A Saudi Aramco reportou uma desastrosa queda em seu lucro, marcando o 10º trimestre consecutivo em que os resultados financeiros são negativos. Os preços do petróleo, em sua lenta espiral para baixo, superaram qualquer impacto positivo de um leve aumento na produção, deixando a empresa em uma situação financeira precária.
O lucro líquido atribuído aos acionistas caiu 19%, totalizando apenas 85,63 bilhões de riais (US$ 22,8 bilhões) no último trimestre – um valor que não apenas representa uma queda, mas sim um mínimo histórico em quatro anos. Essas cifras alarmantes estão bem abaixo das estimativas feitas pelos analistas da Bloomberg. O fluxo de caixa livre, que deveria garantir dividends robustos, também não foi suficiente, resultando em um aumento preocupante da dívida.
Esses números são apenas o reflexo de uma pressão financeira crescente que assola a Aramco. No início do ano, a gigante dos combustíveis já havia planejado cortar seu dividendo em um terço até 2025, reduzindo o montante para cerca de US$ 85 bilhões, enquanto se esforça para gerar caixa suficiente. Esta realidade é ainda mais preocupante, considerando os planos audaciosos do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman para transformar a economia saudita.
Os preços do petróleo em Londres estiveram, em média, quase US$ 20 por barril mais baixos em comparação ao mesmo período do ano passado. Na última terça-feira, o Brent estava cotado perto de US$ 68 por barril, muito abaixo dos US$ 90 necessários para equilibrar o orçamento do governo saudita, segundo o Fundo Monetário Internacional.
O dividendo total da empresa para o trimestre atingiu US$ 21,36 bilhões, que se manteve quase estável em relação ao primeiro trimestre, mas claramente inferior aos US$ 31 bilhões pagos no mesmo período do ano anterior. Essa redução drástica é consequência da decisão da Aramco em diminuir a parte do pagamento atrelada ao desempenho após a distribuição dos lucros excepcionais de 2022.
O fluxo de caixa livre — representando o capital restante após deduzir investimentos e despesas — apresentou uma queda de 20%, totalizando apenas US$ 15,2 bilhões no segundo trimestre, valor insuficiente para atender aos dividendos. A dívida líquida aumentou para US$ 30,8 bilhões, subindo de US$ 24,7 bilhões no fim do primeiro trimestre.
Esse aumento na dívida elevou a relação entre dívida e patrimônio para 6,5%, uma leve elevação em comparação aos 5,3% reportados três meses antes. Apesar disso, esse número ainda se mostra baixo em comparação às grandes petrolíferas ocidentais, como a Shell Plc, com uma relação de 19%.
O CFO da Aramco, Ziad Al-Murshed, afirmou que a empresa continuará presente nos mercados de dívida, explorando novos instrumentos financeiros como papel comercial e emissões em diversas moedas, tentando assim atrair diferentes perfis de investidores.
“A dependência da dívida para garantir o pagamento dos dividendos gera preocupações,” destacou Allen Good, analista da Morningstar, que mantém sua recomendação de manutenção para a ação. “A dívida ainda é bastante baixa e eles poderiam aumentar a alavancagem ou reduzir o capex para sustentar os dividendos em tempos de preços do petróleo em queda. Portanto, o risco de um corte no dividendo base é bem reduzido.”
A Aramco, por sua vez, manteve suas metas de investimento de capital entre US$ 52 bilhões e US$ 58 bilhões para este ano. A empresa também está buscando investidores para vender ativos de infraestrutura, assim liberando capital para outras iniciativas, conforme relatou Al-Murshed.
No último trimestre, a Aramco reportou um lucro líquido ajustado de US$ 24,5 bilhões, uma diminuição de 14% em relação ao ano anterior. Este foi um marco para a empresa, que pela primeira vez divulgou resultados com essa nova base, que exclui itens únicos ou não recorrentes.
Aumento da produção
A empresa tem intensificado sua produção nos últimos meses, alinhada a um plano da OPEP, do qual a Arábia Saudita é líder. Até setembro, o país deverá bombear quase 10 milhões de barris por dia, um aumento significativo em relação aos milhoes produzidos em abril.
Esse aumento da oferta se dá em um contexto de mercados frágeis. O incremento da produção da OPEP+, a desaceleração econômica prevista na China, e a ampliação das ofertas nas Américas podem culminar em um excesso considerável, com a Agência Internacional de Energia projetando um excedente de 2 milhões de barris por dia no quarto trimestre.
Contudo, o CEO da Aramco, Amin Nasser, mantém uma visão otimista, acreditando que a demanda por petróleo continuará crescendo. “Os fundamentos do mercado permanecem robustos e esperamos que a demanda por petróleo na segunda metade de 2025 seja mais de 2 milhões de barris por dia superior à da primeira metade,” enfatizou Nasser em comunicado.
As incertezas no mercado de petróleo acarretaram uma queda de 14% das ações da Aramco, que não têm acompanhando o desempenho positivo das grandes companhias petrolíferas ocidentais este ano. Contudo, as ações subiram 0,6% em Riade na última terça-feira (5).
Enquanto isso, a Exxon Mobil e a Chevron, líderes no setor nos EUA, superaram as expectativas dos analistas no segundo trimestre após um aumento significativo na produção. Na Europa, a Shell também conseguiu resultados acima do esperado, enquanto a TotalEnergies não teve o mesmo sucesso.

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