O Citigroup, um dos gigantes de Wall Street, está a todo vapor com uma proposta ousada: montar um acordo revolucionário que, segundo os próprios executivos do banco, poderá financiar a tão necessária reconstrução da Ucrânia. Diante da devastação provocada pelos conflitos com a Rússia, essa iniciativa surge como uma das maiores oportunidades de financiamento da próxima década.
Desde o final do ano passado, o banco tem sondado investidores para uma transação inovadora, que permitirá à NPC Ukrenergo, a operadora estatal da rede elétrica, refinanciar parte de sua dívida sob condições mais favoráveis. O impacto financeiro dessa operação poderia gerar economia significativa, essencial para revitalizar a infraestrutura elétrica da Ucrânia, que tem sido um alvo constante de ataques russos.
A proposta começou a tomar forma logo após a eleição do presidente dos EUA, Donald Trump, em novembro. Na época, havia grandes expectativas de que Trump atenderia às promessas de campanha para aliviar rapidamente a guerra da Rússia na Ucrânia. No entanto, segundo fontes anônimas, o entusiasmo do mercado tem sido volátil devido ao panorama em constante transformação no país.
É bem verdade que, apesar das tentativas de Trump em dialogar com o presidente russo, Vladimir Putin, e encerrar o conflito, os ataques da Rússia não só continuaram como se intensificaram. A próxima conversa entre Trump e Putin nesta sexta-feira deve influenciar o avançar ou não desse acordo.
A ousadia do Citigroup em prosseguir com a proposta em meio a tanta incerteza ressalta o intenso desejo do banco de fazer parte da reconstrução da Ucrânia, uma tarefa que o Banco Mundial estima custar não menos que US$ 524 bilhões, após três anos de guerra que devastaram a economia e desmantelaram cidades inteiras.
Até o momento, porta-vozes do Citigroup, da Ukrenergo e do Ministério de Energia da Ucrânia se abstiveram de comentar sobre a situação.
A transação, que o Citigroup tem denominado como “troca de dívida por reconstrução”, será uma primeira na história dos bancos de investimento. Além disso, representará a entrada do Citigroup no crescente mercado de swaps de dívida ESG, que outras instituições como JPMorgan Chase e Standard Chartered já exploraram no último ano.
Espera-se que a transação alcance entre US$ 750 milhões e US$ 1 bilhão até maio, de acordo com fontes a par da negociação. O Citigroup, por sua vez, é o único banco de Wall Street que manteve sua presença na Ucrânia desde o início da guerra, com uma base de aproximadamente 500 clientes, incluindo o governo ucraniano. Em entrevista na primavera passada, Julie Monaco, ex-chefe global de banco do setor público do Citigroup, afirmou que a instituição vê “grande potencial” para fazer negócios no país após o fim da guerra.
Sua sucessora, Stephanie von Friedeburg, destacou o interesse em desenvolver um pipeline de chamadas “trocas de dívida por desenvolvimento”, capacitando governos a refinanciar suas dívidas e reinvestir as economias em projetos que propiciem desenvolvimento econômico.
Essa nova estrutura de dívida por reconstrução, proposta pelo Citigroup, é um passo além dos produtos tradicionais de troca de dívida, que costumam focar na conservação ambiental. Von Friedeburg sublinhou que a abordagem é flexível e pode atender a uma variedade de objetivos, desde segurança alimentar e energética até saúde e educação.
O governo ucraniano e várias entidades estatais têm tomado a iniciativa de refinanciar suas dívidas para liberar recursos essenciais na luta contra a Rússia. No ano passado, a Ucrânia reestruturou impressionantes US$ 20,5 bilhões em títulos e ainda precisa renegociar a dívida de US$ 2,6 bilhões relacionada a warrants de crescimento econômico, além de um empréstimo de US$ 700 milhões para a Cargill Financial Services International Inc. A Ukrenergo está atualmente reorganizando a cifra de US$ 825 milhões em títulos, enquanto a companhia ferroviária estatal da Ucrânia também busca consultores para auxiliar na gestão de sua dívida.
Parceria com a DFC
Recentemente, a Citigroup e o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento assinaram uma linha de crédito rotativa de US$ 100 milhões, visando aumentar a circulação da moeda ucraniana para empresas locais. Essa ação segue um acordo semelhante firmado em janeiro deste ano.
Além disso, a Citigroup está colaborando com a Corporação Financeira Internacional para o Desenvolvimento (DFC), uma agência do governo dos EUA, para estabelecer um mercado hipotecário no país.
Trump demonstrou interesse em utilizar a DFC, que ele criou durante sua presidência, como uma ferramenta para promover interesses americanos no exterior. A DFC está para gerenciar um acordo assinado entre os EUA e a Ucrânia, que disponibiliza acesso privilegiado a novos projetos de investimento para explorar os recursos naturais da Ucrânia.
Caso a Citigroup avance com a proposta da troca de dívida, a DFC deverá estar envolvida no acordo, conforme confirmado por fontes bem informadas. A agência já participou de acordos semelhantes em países como Belize, Equador, El Salvador e Gabão, oferecendo garantias contra riscos políticos para tornar as transações mais atraentes para investidores.
Um porta-voz da DFC, porém, optou por não comentar.

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