No dia 10 de outubro, o preço do café disparou em Nova York, batendo um recorde histórico, enquanto a preocupação com uma crise global de oferta se intensifica. O café se torna uma das commodities mais valorizadas do ano.
A trader Volcafe Ltd. revisou sua previsão de produção no Brasil, o maior fornecedor mundial, após uma análise de campo que expôs os danos de uma longa seca. Para a safra de arábica, a variedade premium preferida para cafés especiais, as estimativas caíram para 34,4 milhões de sacas — uma perda de 11 milhões em relação ao que foi previsto em setembro, conforme documento obtido pela Bloomberg News.
Com essa crise, a previsão é que a produção global de café fique 8,5 milhões de sacas abaixo da demanda na temporada de 2025-26, marcando o quinto ano consecutivo de déficit — um cenário sem precedentes, conforme apontado pela Volcafe.
Os contratos futuros de café arábica já subiram mais de 80% neste ano devido a complicações nas safras de grandes produtores. Nesta terça-feira, houve um aumento de 5,5% nos preços, alcançando o nível mais alto desde 1972, superando o recorde da chamada “Geada Negra” que destruiu plantações brasileiras na década de 70.
Efeito da seca prolongada
As incertezas sobre as futuras safras no Brasil se intensificam devido à atual seca severa. A produção no Vietnã, que é o maior produtor de café robusta, também está ameaçada, com secas durante o crescimento e chuvas torrenciais prejudicando a colheita.
“As preocupações sobre a safra de arábica brasileira para 2025-26 aumentaram esta semana,” afirmou Steve Pollard, analista do Marex Group. “As recentes visitas aos campos mostraram que a produção pode ficar em torno de 30 milhões de sacas, resultando em um novo déficit,” acrescentou.
A elevação dos preços não só impacta os torrefadores, mas representará um aumento nos custos para os consumidores em cafeterias. A Nestlé confirmou que em novembro irá aumentar os preços e diminuir o volume das embalagens para atenuar o impacto do custo elevado do café.
Os contratos futuros de arábica saltaram 4,6%, atingindo US$ 3,4540 por libra-peso às 11h30, superando o recorde estabelecido em 1977, após a devastadora geada de 1975 no Brasil.
“Estamos em uma fase fundamental do mercado de café que deve manter os preços elevados,” disse Viktoria Kuszak, pesquisadora da Sucden Financial.
Consequências na cadeia de produção
O aumento dos preços também reverbera em toda a cadeia produtiva. Com os preços ascendendo, corretores exigem que produtores e exportadores apresentem mais capital como margem de garantia para possíveis perdas, tornando o uso do mercado futuro mais oneroso.
Além disso, alguns traders que venderam contratos futuros se encontram obrigados a recomprá-los para sair do mercado, acentuando ainda mais os preços em um ciclo vicioso.
A recente alta das cotações elevou o índice de força relativa de 14 dias do arábica acima de 70, um sinal de que o mercado pode estar sobrecomprado. Essa movimentação chega acompanhada de oscilações acentuadas, com uma medida de volatilidade de 60 dias alcançando o ponto mais alto desde julho.
Os preços recordes do café contrastam com os custos globais de alimentos, que estão notably abaixo dos níveis históricos registrados no início de 2022, quando a invasão da Ucrânia pela Rússia provocou choques nos mercados. No entanto, commodities “soft” como o café continuam entre os produtos mais valorizados do ano.
Cacau também em ascensão
O cacau, por sua vez, teve um salto significativo, alcançando um recorde em abril em Nova York, devido a colheitas ruins na África Ocidental.
O suco de laranja mantém-se próximo de seu preço histórico, impactado por secas e doenças que afetam as plantações no Brasil, enquanto a produção na Flórida, principal estado produtor dos EUA, também foi afetada por furacões.
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