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Aprovação do Empréstimo do FMI à Argentina Gera Controvérsias Internas

Assim como as preocupações sobre o tratamento especial à Argentina, muitas questões financeiras e políticas surgem após a aprovação do empréstimo de US$ 20 bilhões pelo FMI.

Donald Trump e Javier Milei
<p>Donald Trump e Javier Milei (Foto: Bloomberg)</p>

O recente empréstimo colossal do FMI à Argentina – um país com histórico de dívidas, agora sob a liderança de um aliado próximo de Donald Trump – provocou alarmes entre os principais tomadores de decisão do organismo financeiro. Mas, mesmo com sinais de preocupação, a aprovação foi concedida.
Quase metade dos 25 presidentes do conselho executivo do FMI expressou sérias reservas sobre o acordo de US$ 20 bilhões, de acordo com fontes que preferiram não se identificar. Esse empréstimo destina-se a um país que já é, sem dúvida, o maior devedor do Fundo, responsável por mais de um terço de todo o seu financiamento global, e conta com uma parcela extraordinária de US$ 12 bilhões liberada de forma antecipada.
Ao se reunir para discutir a aprovação em Washington, no final de 11 de abril, o resgate já era quase um fato consumado. O governo de Javier Milei, considerado o “presidente favorito” de Trump, havia revelado detalhes do acordo em uma coletiva de imprensa em Buenos Aires poucas horas antes da aprovação oficial pelo conselho.

A permissão para esse anúncio antecipado foi um sinal de que o tratamento à Argentina estava, de fato, diferenciado. O conselho, conforme relatado por fontes próximas, avalizou um acordo que, segundo alguns, foi impulsionado mais por considerações políticas do que por fundamentos econômicos sólidos, levantando preocupações sobre o precedente que isso estabelece.

“O programa para a Argentina foi submetido a uma avaliação rigorosa antes da aprovação pelo conselho”, afirmou Rodrigo Valdes, diretor do Hemisfério Ocidental do FMI, em resposta a perguntas sobre o processo. Ele afirmou, contudo, que o acordo reflete o comprometimento das autoridades argentinas com a estabilização econômica.

‘Ficando Aquém’
Todo esse cenário ocorre em meio à agitação global provocada por Trump, gerando apreensão sobre seus próximos passos. O presidente ordenou uma revisão da participação dos EUA em organismos internacionais, como o FMI – tarefa que deve ser finalizada até agosto – levando os líderes dessas instituições a buscar formas de demonstrar sua importância aos olhos da administração Trump.

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Durante a reunião de primavera desta semana, o Fundo focou em minimizar seu trabalho relacionado às mudanças climáticas, após críticas do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, que alegou que a instituição precisa voltar a desempenhar seu papel central como credor de última instância e evitar desvios de missão.

É inegável que a Argentina sob a liderança de Milei superou expectativas ao implementar políticas defendidas pelo FMI e apresentar resultados. Por exemplo, Milei conseguiu cortar 5% do PIB dos constantes déficits orçamentários do país, além de reduzir a inflação mensal de dois dígitos para menos de 3% em fevereiro, enquanto a taxa de pobreza caiu de 53% para 38%.

Tendo em vista o histórico da Argentina, que inclui dois programas do FMI nos últimos seis anos que falharam, qualquer novo acordo estava sujeito a um escrutínio amplo. No entanto, em 2025, o dinheiro começou a fluir livremente de outros credores baseados em Washington. Poucos minutos após o anúncio do FMI, o Banco Mundial disponibilizou US$ 12 bilhões em ajuda e o Banco Interamericano de Desenvolvimento anunciou um aporte de US$ 10 bilhões. “Desta vez, é diferente”, afirmou a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, em uma coletiva de imprensa no dia 24.

“Agora, há uma determinação em colocar a economia em um caminho sólido”, completou. “O país não está sozinho. Estamos aqui para apoiar.”

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O mesmo é válido para o secretário do Tesouro dos EUA, que voou para a Argentina dias após a aprovação do empréstimo do FMI – uma das raras viagens ao exterior em um período dominado pela guerra comercial global. Em Washington, Bessent reiterou seu apoio ao governo de Milei, tanto em uma audiência privada como em um discurso onde apresentou o programa do FMI como modelo a ser seguido por outros países.

“A Argentina merece o apoio do FMI porque está fazendo progressos reais em direção a metas financeiras. Contudo, nem todos os países recebem essa consideração”, enfatizou Bessent. “O FMI deve exigir que os países implementem reformas econômicas. E, em certos casos, é necessário dizer ‘não’.”

