As medidas econômicas do presidente Milei resultaram em um peso argentino fortalecido, elevando o custo de um simples jantar fora a níveis exorbitantes. Comparado ao ano passado, o preço médio dobrou, afetando diretamente a indústria de restaurantes que antes eram um aspecto vibrante da vida em Buenos Aires. O sonho de um jantar acessível está se tornando uma memória distante, enquanto a cidade perde sua reputação como um destino acessível e repleto de opções gastronômicas.
Os argentinos, tradicionalmente apaixonados por sua rica cultura culinária, estão sentindo o impacto da nova realidade. Restaurantes que outrora estavam repletos de clientes experimentam uma queda drástica na demanda, com a cada dia mais moradores e turistas evitando sair para jantar. O peso se tornou tão supervalorizado que o famoso Big Mac argentino agora ocupa o triste título de ser o segundo mais caro do mundo, enquanto um simples café chega a custar US$ 3,50, tornando-se o mais caro da América Latina.
Belen Triemstra, uma professora de 43 anos em Buenos Aires, compartilha: “Fiquei muito mais cautelosa ao jantar fora. Um prato que antes custava pouco agora pode facilmente atingir US$ 50. No ano passado, esse valor cobria um jantar para toda a minha família.”
Essas palavras de Triemstra refletem uma nova era sob a administração de Milei, onde a discrepância entre os preços nas prateleiras dos supermercados e os restaurantes nunca foi tão significativa.
Peso fortalecido, preços elevados
Durante anos, a inflação disparada e os controles cambiais forçaram os argentinos a gastar rapidamente seus pesos, já que a moeda evaporava seu valor. Contudo, em 2024, a historia é outra. O peso argentino se depara com uma valorização impressionante, estando entre as cinco moedas que mais se valorizaram globalmente, com um impressionante ganho de mais de 40% frente ao dólar, conforme dados da Bloomberg.
Com a eliminação dos controles de preços que mantinham os alimentos acessíveis, Milei endureceu também as normas no mercado de câmbio, fortalecendo ainda mais o peso. Economistas alertam que o valor atual da moeda já está além do razoável. A eliminação dos subsídios para serviços públicos aumentaram significativamente as contas de energia, gás e água, obrigando os restaurantes a repassar esses custos para os consumidores.
“Estamos cobrando o dobro em comparação ao ano passado”, afirma Gaston Riveira, proprietário da rede de churrascarias La Cabrera. “O turismo estrangeiro, que constituía a maior parte de nossa clientela, caiu 20% desde 2023.”
Enquanto o preço das refeições dobrou em um ano, os custos dos supermercados subiram em 65%, ainda abaixo da inflação oficial. Em janeiro, comer fora tornou-se três vezes mais caro do que fazer compras para casa.
Impacto no setor de restaurantes
Gonzalo de la Vega, proprietário da cervejaria artesanal Club Bonpland, no badalado Palermo Hollywood, presenciou uma escalada nos custos operacionais, com as contas de serviços básicos triplicando após as reformas de Milei.
Apesar de tentar manter seus preços razoáveis e absorver uma parte dos aumentos, ele decidiu fechar seu negócio ao saber que seu aluguel dobro.
“Os clientes já não vêm para jantar, estão apenas tomando um drink. O consumo definitivamente despencou”, lamenta o empreendedor.
Os argentinos, apesar da estabilização da moeda, têm cortado gastos não essenciais, criando um cenário preocupante para o setor. O segmento de bares e restaurantes perdeu mais de 10 mil postos de emprego desde a chegada de Milei ao poder, de acordo com dados do governo.
“Janeiro e fevereiro foram meses absolutamente ruins. Tivemos um declínio de 30% nas vendas em janeiro e 12% em fevereiro, comparado ao ano anterior”, afirma Victor Blanco, sócio das redes Buenos Aires Grill e Puente. “Muitas pessoas deixaram a cidade e viajaram para fora do país, algo que não era comum no passado.”
Em janeiro, os argentinos gastaram mais de US$ 645 milhões em compras no exterior, o maior número desde 2018, de acordo com o Banco Central argentino.
Mais de 2 milhões de argentinos decidiram tirar férias fora do país durante o mês, um número que triplica em relação aos turistas internacionais que visitaram a Argentina, com um aumento de 73% em comparação ao ano anterior.
Fim da era das pechinchas
Aqueles estabelecimentos que anteriormente eram reconhecidos por oferecer refeições de qualidade a preços imbatíveis agora precisam revisar seus menus para se alinhar aos padrões dos preços internacionais.
“Estávamos vivendo uma realidade de preços extremamente baixos, algo insustentável”, conclui Blanco. “Ainda que a carne seja considerada barata em comparação ao mundo, um ajuste tinha que acontecer.”

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