Nos bastidores da Praça de São Pedro, no Vaticano, um novo capítulo se inicia. Jean-Baptiste Douville de Franssu e Gian Franco Mammì estão à frente de uma gestão assertiva que supervisiona impressionantes € 5,7 bilhões (R$ 36 bilhões) em um dos bancos mais exclusivos do mundo.
Embora esta quantia possa parecer modesta frente aos trilhões que circulam nas capitais financeiras globais, o Instituto para as Obras de Religião, popularmente conhecido como Banco do Vaticano, está se consolidando como um pilar de força, ajudando a aliviar as crescentes pressões financeiras que a Igreja Católica enfrenta.
O IOR não se limita a serviços bancários tradicionais; ele se tornou um aliado crucial para instituições da Igreja, atraindo novos recursos e elevando seus ativos ao maior nível em uma década. Os resultados falam por si: a instituição desafia as expectativas, mantendo uma performance robusta mesmo dentro dos rigorosos princípios éticos da fé.
“Os mercados financeiros não têm piedade”, reconhece de Franssu, o presidente do IOR. Ele sabe que os olhos estão voltados para a instituição e qualquer falha poderia ter consequências desastrosas.
A boa notícia chegou com o anúncio de um crescimento de 7% nos lucros, que alcançaram € 32,8 milhões em 2024, conforme os dados divulgados. Esses ganhos são vitais, utilizados para pagar dividendos à Igreja, embora ainda não resolvam o déficit orçamentário significativo que vem sendo sentido devido à queda nas doações e custos altos.
Contudo, estes resultados marcam um passo importante na busca por reabilitar a imagem do banco, uma instituição que já foi marcada por escândalos financeiros e falta de transparência. O novo Papa, Leão 14, está determinado a continuar os esforços de seu antecessor, Papa Francisco, para trazer clareza e ética à gestão financeira da maior religião do mundo.
Desde a chegada de de Franssu em 2014, após décadas de controvérsias, o IOR tem feito movimentos significativos: publicação de relatórios anuais, reestruturação da gestão e implementação de normas financeiras que seguem padrões internacionais – um passo crucial que resultou no fechamento de milhares de contas problemáticas.
Além disso, a instituição diversificou sua equipe com profissionais de grandes bancos como Citigroup e Intesa Sanpaolo. Nos últimos anos, 10 dos 13 fundos de investimento do banco superaram a maioria da concorrência. A esperança é que, sob a nova liderança, novas instituições religiosas nos EUA também se sintam incentivadas a transferir seus recursos para Roma.
“Mostramos que é possível superar benchmarks com investimentos éticos”, afirma Mammì. “Se você quer especular, sugeriria que buscasse em outro lugar.”
Embora o IOR não seja parte do orçamento central da Santa Sé, sua atuação é vital na gestão financeira do Vaticano, atuando em conjunto com a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica. Para este ano, o conselho do IOR propôs um dividendo de € 13,8 milhões à Comissão de Cardeais, que destinadas a atividades religiosas e caritativas.
Apesar do foco em reestruturação, os dividendos têm sido menores do que os registrados antes de 2014, refletindo o esforço do banco em um controle financeiro mais rigoroso. Informações divulgadas indicam que, segundo o jornal italiano Repubblica, a Santa Sé enfrenta um déficit de cerca de € 70 milhões (R$ 445 milhões) em suas contas de 2024.
“Nossa função como gestores é investir, obter lucro e distribuir dividendos”, conclui Mammì. “A responsabilidade de redirecionar esses recursos recai sobre os cardeais.”

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