Os mercados financeiros europeus estão experimentando uma revolução, despertando de um longo período de letargia. O impacto das medidas de Donald Trump na política de comércio e segurança global está minando a hegemonia dos Estados Unidos, uma realidade consagrada por décadas. Agora, observa-se um cenário inédito: o Velho Continente está superando a América em diversas esferas. O euro, por exemplo, atinge seus níveis mais altos em três anos, enquanto os títulos alemães ultrapassaram os Treasuries na maior margem já registrada.
O contraste em relação a apenas seis meses atrás é impressionante. Naquele período, os mercados europeus pareciam condenados a viver na sombra do excepcionalismo americano, alimentado pela retórica de Trump. O atual cenário é bem diferente, e a reflexão de Catherine Braganza, da Insight Investment, resume bem a mudança: “A Europa, que era vista como um museu, agora ganhou vida”.
Diversos fatores impulsionam essa mudança. A instabilidade nas tarifas impostas pelo presidente dos EUA e a nova política fiscal colocam em xeque a noção de que os Treasuries e o dólar continuarão a ser considerados refúgios seguros. A Alemanha, por sua vez, prometeu injetar centenas de bilhões de euros em defesa e infraestrutura, uma resposta clara à nova dinâmica de segurança na Europa.
À medida que o tempo avança, a era de dominação americana nos mercados financeiros parece chegar ao fim. Hoje, os investidores buscam novas oportunidades, um reflexo da insatisfação com as políticas de Trump. Gigantes da finança como o Vanguard International e o Goldman Sachs já estão posicionando suas apostas em ativos europeus, prevendo uma valorização do euro e um fortalecimento das ações europeias em detrimento das americanas.
Entretanto, o panorama europeu não é totalmente tranquilo. As tarifas de Trump minaram o entusiasmo inicial após o início dos novos gastos pela Alemanha, uma tentativa clara de revitalizar a economia. Além disso, uma recessão nos EUA poderá arrastar a Europa junto, complicando ainda mais a situação. Contudo, há sinais positivos: a rotação de capital em direção à Europa pode estar apenas começando.
Para os políticos e banqueiros centrais, a derrocada do excepcionalismo americano representa uma oportunidade de ouro para o euro solidificar seu status como moeda de reserva e desafiar a superioridade do dólar.
Recentemente, o dólar atingiu um novo mínimo em seis meses, impulsionado pelas incertezas em relação à política tarifária dos EUA, causando uma fuga de investidores. Por outro lado, os títulos alemães continuam se mostrando como um porto seguro durante a turbulência do mercado. Enquanto o rendimento dos Treasuries norte-americanos disparou, os títulos de 10 anos da Alemanha mantiveram-se estáveis. Essa estabilidade na Alemanha fez com que muitos investidores, como Nicolas Jullien da Candriam, expressassem a preferência por bunds em lugar dos Treasuries.
Além disso, a resposta coesa da União Europeia à pandemia fortaleceu a sua posição, mostrando que a região pode ser mais resistente do que se imaginava. Ao que tudo indica, os mercados europeus estão se tornando um destino cada vez mais atraente para investidores em busca de estabilidade, especialmente em tempos de volatilidade nos EUA.
Pesquisas recentes indicam uma mudança favorável para as ações europeias, que estão atraindo investidores que desejam escapar da oscilação brutal dos mercados americanos. A diferença no valuation também é notável: as ações europeias estão cerca de 30% mais baratas do que as americanas, uma diferença significativa em relação à média dos últimos 20 anos.
A Amundi, a maior gestora de ativos da Europa, está entre as que apostam nas ações europeias, enquanto o diretor de investimentos, Vincent Mortier, observa que este é um momento raro onde a reconfiguração do sistema comercial mundial pode beneficiar a região. “Momentos como esse ocorrem apenas a cada 100 ou 200 anos”, comentou. “A Europa está de volta ao jogo”.

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