A China não ficou parada diante das tarifas comerciais que o presidente Donald Trump impôs. Em uma movimentação estratégica, o governo chinês anunciou novas tarifas sobre produtos americanos, demonstrando que está disposto a retaliar sem exacerbar o conflito.
Na última terça-feira (4), logo após as novas tarifas dos EUA se tornarem realidade, Pequim divulgou uma tarifa de 15% sobre importações de energia dos EUA, totalizando menos de US$ 5 bilhões, além de um imposto moderado de 10% sobre petróleo e equipamentos agrícolas americanas. Em um movimento paralelo, a China iniciou uma investigação antitruste contra o Google, mesmo que os serviços da Alphabet (GOGL34) estejam bloqueados no país desde 2010.
Além do direcionamento às gigantes americanas, as autoridades chinesas colocaram a PVH Corp., proprietária da Calvin Klein, e a Illumina Inc., liderança em sequenciamento genético, como alvos em uma lista de entidades que podem ver suas operações impactadas na China. Adicionalmente, novas restrições foram impostas à exportação de tungstênio e outros metais essenciais para setores como eletrônica e defesa.
Essa resposta de Xi Jinping foi cuidadosamente elaborada, evitando uma ruptura drástica na economia chinesa. Mostra que Pequim tem capacidade de causar danos, afetando a cadeia de suprimentos de minerais críticos e pressionando empresas que dependem do mercado chinês.
A postura moderada com um toque proativo no estímulo à economia resultou em uma reação contida nos mercados financeiros. Trump, por sua vez, sinalizou o desejo de uma conversa com Xi antes que as tarifas chinesas entrem em ação, programadas para 10 de fevereiro. Essa junção de interesses pode abrir espaço para negociações.
Uma Resposta Calculada
“A medida parece ser uma retaliação estratégica”, afirmou Lynn Song, economista-chefe do ING Bank para a Grande China, ressaltando que a área de energia representa uma fração das importações chinesas dos EUA. No entanto, as restrições sobre empresas americanas podem ser interpretadas como um “aviso” importante.
O índice Hang Seng China Enterprises após um início instável viu um crescimento de 3% seguindo as notícias das tarifas e das contramedidas de Pequim.
O yuan offshore minimizou suas perdas, enquanto o dólar encontrou-se em queda. Moedas da Austrália e Nova Zelândia, com laços comerciais robustos com a China, também mostraram recuperação.
Xi tomou uma atitude rápida após a implementação das tarifas dos EUA, frustrando as expectativas de um acordo para evitar a situação. No último fim de semana, Trump concedeu um alívio temporário ao México e ao Canadá, adiando a tarifa de 25% após diálogos com líderes da América do Norte.
Controle sobre Recursos Críticos
As tarifas que a China impôs incluem 10% sobre US$ 9,5 bilhões em produtos americanos, que vai desde petróleo bruto a tratores, e 15% sobre US$ 4,4 bilhões em carvão e gás natural liquefeito.
As restrições à exportação têm potencial de provocar um impacto significativo. É importante lembrar que a China é responsável por cerca de 80% da produção mundial de tungstênio, um metal essencial para a indústria de defesa, em especial para munições perfurantes.
A PVH Corp. já está há meses sob o radar das autoridades chinesas, acusada de boicotar o algodão da região de Xinjiang. A Illumina, sendo uma das líderes em sequenciamento genético, enfrenta concorrência acirrada da chinesa BGI Genomics Co.
Enquanto isso, Trump ampliou as tarifas sobre as exportações chinesas, afirmando que Pequim não fez o suficiente para inibir o tráfico de drogas ilegais para os EUA. As suas ordens incluem clausulas de retaliação que poderiam amplificar ainda mais as tarifas em resposta a uma reação chinesa.
Uma resposta mais agressiva da China poderia escalar as tensões que se mantiveram relativamente estáveis desde o encontro de Xi com o ex-presidente Joe Biden em novembro de 2023.
Xi e Trump, antes da posse de Trump, já tinham debatido sobre comércio, TikTok e a questão do fentanil. Trump declarou na segunda-feira (3) que os dois devem se comunicar novamente em breve, mas Pequim ainda não fez declarações sobre isso.
“O chamado de Trump por um diálogo direto com Xi ilustra que tarifas são uma medida de negociação, não uma mudança fundamental nas relações comerciais entre EUA e China”, afirmou Wen-Ti Sung, do Atlantic Council. “Pequim captou a mensagem, resultando em sua retaliação ser seletiva e estratégica.”
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