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Economia

China sob pressão: expansão de fundições de cobre pode comprometer o mercado global

O aumento da produção de cobre na China afeta os lucros globais. A situação ameaça o refino mundial, exigindo soluções urgentes para a oferta da commodity.

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As fundições de cobre na China estão sob crescente pressão para controlar uma expansão irresponsável da oferta, que já está afetando a lucratividade do setor e colocando em risco a viabilidade das fábricas ao redor do mundo.

O gigante asiático, sendo o maior consumidor de cobre globalmente, prevê produzir cerca de 50% do volume total da commodity neste ano. Isso é resultado de um frenesi de construção de fundições (smelters) essencial para assegurar o suprimento necessário, especialmente em tempos de transição energética.

A capacidade de produção continua a crescer, mesmo diante da feroz concorrência por matérias-primas escassas, pressionando as margens de lucro em mercados internacionais.

Grant Sporre, especialista em metais e mineração da Bloomberg Intelligence, alerta que os excessos na oferta chinesa estão ameaçando o futuro do refino de cobre em outros países. As operações do Chile até a Europa e Índia podem estar em risco se não houver uma intervenção decisiva.

Apesar dos apelos crescentes para que se reduza a produção e se diminua o fluxo de novas usinas, a China até agora não atendeu a essas solicitações. Se essa expansão desenfreada persistir e forçar cortes em outras partes do mundo, a produção de cobre ficará ainda mais concentrada na China, gerando preocupações legítimas entre os governos ocidentais sobre seu domínio em minerais estratégicos.

As mineradoras estão em uma posição vantajosa nas negociações anuais, pois a capacidade das fundições supera em muito a produção global das minas.

Estima-se que as taxas de refino pagas às fundições poderão cair para US$ 40 por tonelada ou menos no próximo ano, uma diminuição drástica em comparação com os US$ 80 por tonelada pagos em 2024.

Se isso ocorrer, as consequências podem ser devastadoras, considerando que a última queda significativa foi para US$ 43 por tonelada em 2004, segundo dados da consultoria CRU Group.

A demanda global por energias renováveis, veículos elétricos e infraestrutura está projetada para crescer nas próximas décadas, o que deveria estimular investimentos ao longo da cadeia de suprimento de cobre. Porém, vale lembrar que a construção de fundições é uma tarefa consideravelmente mais rápida e barata do que a abertura de novas minas.

A escassez de minério também foi exacerbada pela construção de novas usinas na Índia, que busca diminuir sua dependência de importações, e na Indonésia, onde o governo planeja restringir as exportações de minério que abastecem as fundições na Ásia.

Esse cenário reforça a urgência de impor restrições na China. No início do ano, as taxas de tratamento à vista (spot) passaram por uma queda histórica, chegando a ficar abaixo de zero. No entanto, a pressão do setor para reduzir a produção não teve os resultados esperados até o momento.

Atualmente, a produção de cobre refinado na China já aumentou mais de 5% até este ponto de 2024. No mês passado, a principal associação de metais do país solicitou uma intervenção mais rigorosa do governo para conter a “expansão desenfreada” que caracteriza o setor.

Isso é um reflexo de uma narrativa que se repete em diversos setores chineses, como o aço, energia solar e veículos elétricos, onde a luta contra os efeitos do excesso de capacidade se entrelaça com o desafio de proteger empregos e manter metas de crescimento econômico.

A China ainda é um importador líquido de cobre e não tem enviado grandes volumes para o exterior — diferentemente das indústrias de aço e alumínio, que enfrentam cada vez mais o protecionismo de seus parceiros comerciais. Porém, essa dinâmica pode mudar rapidamente se o país continuar a expandir sua capacidade.

Recentemente, altos executivos das grandes fundições chinesas se reuniram para discutir o cenário desfavorável do mercado, segundo fontes que conversaram com a Bloomberg News. As reuniões, que contaram com a presença de representantes do governo, incluíram debates sobre uma manutenção mais rigorosa dos planos de corte de produção.

No entanto, existe ceticismo. Analistas acreditam que os produtores chineses poderão resistir melhor às dificuldades do que outros, graças à sua vantagem de custos.

A maioria das usinas mais antigas e menos eficientes já foi eliminada do mercado, de acordo com Sporre. Além disso, as grandes fundições de propriedade privada foram afastadas do setor nos últimos anos, deixando o espaço dominado por empresas estatais mais resilientes a pressões financeiras.

“Ninguém deseja ser o primeiro a cortar, mas a escassez de minério se prolongará por anos e será como correr uma maratona”, afirma Zhao Yongcheng, analista da Benchmark Mineral Intelligence. “Sobreviver até o final será um verdadeiro teste de resistência, dado o acesso ao capital e a manutenção das operações”, conclui.

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