O Super Bowl, tradição que começou em 1967 com Al Hirt, um trompetista de jazz, dá um salto quântico com a apresentação de Kendrick Lamar, o rapper mais influente do planeta. Essa transformação do espetáculo é um testemunho do quanto o futebol americano se entrelaçou com o entretenimento, mas o caminho até aqui foi recheado de altos e baixos.
No final da década de 2010, a NFL percebeu que o show do intervalo precisava de uma reviravolta. Artistas como Pink e Cardi B estavam se recusando a se apresentar, pois a liga, embora ainda popular, se tornava menos atrativa para o público jovem, especialmente depois que Colin Kaepernick iniciou protestos contra injustiças sociais, e a resposta da NFL foi vista como insuficiente.
Foi então que a NFL decidiu formar uma parceria com a Roc Nation, a empresa de entretenimento fundada por Jay-Z, para trazer revitalização ao show do intervalo do evento esportivo mais assistido do país. A primeira apresentação da Roc Nation em 2020 foi um verdadeiro sucesso quando Shakira, Jennifer Lopez e Bad Bunny iluminaram o palco em Miami, em contraste com a apatia gerada pelo Maroon 5 no ano anterior.
Artistas como The Weeknd, Eminem, Rihanna e Usher seguiram o exemplo e ajudaram a reconstruir o show, trazendo de volta os telespectadores jovens. O Super Bowl deste ano, marcado para o dia 9 em Nova Orleans, tem tudo para superar as expectativas devido aos feitos recentes de Lamar. O rapper não apenas dominou o Grammy, mas também está em meio a controvérsias, inclusive uma rivalidade com Drake.
Embora a parceria entre a NFL e a Roc Nation tenha sido frutífera até agora, o futuro desse relacionamento ainda é uma incógnita. Roger Goodell, comissário da NFL, afirmou que a colaboração continuará, mas os detalhes sobre a duração do contrato permanecem obscuros. Relatórios anteriores sugeriam um acordo de cinco anos avaliando em US$ 25 milhões que já teria expirado.
Vale ressaltar que a NFL mantém sua força. As franquias continuam a valorizar, a audiência na TV é estável, ao contrário de ligas como a NBA, que enfrentam dificuldades com o público migrando para o streaming. Manterse relevante e na cultura pop é essencial para a liga.
O toque de Jay-Z não passa despercebido. Com múltiplos Emmys em sua prateleira, ele gera a expectativa em torno de quem será o próximo artista a se apresentar. As especulações já incluem Taylor Swift e Miley Cyrus, com a primeira já atraindo audiência com seus fãs ao acompanhar seu namorado, Travis Kelce, astro do Kansas City Chiefs, em campo.
Desiree Perez, CEO da Roc Nation, destaca que a confiança de Goodell na empresa traz a certeza de que apresentações acertadas serão fornecidas.
A figura de Donald Trump pode influenciar os rumos que a NFL toma daqui para frente. O ex-presidente sempre teve um papel ativo nas discussões esportivas, e suas críticas a jogadores que se ajoelhavam durante o hino em protesto contra a brutalidade policial geraram polêmica e divisão. A popularidade da liga sofreu um golpe severo, afetando tanto defensores quanto críticos no eleitorado.
Historicamente, a NFL já viu seus altos e baixos em termos de popularidade, em um declínio que só começou a se reverter nesta temporada.
Reconhecendo a necessidade de adaptação, Goodell encontrou-se com Jay-Z, culminando em um acordo anunciado em agosto de 2019, após uma performance do Maroon 5 que foi amplamente desaprovada.

Em uma conferência na época, Jay-Z criticou o método antiquado da NFL para selecionar artistas, afirmando que era insustentável. Ele argumentou que tal abordagem resultava em descontentamento para muitos dos artistas, pois as verdadeiras superstars eram limitadas.
A entrada da Roc Nation revitalizou o intervalo do Super Bowl, expandindo a audiência em relação a anos anteriores, especialmente após as vozes da NFL clamarem por mudança em decorrência do assassinato de George Floyd. A liga respondeu a esses pedidos e se comprometeu com doações substanciais para combater o racismo.
Dasha Smith, executiva da NFL, ressalta o impacto substancial dessa parceria em moldar a narrativa da liga.
Vamos lembrar que, inicialmente, a NFL contratava artistas da Broadway e bandas universitárias, mas com a era das superstars iniciada por Michael Jackson em 1993, o show evoluiu rapidamente, apresentando nomes como U2, Prince, Beyoncé e Lady Gaga.
Entretanto, houve também desastres como as performances do Black Eyed Peas e do Maroon 5, além da infame falha de figurino com Janet Jackson em 2004 que resultou em um “afunilamento” na escolha de artistas, priorizando nomes reconhecíveis.
Este ano, no entanto, a expectativa é palpável. Kendrick Lamar, envolvido na maior batalha de rap dos últimos tempos com Drake, fará sua estreia solo no Super Bowl como rapper. Ele afirma:
‘Esta é uma verdadeira forma de arte, e poder representá-la neste palco é tudo pelo que trabalhei.’
A expectativa é se ele tocará sua faixa provocativa “Not Like Us” em relação a Drake. Perez, da Roc Nation, porém, afirma não ter medo desse momento.
‘As pessoas precisam sentir que devem sintonizar’, afirma Samantha Sheppard, da Universidade Cornell, ressaltando a astúcia de Jay-Z em tornar esta apresentação relevante e significativa.

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