No seio do FMI, alguns membros do conselho se sentiram sem opção quanto à Argentina. Enquanto alguns sugeriram a abstenção, debateram que os custos de se opor à administração e aos EUA seriam altos demais. Para esclarecer, outra fonte indicou que não houve pressão explícita da administração.

‘Contra a Parede’
Georgieva convocou reuniões informais entre presidentes do conselho nas semanas que antecederam a decisão do empréstimo à Argentina. Em 25 de março, foram discutidas várias opções para a parte antecipada, que variavam de US$ 8 bilhões a US$ 15 bilhões. Em um almoço realizado em 2 de abril – ao qual foram convidados somente na véspera – os US$ 12 bilhões foram anunciados, ao lado de detalhes sobre uma nova proposta de regime cambial. Alguns presidentes acreditaram que esse almoço foi uma tentativa da administração para convencê-los a aprovar o empréstimo, apesar de suas reservas.

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Enquanto isso, muitos detalhes continuavam a ser divulgados, aumentando a pressão sobre a decisão do conselho, que já era esperada pelo mercado. No dia 21 de março, a Bloomberg adiantou que o montante em consideração era de US$ 20 bilhões. O ministro da Economia, Luis Caputo, revelou o valor em 27 de março, mencionando que dependia da aprovação do conselho, e o FMI confirmou isso um dia depois. Em 30 de março, Caputo anunciou que a Argentina havia solicitado mais de 40% do programa antecipadamente. Georgieva, entrevistada pela Reuters, considerou essa solicitação razoável. O FMI acabou oferecendo 60%.

Na Argentina, à medida que a decisão do conselho se aproximava – e mesmo com os números robustos da gestão Milei – uma nova onda de volatilidade nos mercados estava surgindo. Os investidores estavam inseguros se um acordo com o FMI geraria uma desvalorização da moeda, e o peso no mercado negro caiu drasticamente. A implementação de um afrouxamento dos controles cambiais sob o novo plano do FMI ocorreu de forma relativamente tranquila.

“Agora tudo parece bem, mas se o programa não tivesse sido aprovado três semanas atrás, a economia estaria em um cenário crítico”, afirmou Eduardo Levy Yeyati, economista-chefe da Adcap Grupo Financeiro, uma corretora de Buenos Aires. “É claro que houve apoio dos EUA. Mas, no contexto global, o conselho talvez tenha perdido a oportunidade de dar um passo mais firme em relação à Argentina, considerandos os avanços fiscais que o país fez.”

A postura dos EUA em relação ao empréstimo à Argentina representa uma mudança significativa. O país vinha consistentemente se abstendo de apoiar outras decisões, referindo-se a razões processuais ligadas a quadros de pessoal, conforme apontado por diversas fontes. O cargo de subsecretário para assuntos internacionais, que geralmente lida com questões do FMI, está entre os muitos ainda vagos no Tesouro de Bessent. Contudo, naquela mesma noite, o oficial temporário do Tesouro, Shannon Ding, reiterou seu apoio ao programa da Argentina.

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‘Credor Júnior’
A preocupação central levantada pelos presidentes foi a exposição excessiva do Fundo em relação à Argentina, especialmente considerando a alta quantia antecipada. O país já deve ao FMI um total de US$ 41 bilhões, com pagamentos do principal programados para começar apenas em meados de 2026.

Essa dívida surgiu após um empréstimo durante o primeiro mandato de Trump, concedido a outro governo argentino pró-mercado, desta vez liderado por um amigo da família Trump, que se tornou o maior histórico do Fundo. O que se seguiu foi um desastre contínuo, com inflação disparando, o peso afundando, fuga de capitais, recessão econômica, o que resultou na queda do governo.

Entre as maiores preocupações nos empréstimos do FMI desde então está a possibilidade de que os fundos oferecidos sejam desperdiçados em tentativas de defesa da moeda. Bessent minimizou esse risco, explicando que a nova linha de crédito disponível para a Argentina diminui a necessidade de intervenções no mercado.

Outras questões levantadas pelos membros do conselho incluem a falta de apoio político interno para o programa – já que Milei atuou de forma unilateral em vez de garantir maioria no congresso – a urgência para sua aprovação e as condições insatisfatórias diante da magnitude do empréstimo.

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Há riscos significativos para o credor ao disponibilizar quantias substanciais antecipadamente, especialmente em um programa que essencialmente serve para refinanciar dívidas existentes, apontou Brad Setser, ex-alto funcionário do Tesouro dos EUA.

“O Fundo está aumentando sua exposição em um momento em que o peso está claramente sobrevalorizado e o país está pagando seus títulos”, disse ele. “Isso sugere que o FMI se posiciona como o que podemos chamar de ‘credor júnior’.”

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