O Citigroup está tomando a dianteira em um plano ambicioso que promete não apenas financiar a reconstrução da Ucrânia, mas também colocar o banco em uma posição privilegiada em um dos maiores mercados de financiamento do futuro.
Desde o encerramento do ano passado, a instituição vem sondando investidores sobre uma transação que, segundo fontes, permitiria à operadora estatal da rede elétrica, NPC Ukrenergo, refinar sua dívida sob condições mais vantajosas. A economia gerada poderia ser diretamente destinada à reconstrução da malha elétrica do país, severamente danificada pelos ataques russos.
A proposta começou a ser elaborada logo após a eleição de Donald Trump, quando havia esperanças elevadas de que ele cumprisse suas promessas de campanha para resolver rapidamente o conflito com a Rússia. Contudo, o interesse no projeto tem sido misto, uma vez que a situação na Ucrânia permanece volátil. Apesar dos esforços de Trump, a Rússia não só continuou seus ataques como os intensificou.
As conversas entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin, que ocorrerão na próxima sexta-feira, podem ter um impacto significativo nos desdobramentos desse acordo, segundo as mesmas fontes.
A perseverança do Citigroup em levar essa proposta adiante em meio à incerteza é uma clara demonstração do comprometimento do banco com a recuperação da Ucrânia, que o Banco Mundial estima custar cerca de US$ 524 bilhões após anos de conflito que devastaram a economia e destruíram cidades inteiras.
Além disso, a proposta, denominada pela Citigroup de “swap de dívida por reconstrução”, representaria a primeira operação desse tipo organizada por um banco de investimento. Ela também marca a entrada da Citigroup no mercado de swaps de dívida voltados para ESG, um campo já explorado por grandes instituições como JPMorgan Chase e Standard Chartered no ano passado.
Espera-se que a transação fique na faixa de US$ 750 milhões a US$ 1 bilhão, indicaram fontes. O Citigroup se destaca como o único banco de Wall Street que permaneceu na Ucrânia desde o início da guerra, mantendo uma base de aproximadamente 500 clientes, incluindo o governo ucraniano. Julie Monaco, a então chefe global de banco do setor público da instituição, expressou otimismo sobre as oportunidades que surgirão na Ucrânia quando a guerra chegar ao fim.
Stephanie von Friedeburg, a sucessora de Monaco, reafirmou o interesse da Citigroup em formar um pipeline de swaps de dívida voltados para o desenvolvimento, onde o banco auxiliaria na reestruturação de dívidas e reinvestiria as economias em projetos de crescimento econômico.
Essa nova versão de um produto tradicionalmente utilizado para a conservação, chamada troca de dívida por natureza, é focada em atender a uma ampla gama de objetivos, incluindo segurança alimentar, energética e investimentos em saúde e educação.
Tanto as entidades estatais ucranianas quanto o governo vêm reestruturando suas dívidas para liberar recursos importantes para a luta contra a Rússia. No ano anterior, a Ucrânia reestruturou US$ 20,5 bilhões em títulos e ainda precisa renegociar US$ 2,6 bilhões em warrants ligados a crescimento econômico, além de um empréstimo de US$ 700 milhões com a Cargill Financial Services International Inc. A Ukrenergo está atualmente lidando com a reestruturação de US$ 825 milhões em títulos, enquanto a companhia ferroviária estatal da Ucrânia também está buscando consultores para gerenciar sua dívida.
Colaboração com a DFC
No início deste ano, a Citigroup, em parceria com o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento, assinou uma linha de crédito rotativa de US$ 100 milhões para aumentar a disponibilidade da moeda local para as empresas no país, seguindo a assinatura de uma linha similar em janeiro de 2024.
A Citigroup também está colaborando com a Corporação Financeira Internacional para o Desenvolvimento (DFC), uma agência do governo dos EUA, para desenvolver um mercado hipotecário doméstico na Ucrânia. Trump sinalizou que pretende utilizar a DFC — criada durante seu primeiro mandato — como uma ferramenta para avançar os intereses americanos no exterior. A DFC gerenciará um acordo entre EUA e Ucrânia que concede acesso privilegiado a novos projetos de investimento em recursos naturais na Ucrânia.
Se a troca de dívida da Citigroup avançar, a DFC certamente estará envolvida no acordo, segundo fontes familiarizadas com o processo. A agência já participou de transações semelhantes em países como Belize e Equador, oferecendo garantias contra riscos políticos para tornar os investimentos mais seguros para o setor privado.
Um porta-voz da DFC não se manifestou sobre o assunto.

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