A Boeing acaba de alcançar um acordo preliminar com o Departamento de Justiça dos EUA, o que poderá livrar a fabricante de enfrentar acusações criminais após as trágicas quedas de seus jatos 737 Max, que ocorreram há mais de seis anos. Este desfecho intrigante se dá em um momento crítico, a poucas semanas do início de um aguardado julgamento, marcado para 23 de junho em Fort Worth, Texas.
Conforme revelaram os advogados do Departamento de Justiça, o acordo exige que a Boeing pague mais de US$ 1,1 bilhão e implemente rigorosas medidas de qualidade e segurança. Essa reviravolta impressionante se dá em um caso que já se arrasta há anos. No ano passado, a Boeing concordou em admitir culpabilidade por conspiração criminosa, mas esse entendimento foi bloqueado pelo juiz Reed O’Connor, responsável pelo caso desde 2021.
O novo entendimento precisa ainda da aprovação de O’Connor, apesar da resistência de algumas famílias das vítimas. O governo indica que um acordo definitivo será apresentado até o final da próxima semana, e uma visão geral dos termos foi divulgada, destacando uma multa de US$ 243,6 milhões e uma exigência para que o conselho de diretores da Boeing se reúna com os familiares dos falecidos nas quedas.
O acordo provisiona também que a Boeing contribua com US$ 444,5 milhões para um fundo destinado às famílias das vítimas do voo Lion Air 610, em outubro de 2018, e do Ethiopian Airlines 302, em março de 2019. Além disso, a Boeing deverá investir US$ 455 milhões para fortalecer os seus programas de conformidade, segurança e qualidade, de acordo com os documentos apresentados.
Os promotores afirmaram: “Aplicando os fatos, a lei e a política do Departamento, estamos certos de que essa resolução se traduz no resultado mais justo, com benefícios práticos.” Eles sublinharam a importância da conversa com os parentes das vítimas ao longo do processo.
Oposição das famílias
Algumas famílias se opuseram veementemente a qualquer acordo que pudesse permitir à Boeing evitar acusações criminais. Elas têm lutado incessantemente por punições mais rigorosas para a empresa, uma vez que ambas as tragédias estavam ligadas a falhas em um sistema de controle de voo. O resultado foi a morte de 346 pessoas. O único funcionário da Boeing que enfrentou julgamento foi um gerente de nível médio, responsável pelos manuais de piloto e materiais de treinamento, e ele foi absolvido.
A Boeing não se manifestou imediatamente sobre o acordo. As suas ações caíram menos de 1% às 14h43 em Nova York. Este caso possui múltiplas reviravoltas e precedentes; em 2021, a Boeing havia concordado em um acordo com o Departamento de Justiça para adiar as acusações sobre alegações de que enganou reguladores sobre o sistema, resultando em uma multa de US$ 243,6 milhões. Recentemente, um incidente envolvendo um plugue do tamanho de uma porta que explodiu de um 737 Max em voo no início de 2024 desencadeou novas investigações e revelações sobre a laxidade nos controles de produção da Boeing.
O governo alegou que a Boeing violou o acordo de 2021 e recomendou uma acusação criminal. Em resposta, a Boeing concordou em admitir culpa, pagar uma multa e instituir um monitor corporativo independente, além de gastar um mínimo de US$ 455 milhões para aprimorar suas diretrizes de segurança.
Entretanto, essa proposta foi rejeitada em dezembro por O’Connor, que expressou preocupações sobre o papel de fiscalização da corte e a influência das políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI) na seleção do monitor.
Embora a decisão sobre o julgamento tenha sido inesperada, ela se deu um dia após a publicação de uma reportagem que expôs as tentativas da Boeing de buscar clemência do Departamento de Justiça e evitar acusações criminais. O acordo original foi negociado durante a administração Biden, que considerava padrão incluir diretrizes DEI. Desde a posse de Donald Trump em 20 de janeiro, houve uma onda de desmantelamento desses programas de diversidade no governo federal.

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