimento, segundo a análise da Síntesis Financiera.
“A Chevron tem sido uma presença construtiva na Venezuela”, declarou Bill Turenne, porta-voz da empresa. Todos os negócios, enfatizou, são realizados em conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis. Nenhum comentário foi obtido de PDVSA ou do governo venezuelano.

You must be logged in to post a comment Login