A BP está se preparando para uma mudança radical em sua estratégia de negócios. A gigante do petróleo, agora sob a liderança do CEO Murray Auchincloss, anunciou que realizará uma revisão abrangente de seu portfólio e estrutura de custos. O objetivo? Garantir que a empresa “possa e vai fazer melhor”.
Os detalhes dessa nova fase foram revelados na terça-feira (5), quando a BP divulgou resultados financeiros que superaram as expectativas dos analistas, impulsionados por um fluxo de caixa robusto e um desempenho comercial sólido, enquanto a dívida líquida continua a ser reduzida. A pressão para implementar um plano de recuperação eficaz aumentou, especialmente após os apelos do investidor ativista Elliott Investment Management, que exige cortes de custos mais agressivos.
Essas mudanças se tornam cruciais em um cenário onde a BP foi criticada por sua falta de direção após uma tentativa frustrada de se redirecionar para as energias renováveis, que resultou em uma queda significativa nas suas ações e levantou rumores sobre uma possível aquisição da empresa. Em fevereiro, Auchincloss já havia traçado uma nova estratégia, voltando o foco para o setor de petróleo e gás, além de prometer a venda de ativos no valor de US$ 20 bilhões até 2027. Contudo, a resposta inicial dos investidores foi morna, e a abordagem foi considerada tímida pelo Elliott.
Auchincloss ressaltou que tem dialogado com o futuro presidente da companhia, Albert Manifold, sobre uma “revisão completa do nosso portfólio de negócios”. O objetivo é maximizar o valor para os acionistas, além de implementar uma nova análise de custos. “A BP pode e vai fazer melhor para seus investidores”, reafirmou o CEO.
Manifold, que possui uma trajetória de sucesso no setor de materiais de construção, é conhecido por reformular portfólios e elevar o valor das ações durante seu mandado. Ele assumirá oficialmente em 1º de setembro, enquanto o atual presidente, Helge Lund, deixará o cargo um mês depois.
No primeiro semestre, a BP reportou uma diminuição de US$ 900 milhões em custos estruturais, totalizando US$ 1,7 bilhão desde o início de 2023. A companhia também concluiu ou anunciou desinvestimentos que somam pelo menos US$ 3 bilhões neste ano, como parte de sua estratégia de redução da dívida e foco no core business.
“Estamos determinados a aumentar a eficiência de custos ao máximo”, declarou Auchincloss em entrevista à Bloomberg Television. “Tivemos um bom começo, mas estamos apenas no início de um longo trimestre; ainda há muito por fazer.”
Com um lucro líquido ajustado de US$ 2,35 bilhões no segundo trimestre, os números superaram a previsão média dos analistas, que era de US$ 1,76 bilhão. As ações da BP aumentaram 3,1% às 15h em Londres, mesmo com a queda dos preços do petróleo, e se valorizaram consistentemente nos últimos meses, embora ainda estejam cerca de 14% abaixo de duas anos atrás.
Como observa Kim Fustier, analista do HSBC, “a ênfase da BP na operação eficaz de seus ativos e na redução de custos parece estar gerando resultados positivos. A diminuição da dívida líquida é um ponto forte, pois resulta de um fluxo de caixa saudável, não de manobras de capital de giro ou receitas de desinvestimentos.”
Retorno aos acionistas
A dívida líquida da BP caiu cerca de US$ 1 bilhão, situando-se em US$ 26 bilhões no final de junho. A empresa manteve seu programa de recompra de ações trimestral em US$ 750 milhões e aumentou o dividendo em 4%.
Os desinvestimentos são considerados essenciais para a reformulação da BP, que já avançou em uma série de pequenas vendas. A expectativa é levantar até US$ 4 bilhões ainda este ano, apesar de a unidade de lubrificantes Castrol ainda não ter sido vendida, o que é crucial para o plano de vendas de ativos.
Algumas grandes empresas de energia e investidores financeiros se retiraram das negociações pela Castrol, o que gerou uma queda nas expectativas de avaliação, conforme revelado por fontes a par do assunto no mês passado.
Entretanto, Auchincloss mencionou que há “forte interesse” na Castrol e que o processo está avançando com rapidez.
O analista da RBC Europe, Biraj Borkhataria, sugeriu que a revisão recém-anunciada pode levar ao adiamento da venda da Castrol, permitindo ao novo presidente fazer uma avaliação mais cuidadosa do capital.
Descoberta no Brasil
A BP também revelou novos projetos e descobertas de petróleo e gás globalmente para demonstrar crescimento na produção. Na última segunda-feira, a empresa anunciou sua maior descoberta em 25 anos nas águas brasileiras, juntamente com a operação de um novo projeto no Golfo do México.
Apesar do crescimento na produção de petróleo, condensados e líquidos de gás natural, especialmente do xisto nos EUA, Auchincloss alertou que a BP espera uma produção geral ligeiramente menor para o terceiro trimestre e volumes anuais abaixo do que se projetava para 2024. A empresa planeja investir cerca de US$ 10 bilhões anualmente em seus negócios de combustíveis fósseis até 2027.
Por fim, a BP foi a última das cinco grandes petroleiras a divulgar resultados. Shell, Exxon Mobil e Chevron superaram as expectativas, enquanto a TotalEnergies ficou aquém das previsões. A Saudi Aramco, por sua vez, reportou uma nova queda nos lucros, devido à redução nos preços do petróleo.
O segundo trimestre se caracterizou por uma grande volatilidade no mercado de petróleo, afetado por fatores como as tensões comerciais dos EUA, as mudanças nas políticas da OPEP+ e os conflitos no Oriente Médio. O preço do Brent caiu cerca de 9% nesse período, situando-se agora próximo de US$ 70 por barril — o patamar utilizado pela BP para modelar suas metas financeiras.
Além disso, a empresa enfrenta crescentes especulações sobre uma possível aquisição, em razão de seu desempenho inferior, embora a Shell tenha afirmado que não tem interesse em fazer uma oferta pela concorrente.

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